Autor
Afonso Peche Filho
Doutor e pesquisador científico do Centro de Engenharia e Automação do Instituto Agronômico de Campinas – CEA/IAC
peche@iac.sp.gov.br
Os efeitos indiretos do cálcio são tão importantes quanto o seu papel como nutriente. O cálcio promove a redução da acidez do solo, melhora o crescimento das raízes, aumenta a atividade microbiana, a disponibilidade de molibdênio (Mo) e de outros nutrientes, reduzindo a acidez do solo diminui a toxidez do alumínio (Al), cobre (Cu) e manganês (Mn).
Plantas que apresentam altos teores de cálcio resistem melhor à toxidez destes elementos. Mas, infelizmente o cálcio não está tendo a devida importância no solo, por ser ainda um desconhecido, principalmente como cátion fundamental para a qualidade da CTC (Capacidade de Troca Catiônica).
A CTC do solo não muda, mas a porcentagem de composição sim – toda CTC com baixa porcentagem de cálcio limita muito o desenvolvimento fisiológico das plantas, inibindo seu potencial produtivo. Com o diagnóstico bem feito e um plano eficaz de manejo do cálcio, a rentabilidade da lavoura aumenta.
A técnica, para um bom manejo do cálcio, passa pelo menos por três tipos de diagnóstico:
ð A condição real do cálcio no solo (superfície e subsuperfície) de forma a caracterizar sua variabilidade nos diferentes talhões produtivos.
ð A garantia da qualidade física (reativa) e química (teor do nutriente) dos produtos comerciais adquiridos, tanto para o calcário como para o gesso.
ð A qualidade da recomendação de aplicação dos produtos (dosagem e escolha do corretivo).
A correta aplicação passa também por pelo menos três pontos fundamentais:
ð A qualidade do distribuidor, da manutenção da oficina e da manutenção durante a operação.
ð A qualidade da regulagem do conjunto trator/máquinas, e adoção de critérios para avaliação da qualidade operacional da aplicação ao longo da jornada (começo/meio/fim).
ð Adequação às variações climáticas, principalmente ao vento e umidade relativa do ar com a escoabilidade do produto.
Efetivamente, o bom manejo do cálcio vai propiciar quatro efeitos produtivos:
A longevidade produtiva do solo;
O bom desempenho fisiológico das plantas;
A redução de plantas improdutivas na colheita;
A redução de áreas com baixa performance.
Aumentos de produtividade às vezes não são visíveis, mas a maior rentabilidade por área é garantida, pois o manejo correto do cálcio potencializa a tecnologia e a redução global dos custos com insumos.
Como resultado prático no campo tem-se: aumento da renda, firmeza dos frutos, vagens e botões florais; promoção diferenciada do crescimento apical (caule e raízes), melhoria significativa na capacidade de nodulação em leguminosas e promoção de um maior acúmulo de matéria seca nas plantas jovens.
É importante, entretanto, que o produtor se atente a erros fatais, como por exemplo:
” Amostragem inadequada do solo;
” Aquisição de produtos sem garantia de qualidade;
” Regulagem inadequada dos aplicadores;
” Falhas na distribuição (desuniformidade, altos índices de vazios);
” Aplicação em condições climáticas inadequadas, principalmente com ventos fortes e contínuos).
Cinco cuidados fundamentais:
1 – Elaboração de um bom plano de manejo específico para o cálcio;
2 – Adoção de um procedimento adequado para amostragem de solo e plantas;
3 – Profissionalização de colaboradores nas atividades de recomendação de compra e aplicação do insumo;
4 – Estabelecer um modelo de gestão da qualidade operacional (manutenção/operação);
5 – Adotar um esquema de inspeção e monitoramento de padrão da qualidade de aplicação.