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A remoção da palha de cana-de-açúcar pode dobrar o uso de fertilizantes?

Crédito: Ana Maria

Uma pesquisa publicada na Bioenergy Research alerta que a remoção dos resíduos culturais (palha) da cana-de-açúcar para produção de bioenergia (eletricidade ou etanol de segunda geração) pode impactar a demanda de fertilizantes do País. Com 10 milhões de hectares, o Brasil é responsável por cerca de 40% da produção global de cana-de-açúcar. O aproveitamento da palha de cana-de-açúcar como matéria prima à indústria tem se destacado como uma estratégia promissora para aumentar a produção de bioenergia e a lucratividade do setor.

“No entanto, a palha tem um papel muito importante para sustentar diversas funções do solo e serviços ecossistêmicos associados, incluindo ciclagem de nutrientes e produtividade das culturas”, lembra Maurício Cherubin, professor do Departamento de Ciência do Solo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), autor do estudo realizado em colaboração com outros docentes e estudantes do mesmo departamento e pesquisadores do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR/CNPEM).

Cherubin reforça que a quantidade de nutrientes exportados via palha deve ser quantificada e adequadamente restituída via fertilizantes para evitar a degradação da fertilidade do solo e consequentemente, os impactos negativos na produtividade das plantas ao longo do tempo. “Neste contexto, conduzimos um estudo com o objetivo de elaborar cenários de remoção de palha de cana-de-açúcar e estimar os potenciais impactos na demanda de fertilizante NPK na região Centro Sul do Brasil, que concentra 92% da produção nacional de cana-de-açúcar”.

Para tanto, foram conduzidos estudos de campo e uma revisão bibliográfica para quantificar e sintetizar os dados disponíveis de concentração de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) no tecido dos componentes da planta, e a produtividade de biomassa da cultura. “Este banco de dados foi utilizado para avaliar o impacto de cinco cenários de remoção de palha (S1-S5), os quais combinaram diferentes intensidade de remoção (sem remoção – 0%; baixa – 25%; moderada – 50%; e total – 100%) e componentes da planta (folhas verdes e secas)”.

Resultados

Segundo os pesquisadores, os resultados revelaram que a exportação potencial de nutrientes via palha atingiu, em média, 69 kg/ha de N, 7 kg/ha de P e 92 kg/ha de K por ano, representando um custo adicional com fertilizantes de US$ 90 por hectare.

“A análise dos cenários indicou que o consumo de fertilizantes NPK pela cultura da cana-de-açúcar na região Centro Sul do Brasil tem aumentado na taxa de 46,5 mil toneladas por ano nos últimos 30 anos, totalizando 1,75 milhões de toneladas em 2016, o que representa 11,6% do consumo total de fertilizantes no País”.

De acordo com a pesquisa, se mantivermos essa mesma tendência, as projeções indicaram que o consumo de fertilizantes pela cana-de-açúcar crescerá cerca de 80% em 2050, mesmo sem remoção de palha. “No entanto, se os nutrientes exportados via palha forem corretamente repostos, este consumo em 2050 será muito maior, representando incremento adicional de 14 e 28% nos cenários de remoção menos intensivos (S1 e S2), os quais preveem a manutenção das folhas verdes (mais ricas em NPK) no campo e a remoção apenas das folhas secas”, pondera Cherubin.

Por outro lado, a adoção do cenário mais drástico (remoção total – S5), poderá duplicar a demanda de fertilizante NPK em 2050 na região Centro Sul do Brasil, comparado com o manejo sem remoção.

“Neste cenário, o consumo de fertilizantes fosfatados poderá aumentar 25%, enquanto que o consumo de fertilizantes nitrogenados e potássicos mais do que duplicará (126% e 147%)”, aponta o docente.

Os autores consideram que as informações geradas neste estudo, elucidando o valor da palha como fonte de nutrientes, serão úteis para sensibilizar produtores e demais envolvidos no setor sucroenergético a realizar o manejo da palha de forma criteriosa garantido matéria-prima para aumentar a produção de bioenergia sem comprometer a sustentabilidade do sistema de produção. 

O projeto foi financiado pelo programa BNDES/FUNTEC e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

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