Júlio César Ribeiro
Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Ciência do Solo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
jcragronomo@gmail.com
João Augusto Dourado Loiola
Graduando em Engenheira Agronômica – UFRRJ
joaoaugustodourado@gmail.com
Um ‘milho de baixa estatura’ que vai transformar a produção do cereal mais importante do mundo, possibilitando um novo sistema de produção. O milho de baixa estatura melhora a estabilidade, incluindo melhor resistência à quebra e tolerância de alojamento do caule, a fim de ajudar a reduzir a perda significativa da safra devido a condições ambientais desafiadoras e clima extremo, incluindo ventos fortes.
O começo
Estudos com cultivares anãs, ou seja, plantas de crescimento curto, começaram logo após a segunda guerra mundial. Um dos primeiros registros indicam o desenvolvimento de uma cultivar de trigo de alta produtividade, que possuía caules com maior diâmetro e menor espaçamento nos entrenós, resistentes ao fenômeno do acamamento, desenvolvida no México na década de 50.
Atualmente, a Bayer está desenvolvendo várias cultivares de milho de crescimento curto, cada uma adaptada às condições da região de cultivo. Uma cultivar tradicional de baixa estatura (“Vitala”) já foi introduzida no México, após anos de pesquisa em Sinaloa.
A tecnologia Vitala, propõe um aumento significativo na produção, sendo um dos componentes desta tecnologia a “baixa estatura” que promete um novo sistema de produção para a cultura do milho, com inúmeros benefícios para o produtor. A parte aérea da cultivar de baixa estatura possui menor espaçamento nos entrenós, colmo com maior diâmetro e, maior crescimento das gemas basais e diminuição do crescimento das gemas apicais.
Benefícios da tecnologia
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Além da maior produtividade proporcionada pela maior densidade de plantas por hectare, esta tecnologia pode ser vista como uma forma de conter a abertura de novos campos produtivos, reduzindo, por exemplo, o desmatamento.
As características fisiológicas desta nova cultivar permitem que a parte área das plantas tenham um maior acesso a equipamentos de pulverização durante todo o ciclo, facilitando o cultivo.
A redução da altura da planta não reduz a produção de biomassa e não influencia no tamanho da espiga. As sementes da cultivar podem ser plantadas mais próximas umas das outras, aumentando a produtividade por hectare.
Estudos mostram que as plantas apresentam menos sinais de estresse hídrico, como a murcha, por possuírem raízes mais longas, possibilitando maior acesso a nutrientes lixiviados e a água localizada em maior profundidade. A tecnologia Vitala tem demostrado preservação da umidade do solo de até 10 dias a mais em relação às outras cultivares, e redução do uso de água durante o ciclo. Outro benefício importante é que não há necessidade de utilizar nenhum implemento agrícola especial para cultivar o milho de baixa estatura.
Como manejar
A tecnologia Vitala é composta por três elementos. O primeiro componente é a cultivar híbrida de tamanho otimizado e robusto, apelidado de milho de “baixa estatura”. O segundo componente é a prática agronômica de obter maior potencial da semente atrelado ao melhor aproveitamento dos recursos, como: hídricos, fertilizantes, inseticidas, fungicidas, etc.
O último componente desta tecnologia é o suporte de ferramentas digitais e de alta precisão que facilitam o monitoramento e o correto manejo da cultura. Combinar o híbrido certo, que proporcione a alta densidade de plantas, com a fertilidade do solo corrigida, incluindo aplicações de nutrientes programadas regularmente, pode gerar de 5 a 20% a mais de produtividade.
No entanto, é importante garantir que nesse sistema de plantio as espigas do milho, fiquem a pelo menos 60 centímetros da superfície do solo, ou um pouco mais alto se o milho estiver sendo cultivado em regiões com topografias onduladas, de modo que a colheita não seja afetada.
E a produtividade?
A produtividade de uma cultura está relacionada com a genética da semente, atrelado com as condições edafoclimáticas do local de plantio e o manejo da lavoura. Não adianta ter uma semente excelente e não cumprir os requisitos mínimos relacionadas a condições climáticas e de solo exigidos pela cultivar.
O milho de baixa estatura vai mudar a forma como as safras de milho são produzidas, possibilitando uma taxa de produtividade adicional. Quando as sementes de milho de baixa estatura são dispostas a uma distribuição uniforme, com redução no espaçamento entrelinhas no decorrer da lavoura, as plantas respondem com um aumento na produção de grãos.
Estudos realizados no México apontam que o milho de baixa estatura empregado na tecnologia Vitala permite um menor espaçamento entrelinhas e plantas, obtendo um plantio com maior densidade por hectare (até 145.000 plantas ha-1), o que pode representar incrementos de produtividade na ordem de 25 a 50% em relação às cultivares convencionais.
Custo-benefício
As cultivares convencionais de milho sofrem com o acamamento causado por ventos e chuvas fortes, resultando em plantas recurvadas e o quebramento do colmo, que podem trazer perdas de até 20% da produtividade.
Resultados obtidos em campo por pesquisas mostraram que, devido ao porte baixo e robusto, o milho de baixa estatura resiste a ventos de até 50 km/h, tornando a safra menos suscetível à perda de produtividade por acamamento.
Por possuir raízes maiores e robustas, quando comparada com as outras cultivares, possibilita maior capacidade de absorção de nutrientes e água, o que, consequentemente, favorece a maior eficiência fotossintética, bem como a maior taxa de fotoassimilados pelas plantas.
As plantas mais baixas facilitam, ainda, a observação do campo e a identificação de pragas e doenças, bem como a utilização do maquinário agrícola na área cultivada durante todo o ciclo, permitindo que os agricultores efetuem um manejo adequado, obtendo melhores rendimentos, e consequentemente melhor retorno financeiro.