Autores
Ronaldo Machado Junior
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia e doutorando em Genética e Melhoramento – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
ronaldo.juniior@ufv.br
Herika Paula Pessoa
Engenheira Agrônoma, mestre e doutoranda em Fitotecnia – UFV
herika.paula@ufv.br
Fabiana Silva de Souza
fassouza@yahoo.com.br
Carlos Nick
carlos.nick.ufv@gmail.com
Engenheiros agrônomos e professores – UFV
A abóbora é suscetível a diversos patógenos que podem causar prejuízos ao crescimento e desenvolvimento das plantas e, consequentemente, redução da produtividade das lavouras. Dentre as principais doenças fúngicas que acometem a parte aérea das plantas, destaca-se o oídio.
Essa doença é muito comum em cucurbitáceas, ocorrendo frequentemente em espécies cultivadas e silvestres, entre elas a abóbora (Cucurbita spp.), o melão (Cucumis melo L.) e o pepino (Cucumis sativus). Epidemias são mais severas em condições de altas temperaturas e baixa umidade, seja o cultivo realizado no campo ou sob proteção.
O terrível oídio
Dentre as espécies de fungos causadores de oídio que atacam a família das cucurbitáceas, as que ocorrem com maior frequência e que causam maiores danos econômicos são: Podosphaera xanthii, Golovinomyces cichoracearum e Sphaerotheca fuliginea.
Outras espécies de menor importância, como Erysiphe communis, Erysiphe polygoni, Erysiphe polyphaga e Leveillula taurica também são citadas por atacarem as cucurbitáceas. Com exceção do fungo I, que tem como fase assexual o fungo Oidiopsis taurica, a fase assexual dos demais agentes patogênicos corresponde ao gênero Oidium sp. Nessa fase o fungo produz hifas claras e septadas, dando origem ao micélio branco ou cinza, com paredes finas, produzindo conídios hialinos em cadeia, na forma ovalada ou oblonga, que possuem corpos de fibrosina quando imaturos.
Esses patógenos são parasitas obrigatórios de plantas, e para seu crescimento e reprodução a retirada de nutrientes da planta hospedeira é realizada sem matá-la, com a formação de uma estrutura especializada de penetração e absorção de nutrientes chamada de haustórios, formados dentro de células epidérmicas.
Portanto, a observância de plantas hospedeiras entre os cultivos é fundamental para o adequado manejo da doença.
Sintomas
A doença é caracterizada por sintomas de fácil reconhecimento. Inicialmente a colonização pelo patógeno se dá na face inferior das folhas, com posterior disseminação para a face superior na forma de crescimento branco e pulverulento, que correspondente a micélios, conidióforos e conídios do fungo.
Com o avanço da doença podem aparecer pequenos pontos escuros nessa área, que correspondem à estrutura de frutificação do fungo. Outros sintomas, como clorose, manchas ferruginosas e desfolhas, também podem ser observados, mas dependem da reação da cultivar.
Regiões mais afetadas
O oídio é uma das principais doenças das cucurbitáceas e ocorre em praticamente todas as regiões onde essas plantas são cultivadas. Entretanto, as epidemias da doença são mais intensas em condições de altas temperaturas e baixa umidade no campo, ou sob cultivo protegido.
Todas as cucurbitáceas, cultivadas ou silvestres, são suscetíveis. Entretanto, a doença é mais importante nas abóboras, pepino e melão, pois essas plantas são de grande importância econômica.
Causas
O oídio é uma doença de clima fresco e seco, sendo que a combinação de temperaturas entre 20 e 25ºC e baixa umidade relativa as condições que maximizam sua infestação. A disseminação do oídio ocorre principalmente pelo vento, que distribui os conídios a distâncias longas.
Contudo, as gotas de água da chuva e insetos também podem atuar na dispersão do patógeno. Temperaturas acima de 30ºC e o molhamento foliar são condições ambientais desfavoráveis para germinação dos conídios e sua multiplicação no tecido vegetal.
Hospedeiros
O patógeno sobrevive por meio do micélio e de conídios em plantas hospedeiras, voluntárias ou alternativas, e sua disseminação ocorre facilmente pela dispersão dos conídios pelo vento ou até mesmo por respingos de água.
Sua infecção ocorre quando o conídio atinge a folha, o que leva 24 horas desde a germinação, com a formação do tubo germinativo, até a penetração no interior da célula, por meio da formação do haustório. Em média a doença é manifestada sete dias após a infecção.
