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segunda-feira, dezembro 30, 2024
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Cultivo de coco

Humberto Rollemberg Fontes humberto.fontes@embrapa.br

Maria Urbana Corrêa Nunes maria-urbana.nunes@embrapa.br

Emiliano Nassau Costa emiliano.costa@embrapa.br

Francisco Elias Ribeiro elias.ribeiro@embrapa.br

Engenheiros agrônomos e pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros

Coco – Fotos: Saulo Coelho

No cenário mundial, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) de 2019, o Brasil ocupa a quinta colocação entre os maiores produtores de coco, com uma fatia de 3,9% da produção total, com 2,33 milhões de toneladas produzidas, atrás apenas de Indonésia, Filipinas, Índia e Sri Lanka. O nosso país, entretanto, possui a mais elevada produtividade comparada aos principais produtores, rendendo mais de 8 mil frutos por hectare.

Em âmbito nacional, o Nordeste é o grande destaque na produção, com 1,13 bilhão de frutos colhidos do total de 1,55 bilhão de todo o país em 2019, segundo dados do IBGE. O Sudeste e o Norte ocupam o segundo e terceiro lugares, respectivamente, com 216 milhões e 185 milhões de frutos colhidos. Em termos de produtividade, o Sudeste está à frente, com 15 mil frutos por hectare, seguido pelo Centro-Oeste, com 11,8 mil e Norte, com 9,9 mil.

Os Estados que mais se destacaram na produção em 2019 foram Bahia, com 333,7 milhões de frutos colhidos, Ceará, com 302,7 milhões, Pará, com 175,2 milhões, Sergipe, com 152,8 milhões, Espírito Santo, com146 milhões e Pernambuco, com 143,5 milhões.

Apesar de ter apresentado redução na área cultivada e na produção nos últimos cinco anos, devido a diversos fatores nos cenários nacional e global – clima, aumento de concorrência internacional e outros –, a cocoicultura brasileira gerou perto de R$ 1 bilhão em valor da produção em 2019, com 188 mil hectares de área plantada.

Em termos de empregos gerados, estudos na área estimam que cada hectare de coco ocupa, em média, três pessoas em emprego direto e que cada emprego direto gera quatro empregos indiretos. Considerando a área colhida, chega-se a mais de 560 mil empregos diretos e mais de 2,25 milhões de empregos indiretos gerados ao longo da cadeia produtiva do coco.

O coco verde pode ser colhido a cada 20-35 dias. As estações climáticas definem apenas a intensidade do consumo de água de coco, sendo de 56% no verão; 19% no outono, 19% na primavera e apenas 6% no inverno. A oferta e a demanda são maiores no período de maior afluência de turismo no litoral brasileiro e de férias escolares. Neste último, o aumento do consumo parece estar associado à substituição do refrigerante e de isotônicos pela água de coco.

Custos envolvidos

Levando em conta o custo estimado de produção de 35 centavos por fruto, os custos iniciais de implantação de um plantio de coqueiro anão são projetados em torno de R$ 10 mil por hectare, com cerca de 205 plantas, mais R$ 5 mil por hectare para implantação de sistema de irrigação automatizado. O retorno do investimento vem a partir do quarto ano da plantação, e a estabilização da produção se dá de cinco a seis anos.

É importante ressaltar que o produtor tem possibilidade de incremento de ganhos nos primeiros anos de cultivo por meio de plantio de culturas consorciadas nas linhas do coqueiro, aproveitando o sistema de irrigação, a exemplo de fruteiras semi-perenes como banana e mamão, ou cucurbitáceas como abóbora e melão.

Nas entrelinhas é possível plantar culturas de ciclo curto, como milho e feijão, em sequeiro, ou até mesmo a mandioca irrigada. A depender do rendimento da produção, essas culturas consorciadas nos primeiros anos podem chegar a cobrir completamente os custos de produção do coqueiro.

Destino

No Brasil, os cultivos destinam-se à produção de coco seco in natura, coco ralado, leite de coco, óleo de coco e outros, derivados do coco seco, e água de coco, a partir do coco verde. As variedades de coqueiro mais utilizadas, conforme suas aptidões, são a Gigante do Brasil da Praia do Forte (GBrPF) para coco seco, e a Anão Verde do Brasil de Jiqui (AVeBrJ) para água de coco.

Plantios com cultivares híbridas, resultantes de cruzamentos das variedades Gigante e Anã, têm apresentado expansão em área plantada no Brasil na última década, pois caracterizam-se pela produção de frutos com dupla aptidão de uso, proporcionando ao produtor a possiblidade de definir a fase de maturação e colheita de acordo com as demandas de mercado.

Ao contrário do que ocorre com a variedade Gigante, cultivada em sequeiro e com baixo nível tecnológico, os plantios com a variedade Anão caracterizam-se, em sua maioria, pela utilização de sistemas intensivos de produção.

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A cultivar que se destaca no cenário nacional é a de coqueiro-Anão-verde pela sua alta produtividade, de 150 a 200 frutos/planta/ano, precocidade e longevidade de produção comercial, estimada em 40 anos. Caracteriza-se por apresentar crescimento mais lento, porte mais baixo, folhas menores, maior precocidade de produção – iniciada entre dois e três anos, melhor sabor da água que é rica em sais minerais, principalmente potássio.

