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Fungos do bem controlam ácaro rajado do morango

Autor

Ronnie Tomaz Pereira
Engenheiro agrônomo e mestrando em Horticultura pela UNESP-FCA,
ronnie@educarpv.com

Foto: Alexandre Moura

O uso de produtos biológicos na agricultura tem se intensificado ano a ano. Dados da Associação Brasileira de Empresas de Controle Biológico (ABCBio) mostram que os produtos biológicos para controle de pragas e doenças teve um crescimento de 78% para 2018 em relação a 2017, quando se observam os valores movimentados.

Ao mesmo tempo, os consumidores têm se preocupado cada vez mais, não apenas com a qualidade estética dos produtos consumidos, mas também com a rastreabilidade dos mesmos, afim de saber se o produtor utiliza técnicas de cultivo sustentáveis, que tragam um alimento seguro do ponto de vista da sanidade, valorizando produtos certificados, seja no sistema orgânico, seja no sistema integrado, ou ainda no sistema convencional que respeite a cartilha das boas práticas agrícolas.

Essa mudança em relação às exigências do consumidor culminou na recente Instrução Normativa Conjunta nº 02/2018, da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que regula os procedimentos para aplicação da rastreabilidade ao longo da cadeia de produtos vegetais frescos voltados para a alimentação humana, com a finalidade de monitoramento e controle dos resíduos de agrotóxicos.

Estudos

Frente a esse cenário, muitos são os estudos desenvolvidos visando o uso de agentes de controle biológico, já que geralmente apresentam toxicidade baixa ou nula em relação ao ambiente e ao homem.

Um agente de controle biológico é definido como qualquer organismo que desempenhe controle sobre os insetos-praga. Dentre eles podemos destacar os insetos predadores, que atuam de forma a competir com o inseto-praga, predando-o, e os entomopatógenos, ou “microrganismos do bem”, que são seres capazes de provocar danos aos insetos-praga. Esses microrganismos podem ser desde bactérias até fungos.

Ao contrário do que popularmente se pensa, nem todos os fungos causam doenças às plantas e ao homem. Existem alguns fungos específicos que são benéficos às plantas e maléficos às pragas, os chamados “fungos do bem”.

Para a cultura do morangueiro o uso de agentes como o Neoseiulus californicus, um tipo de ácaro predador, já é bastante conhecido, no entanto, o uso de fungos não estava totalmente definido.

Danos

O ácaro rajado é capaz de causar danos a mais de 200 culturas, sendo praga-chave para a cultura do morangueiro, o uso de fungos pode diminuir a incidência  da praga. Nos últimos anos, estudos vêm sendo conduzidos utilizando os fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae de diferentes formas, com sucesso no controle do ácaro rajado.

 Os conídios, estruturas de propagação desses fungos, germinam na superfície do inseto-praga, penetrando em seu tegumento, colonizando-o internamente. A liberação de toxinas no interior do inseto reduz sua mobilidade até a morte. Insetos colonizados pelo fungo tornam-se duros e cobertos por uma camada pulverulenta de conídios, visível a olho nu em tons de branco. Todo o processo ocorre até 12 dias após aplicação, dependendo das condições climáticas.

 Os consultores e representantes Anderson Sena e Ronaldo Lima relatam bons resultados obtidos nas propriedades em que prestam serviços. Em levantamento realizado, os mais de 50 produtores atendidos na região sul do Estado de Minas Gerais utilizam esses fungos no controle do ácaro.

As propriedades trabalham no sistema de produção integrada, sendo que a estratégia de combate ao ácaro rajado adotada por eles se dá pelo uso de ácaros predadores e produtos à base de fungos. É importante destacar, também, que não se utiliza o controle químico nessas propriedades, uma vez que o controle biológico é afetado negativamente pelo uso do controle químico.

Manejo

O modo de aplicação utilizado é a pulverização de Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae. As doses recomendadas são 100 gramas para Beauveria e 40 gramas para Metarhizium em 100 litros de água, para 1,0 hectare.

A aplicação deve proporcionar contato direto entre o produto e pragas. Deve-se aplicar, preferencialmente, no final da tarde ou em dias nublados com temperatura entre 25 e 35°C e umidade relativa do ar mínima de 60%, não se esquecendo de realizar a limpeza prévia do equipamento de pulverização.

 As aplicações em caráter preventivo devem ser realizadas uma vez ao mês, enquanto que para aplicações de caráter curativo, vem sendo adotadas aplicações semanais. Em relação ao custo-benefício, a técnica é vantajosa, uma vez que as doses utilizadas são relativamente baixas, e os produtos têm um custo menor quando se compara o custo total de aplicação em relação às demais técnicas.

É necessário que o produtor verifique os valores dos produtos à base das espécies de fungos citados, junto aos representantes das empresas de controle biológico em sua região. Segundo relatos, não se observa em campo alteração grosseira de produtividade, no entanto, o ganho real desse tipo de aplicação é a efetividade no controle da praga e a redução do uso de defensivo químico, com consequente ganho de qualidade da segurança para o consumidor, havendo assim a possibilidade de busca por certificações ao se adotar essa e as demais técnicas da agricultura sustentável.

Vale a pena?

As aplicações dos “fungos do bem”, por meio de pulverizações, não é a única forma de utilização desses microrganismos. Pesquisa ainda em fase de conclusão traz como forma de utilização a inoculação desses fungos nas raízes das plantas, por meio de solução contendo esses seres, sendo observados ganhos tanto em relação ao crescimento e desenvolvimento, quanto ao controle do inseto-praga em si.

 O uso desses fungos benéficos apresenta-se com enorme potencial de crescimento, podendo já ser usado como mais uma ferramenta de controle de pragas, à disposição do agricultor, por meio dos diversos produtos registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).

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