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Daninhas: O momento certo de controlá-las na cenoura

João Paulo Diniz dos SantosGraduando em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)joaopaulo.conteagro@gmail.com

Roberta Camargos de OliveiraEngenheira agrônoma e pós-doutoranda – ICIAG-UFUrobertacamargoss@gmail.com

Fernando Simoni BacilieriEngenheiro agrônomo e doutor em Produção Vegetal – ICIAG-UFUferbacilieri@zipmail.com.br  

Cenoura – Crédito: Shutterstock

O período de convivência entre a planta daninha e a cultura é o fator que mais afeta o desenvolvimento da cenoura. Podemos classificar em três períodos em função de sua época e extensão.

O intervalo de tempo após a semeadura que a planta pode conviver com a planta daninha sem que seja afetada negativamente refere-se ao período anterior à interferência (PAI); o  período em que a cultura deve ser mantida livre de plantas daninhas para que não ocorram danos negativos refere-se ao período total de prevenção à interferência (PTPI), e o período em que as plantas devem ser controladas obrigatoriamente refere-se ao período crítico de prevenção à interferência (PCPI), que encontra-se situado entre os limites superiores de PAI e PTPI.

Pelo conhecimento destes períodos determina-se o momento mais adequado para realizar o controle de plantas daninhas.

Prejuízos

A cenoura pode ser caracterizada por possuir talos finos e muito sensíveis, alta população e lento crescimento, com isso, essa cultura torna-se bastante vulnerável à presença de plantas daninhas.

A não utilização de métodos de controle inviabiliza o cultivo da cultura, portanto, é essencial o uso de técnicas que tornem mais precoce a ocupação e o fechamento das linhas, realizando assim o controle cultural.

As perdas causadas por plantas daninhas à cultura da cenoura variam de 39 a 50%, segundo Willian e Warre (1975). A maior competição de plantas daninhas com a cenoura é até 20 dias após a germinação, podendo ocasionar perdas de 100% à cultura. A convivência da cenoura com altas infestações de plantas daninhas reduz o diâmetro, comprimento e enchimento das raízes tuberosas, e em consequência drástica a queda na produção e qualidade das cenouras.

Assim, o controle de plantas daninhas em lavouras de cenoura é um dos elementos de maiores despesas no custo de produção, porém, com a adoção do Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD), melhores resultados podem ser obtidos. 

Todo cuidado é pouco

A maioria das plantas infestantes apresentam rápida germinação e emergência, ciclo curto e desenvolvimento acelerado, com alto poder de reprodução e dispersão de sementes. Algumas espécies apresentam crescimento vigoroso e podem abafar ou impedir que a cultura principal se desenvolva, e isso gera quedas consistentes na produção.

Apesar de não se valorizar a qualidade do produto na mesma proporção de sua quantidade disponibilizada e aspectos visuais, pesquisas têm demonstrado que o efeito da competição das plantas infestantes afeta a qualidade das raízes de cenoura, com redução na acidez total e menor relação de sólidos solúveis.

Controles preventivo e curativo

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O uso de coberturas de solo vem crescendo no cultivo de hortaliças, como restos de materiais vegetais, entre outros, com intuito de fazer uma melhor manutenção de umidade e temperatura, evitar degradações do solo e também controlar plantas daninhas.

Em cenoura, apesar de ainda ser pouco utilizado, é preciso realizar mais testes para encontrar alternativas viáveis do ponto de vista técnico e econômico deste método de controle, especialmente em cultivos orgânicos, onde a restrição para controle é mais expressiva que o cultivo convencional.

Na maioria das situações, apenas as ações preventivas não são suficientes para controlar de maneira total as plantas daninhas, contudo, empregam-se outros métodos em associação, principalmente o químico, representado pelos herbicidas.

A escolha do produto mais adequado deve levar em consideração vários aspectos. Em especial a cultura, quais espécies indesejáveis estão na área, característica do produto (princípio ativo, seletividade, período de residual, modo e época de aplicação), histórico da área e caracteres edafoclimáticos da região de cultivo.

Pré-emergente e pós-emergente

Basicamente, os herbicidas são divididos em dois grupos: pré-emergente e pós-emergente da cultura e da planta daninha.

O manejo em pré-emergência é realizado aplicando herbicida diretamente ao solo, tendo assim o controle durante ou após a germinação das sementes de infestantes, inibindo a formação de plântulas.

