Autores
Regina Maria Quintão Lana
Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Miguel Henrique Rosa Franco
Doutor em Agronomia – UFU
Mara Lúcia Martins Magela
Luciana Nunes Gontijo
Doutorandas em Fitotecnia – UFU
Uma das vertentes tecnológicas voltadas para a área de produção de fertilizantes é o desenvolvimento de fertilizantes organominerais, embora essa tecnologia não seja tão recente, uma vez que desde de 1982 a fabricação de fertilizantes organominerais já ocorria, após sua inserção na legislação brasileira (Kiehl; 2008).
Do ponto de vista químico, a Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA) classifica fertilizantes em minerais, orgânicos e organominerais, sendo esse último originado da combinação da matéria orgânica com fertilizante mineral (Inkotte et al., 2012).
Uma das grandes vantagens do fertilizante organomineral inclui os efeitos positivos sobre as propriedades químicas, físicas e microbiológicas do solo.
Nos aspectos químicos, observa-se maior aproveitamento do nutriente mineral devido à sua combinação com a matéria orgânica, o que possibilita um aumento da capacidade de troca de cátions (CTC). Também diminui as perdas por lixiviação do potássio, drenagem dos nutrientes, volatilização da ureia e fixação do fósforo (Inkotte et al., 2012).
Nas propriedades físicas, os fertilizantes organominerais envolvem as partículas de argila, melhorando a sua distribuição e agregação, diminuindo a densidade e erosão do solo. Como consequência, favorece a infiltração, o armazenamento de água, a aeração e o aprofundamento do sistema radicular.
Quanto às caraterísticas biológicas do solo, os fertilizantes organominerais, devido à matriz orgânica, favorecem a proliferação e biodiversidade de microrganismos benéficos, o que reduz a população de microrganismos fitopatogênicos, como nematoides.
Organominerais x convencionais
Outra vantagem do uso dos fertilizantes organominerais em relação aos fertilizantes minerais convencionais, é a utilização de resíduos que são passivos ambientais de outros sistemas de produção como matéria prima, o que se enquadra perfeitamente na atual política nacional de resíduos sólidos, que destaca a importância do reaproveitamento e agregação de valor a esse tipo de material (Benites et al., 2010).
A utilização desses resíduos para a produção de fertilizantes organominerais pode diminuir imediatamente 50% do passivo ambiental gerado pelos mesmos. Até 2020, com a ampliação da capacidade instalada para produção desse tipo de fertilizante, pode-se chegar a amenizar o passivo ambiental gerado pela avicultura e suinocultura em até 80% (Benites et al., 2010).
Além dos resultados positivos relatados anteriormente, Levrero (2009) cita que os fertilizantes organominerais, por aumentarem o poder tampão do solo, e estabilizam o pH, possibilitando a diminuição no uso de calcário. Também apresentam custo operacional mais baixo, visto que há a aplicação conjunta do fertilizante orgânico com o mineral.
Culturas beneficiadas
Em termos práticos, os resultados com o uso de fertilizantes organominerais são bastante positivos nas mais variadas culturas, segundo pesquisas que vêm sendo realizadas em soja, milho, café, cana-de-açúcar, feijão, trigo, aveia, melão, batata e integração lavoura-pecuária-floresta (Sousa, 2014).
Todas as culturas respondem positivamente a aplicação de fertilizantes organominerais, não havendo nenhuma restrição quanto a sua aplicação.
Importância no contexto agrícola
No que tange a inserção do fertilizante organomineral na economia brasileira, segundo dados do Anuário Brasileiro de Tecnologia em Nutrição Vegetal, em 2019, as indústrias que já possuem fertilizantes organominerais em seu portfólio somam aproximadamente 50% do total de empresas de nutrição vegetal presentes no País, com um percentual de faturamento em torno de 12% do mercado nacional de fertilizantes. Trata-se de um segmento que apresentou o maior crescimento em faturamento em 2018 (aproximadamente 21%) (Abisolo, 2019).
