Vontade de fazer algo diferente, preocupação ambiental e
busca por um estilo de vida mais tranquilo foram fatores que influenciaram
Vinícius Soares a trocar a vida na cidade pelo campo. Atuando há nove anos e meio
em indústrias de laticínios, o engenheiro agrônomo e gestor comercial encontrou
nos produtos orgânicos um novo rumo para sua carreira e vida pessoal.
No ano passado, Vinícius pediu demissão do emprego. Segundo ele, coragem é
fundamental para buscar os objetivos e abandonar o que está trazendo
infelicidade. “A gente precisa de coragem para mudar, encontrar o caminho. Eu
desejo que todos encontrem seu caminho. A gente tem que ter rotas alternativas,
buscar coisas diferentes para poder viver”, afirma.
O agrônomo trabalhava em uma empresa de laticínios em Poços de Caldas, no Sul
de Minas, há sete anos e meio, mas estava insatisfeito com a vida estressante e
queria dar um novo sentido na carreira. “A vida que estávamos levando não era a
que eu queria e vinha pensando em alternativas. A possibilidade de ir para a
roça veio com a ideia dos produtos orgânicos e da experiência que tinha com
leite”.
Com a pandemia, surgiu a oportunidade do home office, então ele e a esposa, que
é dentista, decidiram mudar de Poços de Caldas para o município de Piumhi, no
Centro-Oeste do estado, onde está localizada a propriedade dos pais dele.
A esposa dele, Virginia Cronemberger, por estar grávida não está atuando na
área, mas pretende conciliar a vida no campo com o consultório odontológico na
cidade. No Sítio Pontal do Araras, na região da Serra da Canastra, ele pôde
colocar em prática um projeto que a família vinha planejando desde 2018. A
produção vegetal e a pecuária voltada para o leite orgânico.
Vinícius conta que, mesmo antes de largar o emprego, já estava empenhado nas
ideias do seu pai, Vagner Soares, de trabalhar com produtos orgânicos. Assim,
naquele ano, iniciou o cultivo de milho e a formação das pastagens orgânicos.
Ele explica que a produção orgânica vegetal já está em fase de certificação.
Em relação à criação de gado, o sistema implantado na fazenda para a produção
de leite das vacas da raça Jersey é o pastejo rotacionado juntamente com
sistema silvipastoril intensivo, que é a combinação de árvores, pastagem e
gado.
Os animais entraram no processo de transição para o modelo orgânico no ano
passado. De acordo com Vinícius, o gado deverá receber a certificação de leite
orgânico ainda em julho deste ano. Ele já se prepara também para produzir o
primeiro queijo da região da Canastra orgânico certificado. Para isso, o
agrônomo lançou a marca Faz o Bem Orgânicos. “Bem-estar é um dos pilares da Faz
o Bem, queremos levar bem-estar para o animal, para as pessoas, para a
comunidade e para nossos consumidores”, diz o produtor rural.
Ele ainda tem outros projetos. Um deles é que o sítio se torne uma unidade
demonstrativa ou fazenda escola do modelo de produção orgânica, com dependência
mínima de insumos externos, baixo custo de produção, aliados à conservação ambiental. Certificação de leite
orgânico
A coordenadora técnica regional da Emater-MG, Alice Beatriz Soares, explica que
para receber a certificação de propriedade de produção orgânica é indispensável
seguir a legislação ambiental e trabalhista, além de realizar auditoria por
meio de empresa contratada ou pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG),
quando grupos formados por produtores e outras partes interessadas se
autocertificam. É necessário também preparar e apresentar um plano de manejo
orgânico.
Em relação à produção de leite, além de observar a legislação, a saúde e o
bem-estar animal são requisitos fundamentais para conseguir a certificação. A
técnica ainda observa que há necessidade de seguir alguns critérios no manejo
do gado, como pastagem por seis horas por dia no período diurno, alimentação
saudável, água limpa e bezerros mamarem preferencialmente na mãe.
Alice Soares ressalta que o processo de conversão para a produção de leite
orgânico dura um ano e meio. “ Um ano para conversão orgânica das pastagens e
da produção de grãos e mais seis meses para adequação do rebanho ao manejo
orgânico”, completa.
Sistema Silvipastoril
No sítio, foi adotado o sistema silvipastoril intensivo com pastejo rotacionado
e irrigado. Vinícius conta que há um ano implantou o sistema na propriedade com
o objetivo de diminuir custos, proporcionar conforto aos animais e ter o
próprio insumo orgânico.
Ele ressalta que a atividade garante bem-estar ao gado e oferece aos animais a
oportunidade de manter sua característica natural de pastoreio.
De acordo com João Inácio Citton, técnico da Emater-MG, a silvicultura é um
sistema que estuda o manejo de florestas, que podem ser naturais ou
artificiais. As naturais, correspondem ao bioma brasileiro, como a Floresta Amazônica
e a Mata Atlântica. Enquanto as artificiais são o pinus, eucalipto, seringueira
e paricá.
No sistema silvipastoril há a integração lavoura-pecuária-floresta, ou seja, há
a integração de árvores, pastagens e gado numa mesma área e ao mesmo tempo. O
técnico ainda ressalta que o modelo é importante, pois diminui o desmatamento e
fornece insumos para a propriedade.