Autores
José Geraldo Mageste – jgmageste@ufu.br
Lísias Coelho – lisias@ufu.br
Engenheiros florestais, professores do ICIAG/Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
O cultivo de seringueira, tanto para produção de borracha natural quanto de madeira (principalmente no Estado de São Paulo) no Brasil, vem se tornando uma boa opção de renda para produtores rurais.
Os resultados de pesquisas indicam um mercado crescente e promissor. Mas, não existe investimento sem riscos. Para reduzir estes e encorajar cada vez mais investimento neste setor da Agricultura, é preciso se cercar de informações tecnológicas.
Quando o Brasil se deu conta de que a extração de borracha das árvores da floresta tropical não poderia sustentar a demanda nacional e internacional, implantou seringais de produção com cultivos homogêneos da seringueira na floresta amazônica. Isto foi um desastre, pela ocorrência do “mal das folhas” de maneira epidêmica.
O fungo causador da doença encontrou condições ideais e dizimou estes seringais de cultivo, levando o País a desenvolver tecnologia de produção fora do ambiente amazônico.
A ocorrência da doença nos seringais de cultivo da região amazônica e o desenvolvimento tecnológico das plantações da Ásia, associados ao aumento da demanda, principalmente pela indústria automobilística, fizeram a participação brasileira no mercado internacional cair.
O País saiu da condição de primeiro exportador mundial, no final dos anos 1800, para importador de até 90% de sua demanda em meados do século seguinte. Então, aqueles que entrarem no mundo da produção de borracha natural vão encontrar um mercado promissor, mas que não lhes permite distanciar de informações tecnológicas atualizadas e bem embasadas.
Cultivo de seringueira para borracha natural
A borracha natural possui usos específicos que asseguram seu consumo, dadas as suas propriedades elastâmeras e mecânicas de resistência. Por exemplo, pneus de aviões são de borracha natural, idem para muitos produtos cirúrgicos e preservativos. Também os pneus cinturados precisam de boa porcentagem de borracha natural misturada à sintética (vinda do petróleo), para garantir boa aderência ao aço em altas temperaturas.
Aqueles locais onde o fungo causador do “mal das folhas” (M. ulei) não consegue instalar nos seringais de forma epidêmica são chamados “regiões de escape”. Enquadram nesta condição o Noroeste Paulista, onde estão localizados mais de 50% dos seringais de cultivo do País.
Em suas proximidades, tanto do lado do Mato Grosso do Sul e Triângulo Mineiro e Goiás existe uma grande quantidade de seringais. Também se cultiva seringueira no Mato Grosso, na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Paraná, como também na região sul de São Paulo, nas proximidades de Registro.
Específicos para cada região
Cada região tem suas particularidades, com clones mais adequados, com o uso de Sistemas Agroflorestais mais indicados e adubação para sustentação, além do desenvolvimento regional de mão de obra mais adequada.
Em Guarapari (ES) existe um seringal que recebeu o nome de tira-teima. Alguns franceses insistiram com a instalação e desenvolvimento desta cultura nesta região, dando este nome ao seringal.
Ele possui alta produtividade e é cultivado num solo com um lençol freático que está a 4,0 metros de profundidade em média. Desta experiência nasceu um mandamento, que resume o dito popular sobre a seringueira: “ela é uma planta que precisa estar com a cabeça quente, mas com os pés dentro da água”. Isto é, não pode passar sede e não suporta qualquer intensidade de geada.
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Além do látex, outra fonte de renda do seringal é a produção de sementes e a madeira. As sementes de seringais monoclonais são muito procuradas e a madeira ganhou expressão nacional. Em São José do Rio Preto (SP) existe uma serraria de grande porte, dedicada exclusivamente ao processamento da madeira desta espécie.
No Brasil e no mundo
O produto látex representa quase 2% do PIB. A participação já foi até 25% no início do século 20, e que naquela época o café era um dos carros-chefes da exportação brasileira, com grande expressão no PIB.
Além disto, o cultivo de seringueira possui um fator social diferenciado. O látex é extraído durante 10 meses no ano; nos dois meses que não é possível sangrar, há outras atividades essenciais a serem realizadas, ocupando a mão de obra rural permanentemente.
Para pequenas áreas, uma família pode cuidar de cinco a 10 hectares de seringueira em produção, permitindo ainda que outras atividades rurais sejam realizadas. Assim, emprega-se, com boa qualidade de vida, grande contingente de mão de obra rural.
Em países asiáticos, a produção de látex é feita principalmente por pequenos produtores. Assim, é comum ter famílias responsáveis por 1,0 a 2,0 hectares, de onde tiram o seu sustento.
