Paulo Rebelles Reis
Engenheiro agrônomo, doutor em Ciências e pesquisador da EPAMIG Sul de Minas/EcoCentro e do CNPq
O bicho-mineiro das folhas do cafeeiro, Leucopteracoffeella, Guérin-Mèneville&Perrottet, 1842 (Lepidoptera: Lyonetiidae) é considerada a praga de maior importância para o cafeeiro nas regiões de clima quente e mais seco, superando a broca-do-café Hypothenemushampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Curculionidae, Scolytinae).
É uma praga exótica que tem como região de origem o continente africano, tendo sido introduzida no Brasil provavelmente em mudas de cafeeiros atacadas e provenientes das Antilhas e Ilha de Bourbon, em 1851. É considerada praga monófaga, atacando somente o cafeeiro.
O surgimento da ferrugem do cafeeiro no Brasil, HemileiavastatrixBerk. & Br., no início da década de 70, pode ser considerado um marco para colocar o bicho-mineiro no status de praga. Cafeeiros plantados em espaçamentos adequados para alta tecnologia, e a peno sol, visando o controle da ferrugem, propiciam ambientes favoráveis para a multiplicação do bicho-mineiro, que se desenvolve bem em condições de maior insolação e baixa umidade do ar.
Como detectar a presença do bicho-mineiro
As lesões causadas pela praga apresentam o centro mais escuro, como resultado do acúmulo de excreções da lagarta. A epiderme superior da folha, no local da lesão, destaca-se com facilidade.
De modo geral, e principalmente nas épocas de grande infestação, o maior número de lesões é encontrado nas folhas do terço superior das plantas, devido às lagartas lá encontrarem maior insolação, temperatura e vento que retira a umidade das folhas, o que lhes é favorável.
O ciclo evolutivo de ovo a adulto dura entre 19 e 87 dias, sendo mais o mais curto em temperaturas mais elevadas. A fase de lagarta, que é a que causa danos, dura de 9 a 40 dias, passando por três fases (ecdises), e podem ocorrer de oito a 12 gerações ao ano.
Condições para a ocorrência do bicho-mineiro
A presença do bicho-mineiro está condicionada a diversos fatores:
– Climáticos: temperatura e chuva principalmente;
– Condições da lavoura: lavouras mais arejadas têm maior probabilidade de serem atacadas;
– Presença ou ausência de inimigos naturais: parasitoides, predadores e entomopatógenos (fungos e bactérias).
As épocas em que são constatadas as maiores populações da praga são os períodos secos do ano, geralmente, nas principais regiões cafeeiras, com início em junho e pico em outubro, sendo menor antes e após esses meses.
Há casos em que a população aumenta em março-abril, em decorrência de veranico no mês de janeiro e/ou fevereiro, como frequentemente ocorre na cafeicultura do cerrado mineiro.
A precipitação pluvial e a umidade relativa influenciam negativamente a população da praga, ao contrário, a temperatura exerce influência positiva. Pulverizações de produtos cúpricos, para o controle da ferrugem, já foram também correlacionadas com o aumento da população do bicho-mineiro.
Dano causado pelo bicho-mineiro
As lesões ou minas, causadas pelas lagartas, nas folhas, reduzem a capacidade foliar de fotossíntese em função da redução da área foliar. Em ataque intenso ocorre a desfolha da planta, de cima para baixo, devido à distribuição da praga, e em consequência há redução da produção. Lavouras intensamente desfolhadas pela praga podem levar até dois anos para se recuperar.
As pesquisas mostram que o nível de controle para L. coffeella encontra-se abaixo de 26 a 36% de área foliar lesionada, após o que começa a ocorrer prejuízos à produção de café.
No Sul de Minas foi constatada, em 1976, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido uma desfolha de 67% no mês de outubro, ocasião em que ocorreu a maior florada daquele ano. Posteriormente, entre 1987 e 1993 também foram constatados altos prejuízos, sendo encontrada uma redução na produção entre 34,3 e 41,5%.
Além do controle químico convencional, serão discutidas algumas formas de controle biológico natural ou aplicado, que podem auxiliar na redução da praga, porém, nem sempre com eficiência que permita reduzir significativamente os danos.