Esse manejo visa a redução da infestação da área devido aos grandes bancos de sementes de plantas daninhas, podendo ser subdividido em pré-plantio incorporado (PPI) ou pré-plantio sem incorporação.

Para recomendação desses herbicidas, é fundamental saber os teores de argila no solo, teor de matéria orgânica e a umidade, sendo recomendadas doses maiores em áreas com menores teores de argila e umidade próxima à capacidade de campo.

Em pré-emergência tem-se Linuron (0,99 – 1,98 kg ha-1 i.a.) e Prometryne (0,96 – 1,60 kg ha-1 i.a.), recomendado para folhas largas (dicotiledôneas). Esses apresentam baixa solubilidade em água, portanto, são pouco lixiviados. Oxadiazon (1,00 kg ha-1 i.a.) é recomendado para folhas estreitas (gramíneas), e apresenta alta solubilidade em água, porém, é pouco lixiviado devido à forte absorção com os coloides do solo.

No manejo em pós-emergência deve-se optar por produtos ou moléculas que sejam seletivos, para que não ocorra um mal posicionamento de herbicida, provocando assim perdas de produtividade. É necessário que esses consigam realizar o controle das plantas daninhas sem afetar a cultura.

Vale ressaltar que para obter um controle mais eficiente recomenda-se fazer em pós-emergente inicial, o que considera-se quando as monocotiledôneas apresentam de dois (2) a quatro (4) perfilhos, e as dicotiledôneas de duas a três folhas.

Os herbicidas em pós-emergência englobam: Clethodim (0,08 – 0,11 kg ha-1 i.a.), Fenoxaprop (0,07 – 0,11 kg ha-1 i.a.) e Fluazifop (0,09 – 0,25 kg ha-1 i.a.), ambos recomendados para folhas estreitas (monocotiledôneas), sendo rapidamente absorvidos pelas folhas.

Portanto, são pouco lixiviados. Em solos com umidades não excessivas, podem apresentar um efeito residual de três semanas. Já em solos úmidos esse tempo é menor devido à melhor ação dos microrganismos que atuam na decomposição desses herbicidas.

Inovações

Com a dificuldade do controle de plantas infestantes, os adjuvantes se apresentam como opções positivas em associação com os herbicidas, auxiliando no manejo, por melhorarem a aderência dos produtos às folhas.

Portanto, empresas buscam produtos inovadores que possam auxiliar os herbicidas a realizar sua função, por meio da melhoria em aspectos físico-químicos, como resistência à evaporação, maior penetração e translocação das moléculas do produto nas plantas.

O Rizospray Integrum é um exemplo de produto que pode ser associado aos graminicidas que aumentam a ação do herbicida. Por meio da homogeneização com a mistura de água e óleo, forma uma microemulsão termodinamicamente estável, fundamental para melhorar a boa aderência na planta e driblar as resistências de controle de espécies de difícil controle, como capim-amargoso (Digitaria insularis) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica).

Por outro lado, novos testes associando adjuvantes com as formulações dos produtos (herbicidas) para fornecer um único produto integrado, associado com o adjuvante de melhor performance, têm sido realizados.

Influência direta

Fatores ambientais podem alterar a eficácia dos herbicidas, principalmente o clima, umidade, vento, dentre outros. Clima seco e baixa umidade do ar podem afetar a absorção das plantas, assim como chuvas após aplicações podem levar à perda de 100% da eficiência do produto.

Aplicações direcionadas ao solo e umidade do mesmo são fundamentais para alcançar sucesso no controle. Ainda, ventos acima de 12 km/h tornam inviável a aplicação dos produtos, devido ao alto risco de perda do produto por deriva.

É importante observar o aspecto das plantas, como o grau de desidratação (estresse hídrico) e turgidez das folhas, para que se possa obter o resultado esperado, bem como doses recomendadas de acordo com os estádios que as plantas daninhas se encontram, associação com adjuvantes, regulagem de equipamentos de aplicação, manutenção e aferições de bicos, limpeza de filtros e afins de acordo com o conhecimento dos produtos escolhidos para a aplicação.

A recorrência dos erros gera problemas difíceis de resolver a longo prazo, como lidar com plantas resistentes, insensíveis ao controle devido a manejos inadequados, em especial referente à dose e intervalo de aplicação, sem atender as necessidades de rotação de princípio ativo na área e observância do histórico de área: monitoramento e registro de aplicações já realizadas.