Área plantada
Calcula-se que no Brasil existam mais de 50.000 hectares de seringais de cultivo. Mas, ainda existem muitas áreas com condições edafoclimáticas adequadas ao cultivo desta espécie. Assim, a expansão da cultura não está restrita às condições ambientais inadequadas, mas, à limitação de conhecimento sobre a cultura e à necessidade de treinamento de mão de obra.
A produção anual desejada deve ser de pelo menos 3.000 kg de borracha seca por hectare por ano. Esta produtividade é quase o dobro da média das áreas de escape, que não chega a 2.000 kg.
De qualquer maneira, nas regiões produtoras do Acre e do Amazonas, não se tem 500 plantas em produção por hectare. O seringueiro anda muito dentro da mata para sangrar uma árvore. No seringal de produção deve existir cerca de 500 plantas por hectare. Nesta condição, 150 plantas custeiam a mão de obra. Assim, o restante produzirá o lucro do produtor.
A produtividade dos seringais de produção está em torno de 1.800 kg ha-1 ano-1 no Planalto Paulista e no Triângulo Mineiro. Esta produtividade cai para menos de 1.500 para as outras regiões do País.
Maior demanda
Não existem locais específicos de demandas concentradas de látex. Enganam-se os que pensam que no entorno de São Paulo está a maior demanda de Borracha Natural. A maior concentração de indústrias beneficiadoras de látex está em São Paulo, porque mais de 50% dos plantios estão neste Estado.
A indústria de beneficiamento de látex in natura chega a transportá-lo a uma distância média de mais de 800 km. A maior demanda está concentrada onde existem indústrias de pneu e de automóveis. A região Sul do Brasil é grande consumidora de borracha natural, isto porque produzem grande parte do maquinário do País.
Entretanto, não podemos esquecer que a borracha natural é utilizada em mais de 40.000 produtos, dos mais variados setores.
Maiores regiões produtoras
Os maiores produtores de látex do mundo estão concentrados na Ásia, que são grandes exportadores para o restante do mundo. Como a seringueira não tolera geadas, é fácil identificar que muitos países europeus e mesmos os EUA são grandes importadores.
Na região do Triângulo Mineiro, o investimento inicial está em torno de R$ 4.500,00 a R$ 5.000,00 por hectare. Mas, grande parte do investimento está na fertilização inicial e na aquisição de mudas de qualidade.
Por isto, o plantio em Sistemas Agroflorestais, permite um retorno mais rápido do investimento inicial, pela colheita das culturas consorciadas. Estas culturas são variadas, desde melancia, abóbora, a abacaxi, banana e café nas entrelinhas, enquanto o seringal não sombreia completamente o solo.
Rentabilidade x retorno
O preço médio do produto látex tem sido em torno de US$ 3,5/kg. Assim, a rentabilidade de um seringal com oito a 10 anos de idade, tem sido em média de R$ 5.500,00 ha-1.
O retorno financeiro depende do trato dispensado ao seringal. Tudo (adubações, capina, condução da copa etc.) deve ser feito para que as plantas atinjam um DAP (Diâmetro à Altura do Peito) de 10 cm o mais rapidamente possível e espessura de casca de 5,0 mm.
Num seringal com trato médio, na região do Triângulo Mineiro, noroeste Paulista e MS do Sul, esta medida tem sido alcançada com 4,5 a cinco anos. Mas, melhorando-se principalmente a adubação adequada, ela começa a existir com 5,5 anos.
Manejo do plantio à colheita
Maior atenção deve ser dada à matocompetição e adubação adequada. A matocompetição ocorre principalmente com a braquiária, uma vez que a maioria dos seringais é plantada em áreas de pastagem. Em povoamentos jovens, esta gramínea “rouba” com eficiência todo adubo da seringueira e atrasa consideravelmente o seu crescimento.
Adubação adequada tem que levar em consideração o fornecimento de magnésio e micronutrientes, principalmente o chamado “grupo do ferro”: ferro, cobre, zinco e boro. É comum observar seringais com deficiências de magnésio (a formulação para seringueira deve ser NPK + MG). Uma vez instalados os sintomas de deficiência destes nutrientes, a recuperação é penosa e demorada.
Por outro lado, tudo deve ser feito para haver um bom crescimento do sistema radicular em profundidade. A adubação fosfata no início da implantação é de fundamental importância para que haja um crescimento da raiz em profundidade, propiciando resistência aos veranicos. Lembre-se que se trata de uma planta perene. Logo, será importante não “morrer de sede” durante os veranicos.
Orientação é fundamental
Nunca ignore uma boa assistência técnica. Consulte sempre os engenheiros florestais dedicados a esse cultivo. Troque experiências nas associações estaduais e valorize a produção de sementes, pois elas ajudam a reduzir os custos de manutenção do seringal. Observe o desenvolvimento dos diversos clones. Um clone bom garante o sucesso, ao mesmo tempo que clones ruins inviabilizam o cultivo.