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Consorciação de mamão e outras culturas

Deniete Soares MagalhãesPós-doutoranda na Universidade Federal de Lavras (UFLA)denieteagro@yahoo.com.br

Mamão – Crédito: Satis

A consorciação é a associação de uma cultura, como o mamoeiro, com uma ou mais, numa mesma área, podendo o mamoeiro ser consorciado com culturas perenes ou anuais, atuando como cultura intercalar ou principal.

Dentre as vantagens do cultivo consorciado podemos citar: melhor utilização da área, diminuição de riscos de perdas totais por fatores imprevistos, melhor uso dos recursos ambientais, maior produção de alimentos por área, estabilidade de rendimento, melhor proteção contra o ataque de pragas, doenças e plantas daninhas, melhor utilização de mão de obra familiar, melhor controle da erosão, diversificação da dieta alimentar, além de proporcionar diversificação da fonte de renda.

Culturas para serem consorciadas com mamão

Por apresentar um ciclo, em média, de dois a três anos, o mamoeiro pode ser intercalado com plantas de ciclo curto ou permanentes. Dentre as culturas de ciclo mais curto, consideradas temporárias, verificam-se em pomares comerciais consórcios de mamoeiro com feijão, milho, arroz, batata-doce, amendoim, leguminosas para adubação verde, entre outras.

Já com culturas permanentes tem sido consorciado com macadâmia, café, graviola, goiaba, acerola, manga, citros, coco, abacate, entre outras, principalmente com o objetivo de amenizar o custo de implantação destas lavouras, uma vez que o controle de plantas daninhas, a adubação e a irrigação poderão ser comuns às culturas consorciadas.

No caso de coberturas vegetais/adubos verdes, as espécies mais recomendadas para o consórcio com o mamoeiro são feijão-de-porco (anual), crotalárias (anuais), calopogônio (perene), amendoim forrageiro (perene) e braquiária ruziziense (perene).

Manejo

Para o consórcio, devem ser observados vários aspectos, tais como: identificação de culturas apropriadas, espaçamentos compatíveis, ciclo das culturas e o sistema de manejo das culturas associadas. Após a escolha das culturas a serem consorciadas, o primeiro passo é a definição do espaçamento ideal de cada uma delas.

O segundo passo é a montagem do arranjo de plantas mais adequado, levando em conta os benefícios que podem proporcionar, a facilidade no manejo e outros fatores.

No caso do café, que necessita de sombreamento após sua instalação, especialmente em regiões mais quentes, em consórcio com o mamoeiro este irá proporcionar um sombreamento adequado, com a diminuição de temperatura junto à muda.

O mamão entrará em fase de queda de rendimento no mesmo período em que o café começará a entrar em produção, ou seja, após três anos da implantação do consórcio. Dessa forma, o mamão viabilizará a fase inicial e improdutiva do café, proporcionando a geração de renda neste período.

Normalmente, o mamão é plantado na mesma linha do café, pois nesse espaçamento é possível mecanizar e trabalhar na entrelinha com roçadeiras e uso de tração animal. Pode-se, ainda, diversificar mais o consórcio plantando, por exemplo, com adubos verdes na entrelinha de cultivo entre o mamão e café.

Mais produtividade

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Com esse processo é possível utilizar um menor espaçamento para um maior número de plantas, aproveitando o melhor período de plantio e safra de cada alimento, o que permite maior produção e evita que a terra fique inutilizada.

Em um estudo realizado no norte de Minas Gerais, onde foram testados a consorciação entre café e mamão, foi possível comprovar a viabilidade e retorno econômico superiores do consórcio em relação ao monocultivo do café, em que o cultivo do mamão gerou elevados saldos de caixa, enquanto a produtividade, tanto do café quanto do mamão, se mantiveram estáveis, proporcionando uma maior produção total por área.

Porteira adentro

No Espirito Santo, o clima adverso fez com que os produtores aderissem ao consórcio de culturas, por proporcionar duplo benefício ao produtor e um melhor aproveitamento a longo prazo do solo.

Os resultados foram animadores, especialmente no consórcio entre café e mamão, de forma que cada vez mais está sendo utilizada essa consorciação no período de implantação do café. No norte do Estado do Espírito Santo, o mamoeiro foi consorciado em grande escala com a macadâmia durante a implantação desta cultura, no município de São Mateus (ES).

Erros frequentes

Um dos principais cuidados a serem tomados é que a cultura consorciada com o mamoeiro não venha a se constituir uma ameaça à fitossanidade, como hospedeira de pragas do mamoeiro ou de vetores de doenças (virose), como é o caso do consórcio com as cucurbitáceas (abóbora, melancia, melão e pepino), que são plantas hospedeiras de pulgões que podem transmitir o vírus da mancha anelar ao mamoeiro.

Outro cuidado que deve ser observado é quanto à aplicação de agrotóxicos. É necessário que as culturas intercalares não demandem aplicação de agrotóxicos que não estejam registrados para a cultura do mamão no Brasil, o que se torna ainda mais importante para o produtor que pretende certificar sua produção para atender os mercados de melhor remuneração.

Como evitar erros

Ao se planejar o consórcio, uma avaliação criteriosa deve ser realizada para que não haja comprometimento quanto aos aspectos fitossanitários e aos tratos culturais necessários para a cultura do mamoeiro.

Além disso, para um melhor rendimento, deve-se fazer análise do solo e uso correto de nutrientes, bem como um preparo de solo adequado, com manejo mais sustentável, de forma a evitar a compactação do solo e permitir a incorporação de matéria orgânica e um bom reservatório de água no solo, proporcionando a manutenção de níveis adequados dos atributos do solo (físicos, químicos e biológicos) para que as plantas desenvolvam raízes mais profundas, e as plantas apresentem maior longevidade e produção.

Investimento x retorno

O custo-benefício da consorciação de mamão e outras culturas é, sem dúvida, positivo, desde que se atente para os pré-requisitos básicos necessários e se faça um bom planejamento, para que não ocorra competição por recursos entre as culturas.

Além de permitir o aumento de renda por área, especialmente em períodos iniciais não produtivos de uma determinada cultura, pode apresentar vantagens do ponto de vista ambiental, por proporcionar o cultivo de forma mais sustentável.

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