Com esses dados, destaca-se, então, a importância do setor de fertilizantes organominerais para o Brasil no que se refere à diminuição da importação de fertilizantes minerais; criação de novos empregos e indústrias; geração de renda e aproveitamento de resíduos orgânicos gerados nos diversos setores industriais (ganho ambiental).
Outro fato relevante é que, apesar dos ganhos gerados para a economia e agroindústria brasileira, a produção de fertilizantes organominerais está presente, atualmente, somente em pequenas e médias indústrias de fertilizantes no País, sendo a variabilidade de produção e tecnologia muito discrepantes entre as empresas do setor.
Este fato está relacionado à falta de apoio governamental e financeiro para o crescimento deste setor no Brasil e à falta de difusão de tecnologia por parte dos órgãos de pesquisas.
Com isso, novas políticas públicas visando o crescimento e desenvolvimento desta indústria no Brasil são de extrema importância para a inserção da tecnologia do fertilizante organomineral no campo e o aperfeiçoamento dos produtos gerados nesta cadeia.
Olhar no futuro
Quando se fala no presente e no futuro da produção de fertilizantes organominerais nas indústrias brasileiras, podemos pensar nesta tecnologia como uma porta para a inserção de novas rotas de produção no campo, com consequente diminuição do impacto ambiental gerado pela agricultura atual.
Neste contexto, alguns estudos já vêm demonstrando o menor impacto ambiental proporcionado pela aplicação de fertilizantes organominerais, quando comparado ao fertilizante mineral convencional.
Como exemplo destes ganhos ambientais, é possível citar a diminuição de salinidade do solo e menor lixiviação de nutrientes, evitando futuras contaminações ambientais do lençol freático, bem como maior fixação de carbono no solo, com consequente diminuição da sua emissão na atmosfera.
Pesquisas
Teixeira (2013), estudando a dinâmica de movimentação do K no perfil do solo em função da textura e da fonte do nutriente (mineral e organomineral), observou que os tratamentos que receberam o fertilizante organomineral proporcionaram maior teor de K trocável nas camadas mais superficiais e que o fertilizante mineral resultou em uma maior lixiviação deste nutriente para as camadas mais profundas do perfil do solo.
Delvaux (2015), avaliando o efeito dos fertilizantes minerais e organominerais sobre os estoques de carbono da biomassa microbiana e sua atividade do solo, observou que houve uma redução nos valores de emissão de C-CO2 por unidade de biomassa, quando utilizado o fertilizante organomineral.
Em outra vertente, mas não menos importante, devemos citar também o aumento de produtividade proporcionado pela aplicação dos fertilizantes organominerais na agricultura, em que o aumento da eficiência da fração mineral presente nestes fertilizantes proporciona maior aproveitamento dos nutrientes pelas plantas.
Atualmente, existe um consenso entre pesquisadores, com base nas pesquisas já publicadas, de que a adequação em aproximadamente 30% da quantidade de nutriente (NPK) pode ser utilizada sem prejuízo ao fator produtividade.
Considera-se que os fertilizantes organominerais otimizam o aproveitamento dos nutrientes em até 70% para o nitrogênio, 50% para o fósforo e 70% para o potássio (Levrero, 2010). Leva-se em consideração também que o fator de equivalência dos fertilizantes organominerais vai de 18 a 50% (Franco, 2019; Teixeira, 2010).
Por fim, e não menos importante, podemos citar que, além do que já se tem hoje no âmbito de tecnologias para produção de fertilizantes organominerais, ainda há muito a se desenvolver neste setor devido ao grande potencial para introdução de novas tecnologias ao processo produtivo destes fertilizantes.
Para breve
Temas como o enriquecimento no tratamento da fração orgânica por sistemas de compostagem mais eficientes, usos de organismos biológicos, aminoácidos e ácidos húmicos como agentes aditivos para os fertilizantes organominerais já estão sendo estudados como rota produtiva para aumentar a eficiência desta tecnologia.
Com isso, o setor agrícola brasileiro só tem a ganhar com a difusão dos fertilizantes organominerais e em breve o Brasil poderá se tornar um país referência na produção de fertilizantes mais eficientes agronomicamente e ambientalmente para agricultura.