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Macieiras: Polinização com drones agiliza operação

Autores

André A. Sezerino
Pesquisador em Fitotecnia  – Epagri – Estação Experimental de Caçador
andresezerino@epagri.sc.gov.br
Julio Cesar Soznoski
Kolecti Recursos Florestais
julio@kolecti.com.br  

Em diversas espécies cultivadas como a macieira, a polinização cruzada é essencial e/ou traz algum benefício, como o aumento da frutificação efetiva e a qualidade dos frutos. Para se obter uma boa frutificação é necessário que haja boa polinização e consequente fertilização das flores. Nessa cultura observa-se reduzida frutificação efetiva e menor tamanho de frutos quando as flores são autopolinizadas, comparativamente à polinização cruzada.

A polinização é um serviço feito naturalmente pelas abelhas, mas às vezes é preciso dar uma forcinha para a natureza. A mortalidade de abelhas observada nos últimos anos em vários locais do mundo tem se agravado e pode diminuir drasticamente a quantidade de colmeias disponíveis para a polinização de pomares.

No Brasil, a apicultura vem sofrendo com diversos problemas, como por exemplo, o aumento das taxas de infestação pelo ácaro Varroa destructor, a nosemose, a introdução recente do pequeno besouro das colmeias e as contaminações cada vez mais recorrentes de apiários por agrotóxicos que causam a mortalidade de enxames inteiros. 

Problema x solução

Além da diminuição gradativa da disponibilidade de colmeias para polinização, na época de florescimento das principais cultivares de macieira é comum haver fatores climáticos que acarretam em baixa atividade das abelhas, afetando diretamente frutificação efetiva e a qualidade dos frutos.

Nesse cenário, a polinização por drones poderia ser um importante complemento ao processo natural. Ao contrário das abelhas, essa tecnologia pode operar no frio e à noite, além de compensar influências climáticas.

Tecnologia a favor das maçãs

Para o processo de polinização são utilizados drones profissionais de grande porte, nos quais algumas partes foram desenvolvidas e acopladas especificamente para essa finalidade. Uma das principais é um tanque para o depósito do pólen, com capacidade para cerca de 1,0 litro de grãos de pólen. Nesse tanque, uma aleta interna faz um movimento circular para homogeneizar os grãos e permitir a adequada dispersão pelo orifício de saída durante o voo.

As áreas de voo são previamente delimitadas por meio de imagens de satélite, onde são inseridos os pontos da rota de voo. Em seguida é realizada a sincronização com o drone, o qual é operado a campo por um piloto treinado para executar essa atividade.

Por meio de um software desenvolvido especificamente para esta atividade, o drone consegue acompanhar a topografia do terreno com as diferentes alturas das copas das árvores do pomar, realizando um voo com a mesma altura e, consequentemente, uma dispersão homogênea de pólen.

Pioneirismo

A utilização de drones na polinização de macieiras é uma atividade totalmente pioneira, recém-trazida para Brasil, e está em fase de avaliações. Toda a tecnologia foi desenvolvida e já se encontra em uso comercial nos Estados Unidos.

No Brasil existe apenas um drone para executar essa atividade, que foi desenvolvido pela empresa americana Dropcopter, sendo trazido ao Brasil em parceria com a empresa Kolecti Recursos Florestais para utilização em cruzamentos controlados em programas de melhoramento genético de espécies florestais.

A implantação em nível comercial na cultura da macieira depende ainda de alguns ajustes, principalmente referentes à oferta de pólen em grande escala. No Brasil, o pólen das macieiras é colhido somente para cruzamentos em programas de melhoramento genético.

Para a coleta de grandes volumes, ter-se-ia que adaptar a tecnologia de produção de pólen que é utilizada nos EUA. A importação de pólen para a polinização é um grande risco, uma vez que a doença conhecida como “Fogo bacteriano”, extremamente agressiva, não existe no Brasil e poderia ser disseminada por pólen importado.

Portanto, a implantação comercial dessa tecnologia ainda deverá levar algum tempo para que os ajustes necessários sejam realizados.


Vantagens

Estudos realizados nos Estados Unidos mostram aumento significativo de frutificação efetiva em cerejas, amêndoas, maçãs e peras com aplicações entre 35 a 70 gramas de pólen por acre (1 acre = 0,4 hectare).

Uma pesquisa encomendada pela Dropcopter em pomares nos EUA mostrou que a produtividade teve ganhos entre 25 a 50%. Além da frutificação efetiva, a qualidade dos frutos apresenta melhorias consideráveis, o que acarreta em maiores preços pagos ao produtor.

Nos Estados Unidos, estudos mostraram que a polinização por drone atinge principalmente as “flores rainha”, as quais são as flores centrais da inflorescência e que são maiores e as primeiras a se abrir, se transformando, geralmente, nas maçãs maiores e de melhor qualidade.


Cuidado!

A falta de planejamento e o não conhecimento da fenologia das variedades plantadas poderão apresentar um resultado aquém do esperado, além do pólen desperdiçado e o custo envolvido na aplicação.

O planejamento estratégico da operação deve envolver principalmente a coleta e o armazenamento de pólen um ano antes da operação. O conhecimento da fenologia e o monitoramento nos meses de floração são primordiais para o sucesso da operação. Também deve-se ter o cuidado de utilizar pólen compatível com as cultivares a serem polinizadas e assegurar que esses estejam viáveis (germinação acima de 50%).

Viabilidade

O custo desta tecnologia ainda não foi estimado a nível de Brasil, mas os resultados nos EUA demonstram que a tecnologia apresenta grande custo/benefício, considerando o alto rendimento do drone na cobertura da área e a pouca mão de obra envolvida na operação.

Um pomar de macieiras, para ser competitivo, deve produzir frutas em quantidade e com qualidade. O custo de produção de um pomar adulto gira em torno de R$ 37.000,00 por hectare ao ano, ou seja, pomares que produzem 40 toneladas por hectare estão no limite entre o lucro e o prejuízo.

Um pomar com poucas frutas exige os mesmos tratamentos em relação a um pomar com boa frutificação efetiva, ou seja, os custos de se produzir poucas frutas é praticamente o mesmo de se produzir muitas.

Nesse sentido, a utilização de drones pode trazer um grande avanço em pomares com histórico de baixa frutificação efetiva ou em anos cujas adversidades climáticas sejam desfavoráveis à polinização, o que tem se tornado cada vez mais frequente.

 Lembrando que a técnica ainda precisa ser estudada para a obtenção de resultados referentes à sua eficácia nas regiões produtoras de maçãs do Brasil. Caso sejam observados resultados similares aos obtidos nos EUA, poderá se permitir que áreas produtivas ganhem mais espaços com as variedades de maior interesse, havendo a possibilidade de reduzir a necessidade de plantas polinizadoras. Contudo, mais estudos precisam ser realizados.

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