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O que são e como agem as coberturas mortas nas hortaliças?

Autores

Luana Keslley Nascimento Casais
luana.casais@gmail.com
Rhaiana Oliveira de Aviz
Emanoel dos Santos Vasconcelos
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Luciana da Silva Borges
Doutora, professora – UFRA e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Horticultura da Amazônia (HORTIZON) e Núcleo de pesquisa em agroecologia (NEA)
luciana.borges@ufra.edu.br

Crédito Shutterstock

As coberturas mortas têm sido amplamente utilizadas por produtores rurais há muito tempo com o intuito de reduzir principalmente a incidência de plantas daninhas na lavoura. Trata-se de uma técnica que usa resíduos muitas vezes descartados, por não serem atrativos para a indústria. Entre eles temos como um dos mais conhecidos pela sua eficiência a palha de arroz, usada tanto in natura quanto carbonizada, com ambas as formas apresentando grandes vantagens para a agricultura.

Estudos recentes realizados pela comunidade acadêmica têm trazido novos materiais alternativos com esta finalidade, que quase sempre são descartados a campo, como leguminosas, o resíduo da soja, algumas forrageiras, resíduos florestais, fibras de coco, entre outros, ricos em nutrientes e que precisam ser reaproveitados.

Do lixo ao adubo

A soja tornou-se uma das culturas mais importantes da economia não só brasileira, mas mundial. No entanto, após seu beneficiamento há uma sobra de material residual dos grãos, que por sua vez muito pouco são utilizados, senão descartados.

Mas, trata-se de uma fonte de grande valia nutricional podendo, ser reaproveitada também como cobertura morta. Casais et al. (2018), avaliando diferentes substratos, observaram que o resíduo de soja mostrou ser um substrato ideal por proporcionar às plantas de pimentão um maior crescimento e número de frutos em relação aos demais tratamentos utilizados (palha de arroz e substrato comercial), conferindo a esse tipo de material um papel muito importante na formação de coberturas que sirvam não só como protetoras, mas também nutricionais às plantas.

O açaí

No Estado do Pará um resíduo vem chamando bastante a atenção por ter difícil degradação, o que lhe confere uma boa aptidão para uso como cobertura morta com a finalidade de proteção contra daninhas – caroço de açaí. Após o despolpamento da fruta, em média 16 toneladas de caroço por dia são descartadas apenas na capital do Estado.

Uma parte desse material é utilizada na confecção de móveis, como carvão vegetal e até como fonte de energia alternativa. No entanto, ainda sobra muito resíduo, e para que não venha a se tornar um lixo urbano, seu uso como cobertura morta vem sendo discutido e muito bem recebido pela comunidade produtora de hortaliças.

Coberturas mortas não são apenas inibidoras de plantas daninha. Elas possuem um papel muito mais importante, pois contribuem para a manutenção das propriedades físicas e químicas do solo, reduzem a utilização de produtos agroquímicos na lavoura e melhoram as condições não só de crescimento vegetal, como também de trabalho no campo.

Vantagens da técnica para as hortaliças

O cultivo de hortaliças é uma técnica muito delicada, pois tratam-se de plantas que possuem um ciclo rápido e demandam grande irrigação para o seu bom desenvolvimento, além de requerem uma boa nutrição em curto espaço de tempo. Por conta disso, tem-se a procura incessante por materiais que possam ser utilizados durante a sua produção e que lhes confiram condições apropriadas de cultivo.

As coberturas mortas podem ser originadas de diferentes materiais e, consequentemente, de diferentes estágios de degradação devido à proporção de C/N desses resíduos. A palha de arroz por exemplo é de rápida decomposição devido à sua baixa relação C/N, assim como o caroço de açaí por apresentar essa relação alta e ter bastante lignina em sua composição.

Tais diferenças entre os materiais são vistas como vantagens ao produtor, que poderá escolher o resíduo que melhor satisfizer as necessidades do cultivo. Em se tratando de cultivos mais longos, pode-se utilizar um material que demore mais para degradar, e assim atribua maior tempo de proteção à cultura contra plantas invasoras.

Por outro lado, materiais que possuem uma taxa C/N intermediária tem como vantagem a proteção da liberação rápida de nutrientes para a lavoura. O uso de coberturas minimiza o impacto dos raios solares sobre o solo e mantém a temperatura e umidade ideais para o bom desenvolvimento das hortaliças que necessitam de cuidados diários, além de reduzir a incidência de plantas daninhas, as quais competem com a cultura de interesse por água, luz e nutrientes, afetando diretamente o rendimento esperado.

Manejo

Os resíduos podem ser obtidos por empresas de grãos que descartam seus resíduos, como a palha de arroz e resíduo da soja após a colheita, assim como também podem ser cultivados, no caso das forrageiras e leguminosas. Materiais como caroços de açaí são facilmente encontrados em casas despolpadoras e não conferem nenhum custo de aquisição.

Tais resíduos podem passar pelo processo de curtimento de material até que se obtenha o estado ótimo para sua utilização, assim como podem ser usados in natura no campo. Quando passado pelo processo de curtimento, esse material, além de apresentar aptidão à proteção contra daninhas, também libera nutrientes essenciais ao crescimento das culturas, como N, P e K.

Quando usados in natura, há também a possibilidade de trituração desse material, como o caroço de açaí, encurtando sua fase de curtimento de material e liberação de nutrientes, além de torná-lo mais duradouro a campo, até que seja preciso a renovação dessa cobertura.

O resíduo deve ser espalhado por toda a extensão do canteiro, sem que haja nenhuma parte exposta ao sol, e com uma altura de resíduo apropriada, geralmente utiliza-se a espessura de 5,0 a 10 cm de material sobre canteiro, conforme o arranjo espacial da cultura a ser implantada.

Em termos de produtividade, a utilização de cobertura morta favorece um maior crescimento de plantas e quantidades de frutos por garantir vários atributos supracitados, além de contribuir para manter a integridade da estrutura do solo, reduzindo focos de erosão. Isso mostra que, com a utilização de coberturas mortas, haverá uma redução na utilização de defensivos agrícolas e insumos, como adubos e fertilizantes.

Custo

Por se tratar de uma técnica que utiliza resíduos que são descartados pela indústria, o custo é muito baixo. A casca de arroz é comercializada por algumas indústrias a R$ 1,00 o saco de 30 kg. O caroço de açaí, por conta do grande volume de material produzido, muitas despolpadoras chegam a doar seus resíduos.

A utilização de forrageiras e leguminosas tem um custo um pouco mais elevado, pelo fato de ser necessária a aquisição de sementes, além de todo o manejo de cultivo. Temos como exemplo a leguminosa Crotalaria juncea, sendo que uma embalagem com 3,0 kg tem um custo de R$ 53,00, em média.

Numa escala geral, o custo de aquisição de resíduos que componham a cobertura morta é bem baixo e de fácil acesso.

O custo desses materiais como formação de cobertura morta muitas vezes torna-se tão baixo que os múltiplos benefícios são extremamente vantajosos, conferindo uma relação custo-benefício muito boa para o produtor que opta por esse recurso.

Além de reduzir resíduos que acabam por se tornar lixo urbano ou pilhas de materiais sem uso, também contribui para a redução do uso de agroquímicos como defensivos e fertilizantes, uma das partes do cultivo mais onerosa para o produtor, e ainda melhora os atributos físicos e químicos de solo.

Sendo assim, a utilização desses materiais contribui para o bom desenvolvimento geral de toda a cadeia produtiva e social.

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