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Propriedade medicinal do própolis desperta interesse de cientistas

Quando se fala em apicultura, a associação com a produção de mel é imediata. O produto é o mais representativo do segmento e o volume produzido no estado é de pouco mais de 4 mil toneladas (10% da produção nacional). Mas a apicultura tem outros produtos explorados comercialmente, a exemplo da própolis verde, típica de algumas regiões do estado, que vem despertando o interesse no mercado internacional e ganhando espaço entre os produtos exportados pelo segmento.

A própolis é uma resina natural que a abelha usa para proteger as colmeias, bastante procurada por suas propriedades medicinais. Suas características são reconhecidas como antioxidante, antimicrobiana, anti-inflamatória, além de ser rica em vitaminas e diversos minerais. A sua composição varia de acordo com a área geográfica e os diferentes tipos de plantas das quais é recolhida. É exatamente neste ponto que entra o diferencial de Minas Gerais na produção da própolis verde, obtida nos locais onde é abundante a presença do alecrim-do-campo (planta que fornece as características da própolis verde). Esse tipo de própolis é considerado especial devido à sua composição e concentração das propriedades medicinais.

Com produção estimada em torno de cem toneladas, a própolis verde mineira tem certificação de Denominação de Origem concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), em 2016. Delimitada como “Região da Própolis Verde de Minas Gerais”, a área abrange 102 municípios, distribuídos no Sul, Centro-Oeste e Leste do estado. As regiões produtoras de própolis verde apresentam solo ácido e altos teores de ferro, característicos de locais com exploração de minério.

Do problema à exportação

O empresário e presidente da Federação Mineira de Apicultura (Femap), Cézar Ramos Júnior começou a trabalhar com abelhas, no início da década de 80, com foco direcionado para a produção de mel e cera. Sua trajetória na atividade vem sendo construída em Bambuí, município localizado no Centro-Oeste do estado, que pertence à região reconhecida pelo INPI com a Denominação de Origem. “Quando comecei, a própolis era considerada um problema, pois atrapalhava o manejo das colmeias e a colheita do mel. Para resolver a situação, todos os anos limpávamos as colmeias, raspando e jogando a própolis fora”, lembra.

Os primeiros interessados na compra da própolis apareceram em 86. Nessa época, sua produção média de própolis verde era de 250 gramas por colmeia, colhida uma vez no ano, durante a limpeza das caixas. “Eu tinha apenas 13 anos e fui participando de cursos sobre criação de abelhas e me aprimorando na atividade, com o foco voltado para o manejo racional e as boas práticas de produção”, conta Ramos. Segundo o apicultor, o interesse internacional pela própolis verde mineira começou em 89, durante o Apimondia, realizado no Rio de Janeiro, naquele ano. O evento é considerado a principal vitrine da apicultura internacional, abrindo oportunidades para o compartilhamento de tecnologias, tendências de mercado e realização de negócios. “Naquela edição do Apimondia, os empresários japoneses tiveram contato com a própolis verde mineira e, a partir daí, começou o comércio formalizado da nossa produção para o Japão”, contextualiza Cézar Ramos, que também é diretor da Associação Brasileira das Empresas Exportadoras de Mel, Própolis e Derivados (Abemel).

Na última edição do Apimondia, realizado em setembro deste ano, no Canadá, a produção mineira de própolis verde ganhou destaque perante o mercado internacional. A produção audiovisual intitulada “Green Propolis: a Gift from Brazilian Nature to the World” (Própolis Verde: Um Presente da Natureza Brasileira para o Mundo) conquistou a medalha de bronze no concurso World Beekeeping Awards Apimondia 2019 na Categoria vídeo, e o prêmio foi recebido pelo apicultor Cézar Ramos.

Crescimento

Nessas três décadas (de 89 a 2019), a demanda do mercado japonês aumentou, consideravelmente. As exportações, também, se expandiram para outros países da Ásia, como China, Coréia, além da Europa, Estados Unidos, e também houve crescimento do consumo interno brasileiro. Do volume anual de 250 gramas, a produtividade média da própolis verde saltou para 1,5 kg/colmeia/ano com a utilização de métodos com vários tipos de coletores que facilitam o trabalho, com colheitas semanais no período de safra, nos meses de novembro a maio, coincidindo com o período de clima quente e chuvoso.

O Governo de Minas, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e os órgãos vinculados (Emater-MG, Epamig e Instituto Mineiro de Agropecuária – IMA), desenvolve diversas ações de apoio à produção e comercialização, por meio da assistência técnica, dos programas de certificação, além do registro e inspeção sanitária dos estabelecimentos que processam o mel e seus derivados. Segundo o assessor especial da Seapa, Frederico Ozanam de Souza, para a atuação efetiva do governo, é necessário que o produtor esteja com a sua atividade regularizada. “É necessária a regularização na área ambiental e, também, registrar o apiário no IMA, formalizando a atividade. Não tem como o governo atuar sem o produtor dizer onde ele está localizado, quanto ele tem de produção e quais as suas dificuldades”, pondera.

Neste ano, também foram retomadas as atividades da Câmara Técnica de Mel e Produtos das Abelhas. Vinculadas à Secretaria de Agricultura, as câmaras técnicas assumem o papel de fórum de integração, discussão e busca de soluções para todos os segmentos das cadeias produtivas do agronegócio mineiro que elas representam, fornecendo subsídios e estudos para a atuação do Conselho Estadual de Política Agrícola (CEPA). Depois de quatro anos paralisada, a câmara técnica do segmento da apicultura se reuniu em setembro deste ano. “Consideramos esse momento bastante importante, porque é justamente dentro dessas câmaras que o setor produtivo e as instituições públicas envolvidas discutem os gargalos que o setor vem enfrentando e, numa ação de parceria, podem encontrar os caminhos para o desenvolvimento do setor”, finaliza o assessor técnico da Seapa, Frederico Ozanam.

Apicultura em Minas

Segundo levantamentos da Emater-MG, a atividade apícola está presente em 580 municípios mineiros e gera em torno de 45 mil empregos diretos e indiretos no estado. A empresa realiza o trabalho de assistência técnica e extensão rural a 7,1 mil produtores, entre pequenos, médios e grandes.

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