Soluções

Os erros podem ser minimizados com a adoção de MIPD e orientação técnica efetiva de um profissional (agrônomo). Apesar da facilidade, comodidade e expressiva eficiência da aplicação de herbicidas (químicos), é preciso entender que os custos gerados pelo uso exclusivo da técnica trouxeram, ao longo das décadas, dificuldades de controle de alguns grupos de plantas que podem até mesmo inviabilizar a atividade agrícola, o que exige um novo olhar do agricultor para o controle de plantas daninhas e uma necessidade indispensável de associar os demais métodos disponíveis.

Ao deixar outras formas de controle inutilizadas, favorecemos o risco do aparecimento de plantas daninhas resistentes, devido ao uso contínuo do mesmo ingrediente ativo, repetição de aplicações e utilização de maiores doses, que provocam também maiores riscos para a saúde humana e ao ambiente.

Entenda melhor

A prevenção de agentes que geram prejuízos à lavoura (bióticos e abióticos) precisa ser entendida como investimentos para se obter, a longo prazo, maiores retornos da atividade. Além disso, o controle curativo, com aplicação dos herbicidas, eleva consideravelmente o custo de produção e pode representar elevado custo ecológico, como contaminação de corpos hídricos, pelo efeito cumulativo de moléculas de mesma estrutura no solo, que podem gerar desequilíbrios na população de microrganismos e também pelo potencial impedimento de cultura subsequente, de acordo com o período residual do produto, efeito chamado de carryover.

Do ponto de vista social, o uso contínuo exclusivo ou majoritário de controle curativo apresenta a desvantagem de expor com frequência o trabalhador rural ao preparo e distribuição dos produtos. Ao considerar que alguns produtos são altamente tóxicos, quando se realiza um conjunto de ações que englobam outras ferramentas (MIPD), há um processo de ganho de eficiência de controle e também de qualidade do ponto de vista econômico, ambiental e social. 

Cultivo orgânico

Em busca de uma alimentação saudável e a preservação do ambiente, o cultivo orgânico vem ganhando espaço no mercado. Neste sistema, o controle químico não é permitido, o que dificulta o controle de plantas daninhas, sendo necessário associar os demais métodos.

No passado, predominou o uso de cobertura morta, formação de palhada no plantio direto, controle manual e mecânico. Recentemente, porém, é possível encontrar o uso de alternativas promissoras, como o uso da eletrocussão: capina feita por descarga elétrica.

Esse sistema se baseia na transmissão de energia por eletrodos que entram em contato diretamente com a planta, sendo a quantidade de energia passada para a planta suficiente para matá-la.

Equipamentos estão sendo desenvolvidos por empresas privadas em consórcio com instituições de pesquisa para viabilizar este segmento de controle e torná-lo mais acessível e eficiente.

Em 2006, a Fundação Pró-Café realizou o controle de trapoeraba (Commelina spp.) por eletrocussão, o que foi considerado um expressivo avanço, uma vez que esta espécie apresenta resistência a herbicidas. O método apresentou 95% de controle da população de plantas daninhas. Vantagens adicionais referem-se à ausência de danos do método à saúde ou ambiente.

Outro método físico é o flamejamento, que consiste na transmissão de calor de forma direta, com a aplicação de chamas, ou indireta pela radiação térmica – infravermelho. Apesar de pouco difundido no Brasil, o método é amplamente utilizado na Europa e Estados Unidos.

Diferente do que muitos pensam, o método não provoca a queima da planta, mas sim um distúrbio fisiológico devido à excessiva temperatura, que causa desnaturação de células e proteínas. Por não ser seletivo e mostrar-se de rápida ação (exposição por 0,65 – 0,13 segundos a uma temperatura de 55 – 94ºC), apresenta alto potencial de expansão em futuro próximo.

Eficiência

O manejo eficiente de plantas infestantes no cultivo de cenoura pode ser obtido pela associação de técnicas de manejo e conhecimento técnico sobre os aspectos fisiológicos da cenoura, das plantas infestantes e interação entre elas.

O monitoramento das áreas resulta na tomada de decisão de qual método, em qual época, de que forma e que produtos e equipamentos utilizar. Com o uso mais racional e integrado das possibilidades de controle, é possível obter ganhos de eficiência de controle, em consequência maior lucratividade da atividade agrícola e, também, ganhos de qualidade do ponto de vista econômico, ambiental e social. 

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