Autores
Cacilda Márcia Duarte Rios Faria
Doutora e professora adjunta do Departamento de Agronomia da Universidade Estadual do Centro Oeste – Unicentro
criosfaria@hotmail.com
Camila Cristina Basso
Engenheira agrônoma e mestranda em Produção Vegetal – Unicentro
Mayara de Carli
Engenheira agrônoma, mestre em Produção Vegetal e doutoranda em Agronomia – Unicentro
Leandro Alvarenga Santos
Professor do Departamento de Agronomia – Unicentro
Os fungos fitopatogênicos (aqueles que provocam doenças em plantas) habitantes do solo promovem grandes perdas nas culturas de importância econômica, sendo que há uma ampla gama de fungos que prejudicam diferentes culturas, podendo acarretar em severa redução da produtividade, enchimento e na quantidade de grãos nas vagens ou espigas. Os fungos de solo ainda podem produzir as micotoxinas, tóxicas ao homem e aos animais, que reduzem a qualidade e a comercialização de muitos grãos.
As condições que favorecem estes fungos fitopatogênicos são desde temperatura baixa, como 7°C, até 38-40° C, variando com a espécie, e alta umidade, que geralmente está associada ao abafamento, solos compactados até o cultivo sucessivo na área (monocultura), a manutenção de resíduos de cultura no campo impulsionado pelo plantio direto e a ausência de rotação de culturas.
Neste contexto, o uso de agentes de biocontrole pode ser uma alternativa no controle destes fitopatógenos.
Trichoderma
O Trichoderma sp. é um agente de biocontrole que vem sendo utilizado como antagonista de vários fitopatógenos em diferentes culturas e um dos mais pesquisados. Os agentes de controle biológico vêm como uma alternativa às práticas agrícolas atuais.
Este fungo é de grande importância econômica na agricultura, podendo também atuar como promotor de crescimento e indutor de resistência de plantas a doenças. É um micoparasita necrotrófico com diversos mecanismos de ação, como antibiose, hiperparasitismo, competição e incremento no crescimento e desenvolvimento das plantas, aumento da germinação e emergência de sementes.
Pode atuar também como redutor do pH do solo, em virtude da produção de ácidos orgânicos que serão úteis para o metabolismo da planta, favorecendo a absorção de micronutrientes essenciais às plantas, ficando estas mais nutridas.
Há uma ampla gama de espécies de Trichoderma, aproximadamente 328 já descritas, sendo múltiplas consideradas eficientes antagonistas contra inúmeros fitopatógenos. Os mecanismos de ação do fungo podem ocorrer em associação ou não, destacando-se, antibiose, competição e parasitismo.
Atuação
O fungo Trichoderma possui habilidades como a síntese de substâncias antimicóticas, que a campo têm atuado no controle ou inibição das atividades germinativas de patógenos, dentre eles Sclerotinia sclerotiorum, Rhizoctonia solani, Fusarium spp., além de atuar em solos infectados com nematoides do gênero Meloidogyne, por exemplo, estimulando o crescimento das plantas.
Há, também, estudos que indicam que algumas espécies de Trichoderma produzem compostos voláteis que suprimem o crescimento de patógenos de solo, dentre eles Macrophomina phaseolina.
Manejo
Para obter resultados eficazes com o Trichoderma, é importante atentar se ele é efetivo no campo contra diversos fitopatógenos, ter baixo custo de produção envolvendo formulações eficientes e nas doses e épocas de aplicação ideais.
Dentre os resultados observados em trabalhos já realizados é possível observar que a aplicação de Trichoderma incorporada ao solo no momento da semeadura, na formulação líquida, é a que vem repercutindo em resultados concretos e com perspectivas ainda melhores no futuro, sendo usados ainda no tratamento de sementes, bulbos ou pulverizados na parte aérea.
As dosagens mais recomendadas são 2,0 – 3,0 kg/ha ou 1,0 L/ha ou 1,0 L/m² de produtos comerciais disponíveis. O manejo correto, e que contribui para o sucesso do controle à base de Trichoderma, inclui uma rotação de culturas de forma a reduzir os inóculos dos patógenos na área agrícola, além de permitir a cobertura do solo e a redução das erosões e compactação.
Outro detalhe importante é ter conhecimento e/ou histórico da área eficiente, de forma a diagnosticar com agilidade os patógenos presentes na lavoura, e assim iniciar as aplicações de Trichoderma o quanto antes.
Valores
Os produtos à base de Trichoderma podem ser utilizados de diversas maneiras, as quais dependerão da cultura e das doenças que se deseja controlar. O valor do produto é dependente da marca comercial e da formulação, sendo em torno de R$ 50,00 a R$ 100,00/ha/aplicação, contra R$ 150,00/ha, no caso de fungicidas químicos.
Pode ser aplicado por meio de incorporação no sulco de plantio, por pulverização ou rega, e também pode ser utilizado no tratamento de sementes. As aplicações devem ser feitas à tarde ou início da manhã, em condições de alta umidade relativa, para que os esporos sejam conduzidos para baixo da superfície do solo.
Ao adotar a utilização de Trichoderma em determinada área, o fungo necessita se estabelecer e colonizar o solo, de forma a permanecer na área safra a safra. Sendo assim, as aplicações no início devem ser mais expressivas, e posteriormente, com o estabelecimento do fungo na área, faz-se necessário menor quantidade de produto aplicado, ou seja, não será um investimento perdido, uma vez que este se mantém na área, desde que realizado um manejo correto durante a safra.
Viabilidade
Tendo em vista o custo e que o Trichoderma é um agente biocontrolador que traz com ele benefícios como promover crescimento e aumentar a sanidade da planta, decompor a matéria orgânica e também atuar na microflora por meio de competição, colonizando a rizosfera, ele pode certamente auxiliar nas medidas de manejo adotadas pelos produtores e incrementar sua produtividade, a sanidade de sua área, a qualidade dos produtos obtidos e um manejo correto, sustentável e equilibrado.