Solo

A cultura do coqueiro requer solos arejados, com boa profundidade e de fácil drenagem. São recomendados os solos arenosos ou franco-arenosos, devendo-se evitar aqueles muito pesados, principalmente, os com argila 2:1.

O terreno deve apresentar, preferencialmente, topografia plana ou ligeiramente ondulada e, quando em áreas com declive superior a 3%, devem ser adotadas práticas de conservação para redução das perdas de solo e de água por erosão hídrica. Não é recomendável a implantação de coqueirais em encostas íngremes.

As classes de solo predominantes nas áreas de produção de coco do País são Neossolos Quartzarênicos e Espodossolos formados por sedimentos arenoquartzosos. Estes são solos pouco evoluídos, com teor de areia na fração textural superior a 90%. Solos arenosos apresentam, em geral, baixa fertilidade natural, baixa capacidade de retenção e elevado fluxo de água, maior variação de temperatura em relação a outros tipos, decomposição elevada da matéria orgânica (MO), alta porosidade e baixa agregação.

Todas essas características são fundamentais para o desenvolvimento da planta e devem ser consideradas, quando da seleção das práticas culturais e de manejo do solo que serão utilizadas na propriedade.

Clima

As melhores condições ambientais para o bom desenvolvimento do coqueiro são climas quentes e úmidos sem grandes variações diárias de temperatura. O coqueiro requer precipitação em torno de 1.500 mm/ano, bem distribuída durante o ano, o que não ocorre na maior parte das regiões produtoras, sendo que na planície litorânea a proximidade do lençol freático ameniza a deficiência hídrica durante os meses de estiagem. As condições meteorológicas interferem de diferentes modos no desenvolvimento do coqueiro, dependendo da região onde é cultivado.

A proximidade do mar no litoral do Nordeste não permite grandes oscilações de temperatura, que permanece em torno de 27º C, durante quase todo o ano, sendo altamente favorável ao cultivo do coqueiro. Em todas as regiões cultivadas com coqueiro no Brasil, a radiação fotossinteticamente ativa é satisfatória.

Cultivares

O primeiro passo é identificar o objetivo final, ou seja, se o interesse é em se produzir água de coco ou na produção de albúmen sólido. Caso o foco da produção seja água de coco a escolha recairá em uma cultivar de coqueiro anão. Já se a opção for a produção de albúmen sólido deve-se optar por um híbrido.

Selecionar uma cultivar que tem sido altamente produtiva e estável ao longo de vários anos e em múltiplos locais proporciona uma boa indicação de sua performance e estabilidade, aliados ao uso da tecnologia, como o manejo correto por parte do produtor minimizam o risco de uma falha. Se esses dados não estão disponíveis, os produtores devem procurar por informações em instituições de pesquisa.

A maioria dos produtores utilizam sementes de suas próprias populações para novos plantios e renovação dos seus coqueirais quando interesse é plantar gigante e anão. Para a variedade gigante, as plantações são originadas de sementes coletadas de populações que foram prospectadas e identificadas como puras da variedade.

Em relação à variedade anã, o mais plantado é o Anão Verde de Jiqui, que é o preferido pela grande maioria dos produtores de coco do Brasil. Para o plantio de híbridos, não é recomendado o uso de sementes das próprias populações, para se estabelecer novos plantios.

As plantas obtidas a partir de sementes oriundas de frutos híbridos serão diferentes entre si, levando a perda de produtividade e degeneração da plantação. Dessa forma, é necessário comprar sementes híbridas de produtores credenciados pelo Ministério da Agricultura. No Brasil, a Embrapa possui três híbridos registrados junto ao Ministério da Agricultura – BRS 001, BRS 002 e BRS 003.

Colheita e pós-colheita

A colheita do coqueiro-anão inicia-se a partir de três a quatro anos do plantio, podendo ser realizada a cada 20 a 35 dias, de acordo com os respectivos sistemas de produção, condições climáticas e mercado.

O fruto, quando destinado ao consumo in natura ou ao envasamento, deve ser colhido verde com seis a oito meses de idade, fase em que se obtém maior volume de água e concentração de açúcares.

Na colheita utiliza-se, comumente, uma vara com pequena foice na extremidade para cortar o pedúnculo do cacho, e um gancho de alumínio para sustentá-lo e evitar seu impacto sobre o solo, o que provoca rachadura nos frutos. Para plantas mais altas, utiliza-se escada, sendo o cacho preso por uma corda para ser trazido ao solo.

Uma vez colhido, o fruto é transportado, embalado e armazenado, conforme as exigências dos mercados a que se destina. Pode ser transportado a granel no próprio cacho, tendo-se o cuidado de cortar a ponta dos ramos florais para evitar ferimentos; a granel por unidade, retirando-se cada fruto do cacho com o auxílio de uma tesoura de poda, deixando intacto o cálice e um pedaço do ramo floral para prevenir a entrada e o desenvolvimento de microrganismos e consequentes perdas; em sacos trançados de polipropileno de 20 kg; e, para atender alguns nichos de mercado, pode ser envolvido com filme PVC de 0,015 mm e embalado em caixas de papelão.