Culturas prejudicadas
O patógeno causador do oídio é disseminado rapidamente pelo vento, gotas de água e por insetos vetores, como pulgões. Ele pode atingir diversas culturas, sendo as mais comumente afetadas a uva, gramíneas, tomate, abóbora, pepino, melão, caju, feijão, morango, manga, mandioca, amendoim e mamão.
Plantas ornamentais, tais como rosas, zínias, liláses, flox, hortênsia, érica, begônia, ciclame, azaléias, margaridas, crisântemos e ciprestes também são afetadas.
É importante salientar que as espécies de oídio são geralmente específicas, ou seja, cada espécie de oídio infesta uma espécie de planta, com algumas exceções, em que uma mesma espécie do patógeno pode afetar plantas relacionadas.
Assim, a espécie de oídio do tomateiro é diferente da que causa doença na margarida, mas a espécie encontrada na abóbora pode também ser encontrada em morangas e melões (ambas cucurbitáceas).
Prejuízos
O fungo pode estar presente em toda a parte aérea das plantas, todavia, as folhas são os órgãos mais afetados. As perdas em cucurbitáceas ocorrem pela redução da área foliar fotossinteticamente ativa, pela redução do tamanho ou número de frutos ou também pela redução do período produtivo das culturas.
No caso da abóbora, com a desfolha a qualidade dos frutos é prejudicada devido à exposição ao sol e pelo amadurecimento prematuro, resultando em menor acúmulo de sólidos solúveis e sabor menos adocicado.
As perdas no rendimento podem variar de ano para ano e serão maiores quanto mais precocemente ocorrer na cultura. Estas perdas podem chegar a 60%, e tudo depende da cultivar utilizada, das condições ambientais e da agressividade do patógeno.
Controle
Os principais métodos de manejo para o controle do oídio são o emprego de táticas culturais, variedades resistentes, controle químico, biológico e métodos alternativos.
O controle cultural consiste na destruição de folhas, ramos, flores e frutos afetados, mesmo que estes já tenham caído. Ao destruir os esporos, eliminam-se os novos focos da infecção. Realizar fertilizações com regularidade, porém sem excesso, e irrigações, conforme a demanda hídrica da cultura, são práticas essenciais.
Irrigações por aspersão auxiliam no controle da doença, uma vez que os conídios não germinam na presença de filme de água sobre a folha.
Utilizar espaçamento adequado de forma que as plantas se mantenham arejadas e recebendo radiação solar. É preciso um cuidado especial em estufas quentes e úmidas, onde este tipo de doença se espalha e se desenvolve rapidamente.
Entre os métodos de controle, o químico ainda é o mais utilizado. Fungicidas de contato à base de enxofre podem ser eficientes para o controle. Todavia, os sistêmicos, como tebuconazol, tiofanato metílico, azoxistrobina, dentre outros são os mais eficazes.
Apesar da eficiência do controle químico, seu alto custo e seus efeitos adversos à saúde e ao meio ambiente representam desvantagens na sua utilização. No entanto, a busca por formas alternativas de controle, de baixo custo e de menor impacto ambiental e à saúde humana, faz da resistência genética a melhor alternativa para o manejo do oídio das cucurbitáceas. Desta forma, o desenvolvimento de variedades resistentes é altamente desejável.
A utilização de produtos alternativos, como o óleo de neem, extrato de própolis, bicarbonato de potássio, além de compostos extraídos de plantas e extratos de plantas, mostram-se bastante eficientes na prevenção e até mesmo no controle da doença. Além disso, estes elementos são muito mais baratos se comparados com fungicidas comerciais e tem impacto ambiental menor também.
Importante lembrar da importância do acompanhamento de um profissional capacitado e oferecer treinamento para todos os funcionários envolvidos na produção.
Prevenção é sempre melhor
Prevenir o aparecimento da doença é economicamente mais viável que o controle da mesma. Dentre as técnicas de prevenção ao oídio, inclui-se a destruição de restos culturais e manejo adequado da lavoura. Ao destruir os esporos, eliminam-se os novos focos da infecção.
O manejo minucioso da lavoura, o qual inclui nutrição e irrigação adequadas e espaçamento que permitam o arejamento das plantas, proporciona o crescimento de plantas vigorosas e saudáveis e tornam o microclima inadequado para o desenvolvimento do patógeno.
Além disso, a escolha de cultivares resistentes é a prática preventiva mais eficaz, sobretudo em áreas de plantio em que infestações com oídio são recorrentes. Em casos em que a doença já está instalada, o controle da mesma tem sido realizado majoritariamente através de pulverizações com fungicidas.