Aldeir Ronaldo Silva – Engenheiro agrônomo e doutorando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP – aldeironaldo@usp.br
João Pedro Ramos da Silva – Engenheiro agrônomo e mestrando em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP – joaopedror@usp.br
O glifosato é um herbicida amplamente utilizado na agricultura mundialmente. No Brasil o glifosato vem sendo bastante utilizado como um dessecante em cultivo sobre plantio direto, bem como para eliminação de plantas, que apresenta várias propriedades relevantes, como um herbicida de amplo espectro de atuação em espécies vegetais, ao mesmo tempo que apresenta diversos efeitos em processos fisiológicos, bioquímicos e nutricionais.
Trata-se de um herbicida que atua no bloqueio da enzima EPSPS, provocando a redução da biossíntese de aminoácidos fenilalanina, triptofano e tirosina (1998). Além disso, a aplicação do glifosato associado com íons como cálcio, manganês e zinco por meio da mistura de solução provoca a precipitação do glifosato e redução da absorção pela planta.
Benefícios
A aplicação de nitrogênio propicia a redução do efeito antagônico provocado pelo glifosato sobre a concentração iônica de nutrientes da planta. Além disso, a aplicação de fontes inorgânicas de nitrogênio também provoca a manutenção da biossíntese de importantes aminoácidos para o metabolismo da planta, como por exemplo a fenilalanina, que atua na síntese de lignina, flavonoides, taninos e ácido salicílico, compostos estes importantes para o sistema de defesa da plantas ao ataque de pragas e doenças.
A biossíntese do triptofano também é influenciada positivamente pela suplementação de nitrogênio, a qual participa diretamente do ciclo de biossíntese do hormônio da auxina, importante hormônio no desenvolvimento da planta.
Outro efeito benéfico da aplicação de nitrogênio é o aumento do índice de clorofila, que resulta diretamente em aumento ou manutenção da taxa fotossintética, fato esse que permite o bom desenvolvimento das plantas, mesmo com a aplicação do glifosato.
De maneira geral, o nitrogênio promove diversos benefícios, que indiretamente reduzem os efeitos negativos nas culturas agrícolas, possibilitando a manutenção do status nutricional da planta ao longo do ciclo de cultivo.
Como implantar a técnica
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Para implementação da técnica, é importante a realização de análise nutricional, com o objetivo de identificar a dosagem de nitrogênio mais adequada para a cultura. Nisto, é recomendável o acompanhamento de um profissional técnico, para a escolha do manejo ideal do nitrogênio sob determinada situação de cultivo.
É importante, também, a escolha adequada da fonte de nitrogênio e dosagem visando a rentabilidade econômica da prática, associada ao menor risco de toxicidade das plantas. Neste caso, deve-se dar prioridade aos produtos da garantia quanto à composição e concentração de nitrogênio, em que o mercado nacional dispõe de uma grande variedade de fertilizantes nitrogenados.
O método de aplicação do nitrogênio pode ser por via solo ou foliar. Quando aplicado via foliar associado com o glifosato, é importante a aplicação sem a mistura com outros produtos com íons metálicos em sua composição, pois nessa situação o glifosato tende a se ligar aos íons, provocando assim a sua precipitação e não absorção pela planta.
Dessa forma, é recomendável a aplicação individual para fins de evitar perdas de eficiência da técnica.
Erros que devem ser evitados
Alguns fatores podem interferir no processo de absorção das moléculas de glifosato pelos tecidos das plantas, como diferenças anatômicas devido à diversidade das espécies, variabilidade nos processos de absorção, translocação e metabolismo, além da mistura com outros químicos e chuvas após a pulverização, pois a absorção via cutícula é lenta, ao ponto de ser necessário de quatro a seis horas para uma eficiente absorção do produto.
Além disso, é necessário utilizar uma água de boa qualidade, pois o produto é bastante sensível a sais, como cálcio e magnésio.
De acordo com alguns estudos, a utilização do sulfato de amônio às caldas de aplicação de glifosato com o uso de água livre de impurezas promove maior eficiência do herbicida. Isso se deve à alteração da morfologia das gotas, atrasando ou prevenindo a cristalização do glifosato na superfície da folha, possibilitando maior tempo para que a gota atravesse a cutícula.
Com isso, observa-se maior absorção do herbicida pelas plantas, com um índice de translocação mais alto dentro do sistema.
Investimento x retorno
A adição de fertilizantes nitrogenados, como a ureia e o sulfato de amônio, ao glifosato eleva a eficiência do herbicida no controle de plantas daninhas. Segundo um estudo realizado por Carvalho em sua tese de doutorado, ESALQ- USP, foi comprovada uma fórmula ideal de aplicação.
De acordo com a fórmula, o recomendável seria a utilização de 15 gramas de sulfato de amônio por litro de calda de glifosato. Visando adequar a fórmula ao bolso do produtor, foi sugerida uma solução mista, com a utilização do sulfato de amônio e também ureia.
A ureia está custando no mercado cerca de R$ 3.170,00 por tonelada e o sulfato de amônio em torno de R$ 2.050,00 por tonelada. Dessa forma, com a readequação da fórmula, se forem misturadas 7,5 gramas de sulfato de amônio com 2,5 gramas de ureia por litro, haverá também uma potencialização do herbicida. Além de efetiva, essa dosagem também permite redução de custos.