O ideal é transportar sempre a carga de coco verde em horários de temperaturas mais amenas ou em caminhões refrigerados para a melhor preservação da qualidade sensorial da água de coco entre a colheita e o consumo final. No ponto de distribuição deve ser armazenado em galpões bem arejados e secos.

A durabilidade do coco verde é de 15 dias, quando armazenado em temperatura ambiente acima de 20ºC. Esta durabilidade pode ser prolongada por mais oito dias, se o coco for armazenado em câmara fria a 12ºC. Também poderá alcançar 30 dias, mantendo perfeita a aparência externa do fruto e a qualidade da água, se envolvido com filme PVC ou película biodegradável desenvolvida pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ) e armazenado a 12ºC.

Na colheita do coco ‘Anão’ seco, destinado para a indústria ou para semente, o cacho é derrubado com o auxílio da vara de colheita, quando os frutos alcançam 11 a 12 meses de idade. Em seguida, é descascado no campo e transportado em caminhões truck para a indústria de beneficiamento ou para os centros consumidores. Os frutos destinados a sementes são selecionados no campo quanto a aparência, sanidade e grau de maturação, e encaminhados para as áreas de viveiro.

Aproveitamento de resíduos

O cocoicultura no Brasil e no mundo gera uma grande quantidade de subprodutos e resíduos. No Brasil, são produzidos anualmente mais de 1,5 bilhão de cascas, mais de 300 milhões de folhas que caem naturalmente da planta e mais de 300 milhões de cachos com ramos florais e brácteas, o que corresponde mais de 2 milhões de toneladas de resíduos.

Atualmente, a maioria das cascas de coco, folhas e cachos do coqueiro são queimados ou descartados como lixo nas propriedades rurais produtoras de coco, e as cascas de coco verde residuais do consumo in natura nos centros urbanos representam grande volume sólido e um problema crescente para a coleta de lixo e deposição nos lixões e aterros.

Quando queimados produzem substâncias poluidoras do meio ambiente, quando descartados constituem meio adequado para procriação de animais peçonhentos e insetos vetores de doenças, servindo como agente poluidor do meio ambiente e de risco para a saúde dos trabalhadores rurais.

Soluções sustentáveis

As pesquisas avançaram muito na validação de soluções sustentáveis de aproveitamento de todos os resíduos da produção de coco. As cascas, na forma de “briquetes” ou “blocos prensados”, podem ser aproveitadas como carvão vegetal em substituição ao carvão de madeira.

O mesocarpo do fruto, constituído por aproximadamente 30% de fibra e 70% de pó consiste, basicamente, em lignina e celulose de lenta biodegradação, levando de oito a dez anos para se decompor na natureza. A fibra tem grande utilidade na indústria de carpetes, estofamento de carros, escovas, placas usadas como isolantes térmicos e acústico, placas de conglomerados, aditivo de gesso na construção civil, cordas, biomantas para contenção de erosão laminar e aplicação para contenção de pragas e plantas daninhas e retenção de umidade em plantios, e confecção de vasos e placas para cultivo de plantas ornamentais.

O pó originado da trituração da casca pode ser denominado de “vermiculita vegetal” por apresentar características físicas semelhantes à vermiculita e constituir excelente matéria-prima infinita e renovável para fabricação de substratos. É hidrofílico, retendo de oito a dez vezes o seu peso em água e apresenta alta porosidade. Destaca-se como melhorador das características físicas e biológicas do meio de cultivo das mais diversas espécies vegetais, constituindo em um excelente estimulador de enraizamento de plantas.

O substrato denominado Coquita, preparado com pó de casca de coco e composto orgânico e enriquecido com o fosfato de rocha hiperfosfato de gafsa, é utilizado para produção de mudas. O epicarpo ou “quenga”, é amplamente usado na fabricação de bijuterias, bolsas e artesanatos. O “paneiro” ou parte fibrosa que se forma no caule junto à base da folha do coqueiro, constitui matéria-prima de grande importância na confecção de artesanatos juntamente com as folhas, fibras, cascas, cachos e brácteas.

O processamento dessa matéria-prima poderá se constituir em uma nova fonte de emprego e renda, desde a fase de coleta até a sua utilização na agricultura e, poderá contribuir com a saúde pública pela redução dos focos de multiplicação de insetos vetores de doenças.

Quanto à repercussão econômica, considerando que uma tonelada de resíduo gera, no mínimo, 400 kg de composto ou de substrato orgânico, o Brasil tem um potencial de produção de até mais de um milhão de toneladas desses subprodutos, podendo gerar uma considerável redução de custos de produção e oportunidades de ganhos aos produtores.

Além disso, o uso desses produtos na produção de mudas poderá gerar um impacto significativo na produção agrícola e no reflorestamento dos estados produtores. Esses produtos, além de constituírem excelentes fontes de matéria orgânica, contribuem como fornecedores de macro e micronutrientes ao solo, que são mineralizados durante o processo de compostagem tornando-se de fácil absorção pelas plantas.

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