Daniele Maria do Nascimento – daniele.nascimento@unesp.br
Marcos Roberto Ribeiro Junior – marcos.ribeiro@unesp.br
Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP – Botucatu
O mulching é uma técnica que recobre a superfície do solo de modo a proteger o cultivo da incidência de plantas daninhas e infestação de insetos, controlar umidade e temperatura e evitar o contato direto dos frutos com o solo. O plástico filme é o principal material utilizado para esse fim, mas há também o mulching orgânico, feito de resíduos aproveitáveis, como as palhadas.
Ao contrário do plástico, o mulching orgânico irá perder seu efeito após um ou dois anos de uso, mas apresenta alguns benefícios em relação a esse primeiro: aumenta o teor de matéria orgânica do solo, melhorando significativamente a estrutura do solo.
Opções
Em relação ao mulching plástico, ao menos dois tipos podem ser encontrados: os dupla face (preto e branco ou preto e prata) e o preto. O dupla face é usado com o lado preto voltado para baixo, desse modo, com a parte mais clara em cima, a temperatura do solo é aliviada, evitando a queimação das folhas e frutos e, ao refletir a luz, direcionando-a para as folhas, auxilia na fotossíntese, repete insetos e evita o desenvolvimento de fungos foliares.
O mulching preto, por sua vez, retém a temperatura do solo e, por isso, é recomendado para regiões mais frias.
Resultados na cultura da beterraba
Na cultura da beterraba, a convivência com as plantas daninhas pode limitar consideravelmente a produtividade. Um dos fatores que desfavorece as plantas de beterraba nessa briga por luz, água e nutrientes é o seu porte baixo. Em pouco tempo, as plantas daninhas tomam conta da lavoura e podem causar reduções na produtividade em mais de 70%. Em alguns casos, pode chegar até mesmo a 100%.
As plantas daninhas também abrigam insetos e patógenos, e sua eliminação é essencial para o bom desenvolvimento da cultura. A capina, no entanto, se não realizada com cuidado, devido ao espaçamento estreito das plantas, pode danificar as raízes da beterraba.
Outra alternativa são os herbicidas, mas no caso de cultivos orgânicos ou agroecológicos, não são permitidos. É nesse contexto que o mulching ganha importância na cultura da beterraba.
A cobertura do solo, ao propiciar menor incidência de luz, afeta negativamente a germinação de sementes de plantas daninhas. É uma excelente alternativa não só no controle, como também para economia de tempo e mão de obra, caso fosse realizada a capina.
Sem concorrência
A palha de café e o bagaço de cana-de-açúcar, quando usados como cobertura, reduzem a ocorrência de plantas daninhas, que são fisicamente impedidas de emergir. No entanto, o uso da palha pode ser ineficaz em alguns casos, principalmente se conter sementes de plantas daninhas, gerando uma infestação secundária.
A espessura da cobertura também influencia no controle. Menores infestações de plantas daninhas são observadas em coberturas vegetais com 4,0 a 10 cm de espessura. Alguns trabalhos demonstraram que a cobertura morta com centeio reduziu em até 100% a incidência de plantas daninhas em cultivos de beterraba.
Em outros estudos, a cobertura com palha de cevada e compostos de cogumelos também foram eficientes no controle, e ainda se observou um incremento na produção, com ganhos de sete a 10 vezes mais em comparação com o rendimento das parcelas em que não foram usadas coberturas para controle das plantas daninhas. Ao manter a umidade do solo, o mulching também contribui para a maior eficiência no uso da água.
O que vai determinar na escolha do mulching orgânico é a disponibilidade do material na região, mas são muitas as opções que podem ser empregadas para esse fim, além, claro, do mulching plástico.
Controle de doenças
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Uma das principais doenças que ocorre nessa cultura é a cercosporiose, causada pelo fungo Cercospora beticola. O patógeno ataca as folhas e, inicialmente, os sintomas são pequenas pontuações que evoluem para lesões maiores.
À medida que a doença avança, essas lesões podem necrosar e o tecido lesionado se desprende da folha. Além de ocorrer perda da área foliar, a planta ainda tenta repor essas folhas, desviando reservas do tubérculo e diminuindo assim, o rendimento.
Condições de alta temperatura e umidade favorecem o desenvolvimento do patógeno. Sendo assim, a cobertura do solo com restos vegetais pode diminuir a umidade nas folhas do baixeiro, desfavorecendo a ocorrência da doença.
É claro que essa é apenas uma das medidas recomendadas no controle da cercosporiose. O ideal é o produtor realizar o manejo integrado, ou seja, utilizar de vários métodos, como mulching, controle químico, rotação de cultura, entre outros.
O mulching ainda atua formando uma barreira física entre as folhas da planta e os patógenos de solo, evitando o contato entre eles. Em outras culturas, patógenos como Sclerotinia sclerotiorum, agente causal do mofo-branco, são controlados por meio dessa técnica.