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Adubação foliar na soja, quais os cuidados?

Autor

Marco Túlio Gonçalves de Paula
Engenheiro agrônomo e mestrando em Qualidade Ambiental – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
mtulio.agro@gmail.com

A adubação foliar na cultura da soja é uma técnica comumente aplicada e utilizada por praticamente todas as propriedades rurais produtoras da oleaginosa. Contudo, existe a dúvida: quando aplicar via solo e quando aplicar via folha? São duas operações com intuitos diferentes e de ação complementar, sendo que uma não substitui a outra.

As práticas de correção do solo, adubação de semeadura, de cobertura e demais aplicações no solo devem ser feitas para que se atinja altos patamares produtivos. Já a adubação foliar complementa esta primeira, refinando processos fisiológicos e nutricionais dentro das células vegetais e conferindo uma fatia extra na produtividade, geralmente com custo-benefício positivo.

Além disso, cada vez mais trabalham-se áreas com alta saturação de bases, o que prejudica a disponibilidade de micronutrientes catiônicos, limitando a produtividade da soja. Como alternativa para sanar e prevenir a deficiência por estes micronutrientes, a adubação foliar é a principal e mais eficiente ferramenta disponível.

A fertilização via folha pode ser recomendada para suprir alguma deficiência, evidenciada por sintomas na planta, para prevenir determinados déficits nutricionais já esperados, como é o caso da deficiência induzida de manganês pela aplicação de glifosato em soja RR, para recuperar a planta de alguma situação de estresse causado pelo clima, por fitotoxidez de aplicação de defensivos, ou outros fatores, e para estimular fisiologicamente a planta, potencializando a atividade fotossintética da mesma.

Cuidados da adubação foliar

Ao definir a aplicação de fertilizantes foliares, algumas cautelas podem diferenciar a técnica em ineficiente ou extremamente rentável – desde a escolha de produtos de qualidade com formulações mais tecnológicas até a dosagem utilizada interferem no sucesso da pulverização.

Cada nutriente tem uma finalidade na planta e participa de um processo fisiológico ou estrutural, portanto, o momento da aplicação de determinado elemento ou composto deve ser feito em sintonia com o estádio fenológico em que a planta se encontra e com o efeito que se espera.

Micronutrientes como o cobre, ferro, boro, manganês e outros, mesmo que essenciais, podem ser tóxicos em excesso, por isso, outro cuidado que deve ser tomado é a superdosagem de produtos com estes elementos em sua composição. É extremamente importante o conhecimento da área cultivada e acompanhamento com análise foliar para saber o nível nutricional da planta e se ela necessita ou não de determinado nutriente.

Técnicas já aplicadas na adubação foliar

Alguns nutrientes, como manganês e potássio, já participam do manejo foliar da maioria das lavouras de soja do Brasil e já tem rentabilidade comprovada, com épocas bem definidas de aplicação e doses geralmente já conhecidas pelos agricultores, porém, o mesmo deve ser observado para outros nutrientes. Cada vez mais, o uso dos micronutrientes em geral aplicados via folha, mostra como, mesmo em quantidades pequenas, pode favorecer a produção de soja.

Nutrientes que são importantes durante todo o ciclo da cultura, desde a emergência da soja até o enchimento dos grãos, podem ser feitos em doses sequenciais, evitando uma superdosagem e garantindo a sua disponibilidade constante para a lavoura.

O uso dos macronutrientes nitrogênio, fósforo e potássio via folha também são eficientes na ativação fisiológica da planta, fornecimento de energia e recuperação de estresse e retranslocação de nutrientes para o enchimento de grãos, respectivamente.

Em alguns casos, o uso de micronutrientes como o cobre e o zinco, não são apenas nutricionais, podendo auxiliar no controle e no travamento do desenvolvimento de doenças fúngicas e bacterianas. Em outros casos, o uso de fosfitos e fosfonatos favorecem a indução de resistência da planta ao ataque de patógenos e pragas.

O uso de potássio constante em áreas de lavouras sujeitas à geada resulta em plantas com ponto de congelamento inferior e mais resistentes à queima ocasionada por baixas temperaturas.

Dicas importantes

Assim como outros insumos e defensivos, os fertilizantes foliares devem ser aplicados em condições propícias de temperatura, umidade relativa do ar e com pouco vento. Adjuvantes, surfactantes e aderentes devem ser inseridos na calda de pulverização para que os nutrientes tenham maior contato com as folhas, permaneçam por mais tempo e tenham maior taxa de absorção.

Além dos nutrientes, os bioestimulantes compostos por extratos vegetais de algas marinhas, em sua grande maioria, mostram efeitos fisiológicos positivos. A atuação dos aminoácidos presentes neles, em associação com alguns macro e micronutrientes, conferem à planta capacidade de se recuperar mais rapidamente de situações de estresse, potencializam a capacidade fotossintética por meio de ativação fisiológica e resultam em ganhos produtivos.

A escolha de produtos com eficiência comprovada por meio de trabalhos científicos e experiências em lavouras maiores é primordial para um bom resultado, assim como a aplicação em condições adequadas de clima e no momento correto para a cultura da soja.

Erros mais frequentes

O erro mais comum cometido pelos agricultores que optam pela prática da adubação foliar é posicioná-la em substituição a alguma prática de solo. Esta deve ser tratada como uma técnica complementar, e quando ambas são feitas de forma correta o retorno em produtividade é certo.

A escolha por produtos mal formulados ou de baixa tecnologia, adubos sólidos diluídos ou fertilizantes sem respaldo científico e agronômico podem difamar a prática como ineficiente. Lavouras pulverizadas com bons produtos nutricionais e bem recomendados geralmente apresentam incrementos médios de pelo menos três a quatro sacas de soja por hectare.

As aplicações geralmente são feitas juntas com outras operações, como controle de plantas infestantes, pragas ou doenças, adicionando os fertilizantes foliares aos defensivos em geral, como herbicidas, inseticidas e fungicidas. Porém, um erro frequente, é a não observação do pH da calda de pulverização, condição que pode interferir na eficiência tanto dos adubos foliares quanto dos produtos fitossanitários. Fertilizantes que alteram o pH da calda só podem ser aplicados junto com defensivos que têm boa eficiência na faixa de pH alterada.

Custo-benefício

Para a cultura da soja, as aplicações de fertilizantes foliares geralmente são feitas em quatro etapas, junto com as aplicações já programadas dos produtos fitossanitários – uma primeira aplicação com manganês, uma segunda com macro e micronutrientes em geral associados com bioestimulantes, uma terceira visando a melhoria do pegamento de flores, geralmente com bioestimulantes associados com cálcio e boro, e uma quarta aplicação para potencializar o enchimento de grãos, normalmente com potássio.

O investimento no manejo completo de nutrição foliar em todo o ciclo da cultura da soja, considerando produtos com eficiência comprovada e respaldo agronômico, soma em torno de duas sacas de soja por hectare. Tendo em vista que o incremento médio parte de três sacas adiante, a prática pode gerar pelo menos uma saca de rentabilidade.

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