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Potencial para exploração da resinagem em pinus

A atividade de resinagem necessita ser planejada, verificada e aceita por meio de critérios de análises de investimentos comumente aplicadas em ativos florestais, como o VPL, TIR, Pay Back, relação custo benefício, dentre outras ferramentas para análise econômica.

Jean Fernando Silva GilEngenheiro florestal, mestre em Ciência Florestal e fiscal de pesquisa – Resinas Brasiljean-florestal@hotmail.com

Lisandro de Proença PieroniEngenheiro florestal e doutorando em Agronomia (Proteção de Plantas) – UNESPlisandro.pieroni@hotmail.com

Cristiane de PieriBióloga e pós-doutoranda em Proteção de Plantas – UNESPpieri_cris@yahoo.com.br

Operação de resinagem em Pinus caribaea var hondurensis – Crédito: Shutterstock

A silvicultura de espécies do gênero Pinus é um fator fundamental e determinante para a sustentabilidade econômica, social e ambiental do Brasil. Desta atividade florestal pode ser explorada, principalmente, a madeira e a goma de resina.

A madeira é usada nas indústrias de celulose e papel, madeira serrada e laminada. Já a resina, extraída das árvores por meio do processo de resinagem, é utilizada pela indústria química e farmacêutica.

O plantio comercial de espécies do gênero Pinus teve início no Brasil em meados dos anos 70 devido aos incentivos fiscais efetivados pela lei nº 5.106. Em 2019, de 9,0 milhões de hectares de árvores plantadas, o pinus assume 1,6 milhão de hectares, correspondendo a 18% do total de áreas com florestas comerciais do País.

De acordo com o relatório da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), deste total, 87% das plantações estão no Sul do País, sendo os Estados do Paraná (44%), Santa Catarina (26%), Rio Grande do Sul (17%) e São Paulo (9%) os principais produtores, com áreas de 722.338; 430,348; 281.548; e 155.048 mil hectares, respectivamente. 

A escolha da espécie está intimamente relacionada com o objetivo de formação florestal, ou seja, sistema resina ou sistema resina/madeira, bem como a sua adaptação edafoclimática. No Brasil, a espécie mais amplamente empregada, principalmente no Sul do País, é a Pinus elliotti, seguida de espécies de pinus tropicais, como o Pinus caribaea e Pinus hondurensis.

Resina

A resina produzida pelas árvores do gênero Pinus é o principal mecanismo de defesa contra ferimentos causados por herbívoros ou patógenos. A resina fornece dois componentes principais com diversas aplicações na indústria química e farmacêutica: a terebintina, que é a fração líquida utilizada na fabricação de tintas, colas, perfumaria, vernizes, adesivos, ceras e o breu, que é a fração sólida, empregada na fabricação de desinfetantes, inseticidas, desodorantes e dissolventes industriais.

O País produz anualmente cerca de 200 mil toneladas por ano. O Estado de São Paulo se destaca por ser o maior produtor, dispondo de 110.200 toneladas de goma de resina extraídas de florestas com Pinus elliotti e 18.260 toneladas de goma de resina oriunda de florestas com pinus tropicais. Já o Rio Grande do Sul é o segundo do ranking, com aproximadamente 45.720 toneladas de resina do Pinus elliotti.

A utilização de árvores melhoradas geneticamente, melhorias dos métodos de extração e coleta de resina, tal qual o uso de pastas estimulantes, proporcionaram o aumento da produção de resina nos últimos anos. Deste modo, o Brasil se tornou o segundo maior produtor de resina do mundo, ficando atrás apenas da China.

Manejo florestal

ð Preparo do terreno: na área destinada para o plantio, primeiramente deve-se efetuar a construção de estradas e aceiros, bem como o controle de plantas daninhas e formigas cortadeiras. Em seguida, efetua-se o sulcamento ou coveamento.

ð Espaçamento: a escolha do espaçamento é fundamental no destino final da floresta ou no plano de manejo. Deste modo, em florestas de pinus, diversos espaçamentos podem ser empregados, como: 2,5 m x 2,5 m; 3 m x 2 m; 3 m x 3 m. Entretanto, deve-se atentar à densidade populacional no início das safras de resina, uma vez que o espaçamento pode influenciar na densidade populacional e na produção de resina.

ðPlantio: o plantio pode ser realizado de modo manual, semi-mecanizado ou mecanizado. O modo manual corresponde ao balizamento, coveamento com cavadeira manual, distribuição das mudas e plantio. No semi-mecanizado a marcação do espaçamento é efetuada por um sulcador na linha de plantio, em seguida, as mudas são acomodadas manualmente na linha e fixadas no solo para eliminar os bolsões de ar. Já no mecanizado, após o sulcamento, as mudas são mecanicamente posicionadas e fixadas no solo.

ð Replantio: o replantio é realizado quando a mortalidade das mudas atinge níveis superiores a 10% e deve ser feito no prazo de 30 dias após o plantio.

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ð Manutenção pós-plantio: a manutenção pós plantio consiste, principalmente, no monitoramento e no controle plantas daninhas e de formigas cortadeiras.

ð Desrama: consiste na remoção de galhos com o objetivo de atenuar a formação de nós na madeira, além de facilitar o processo de resinagem. Esta operação é realizada em árvores a partir de 6,0 metros de altura e não deve ultrapassar 40% da altura das árvores.

ð Desbaste: consiste na redução do número de indivíduos na floresta, com o objetivo de diminuir a competição intraespecífica e promover o crescimento individual. A densidade populacional até o início da resinagem deverá estar entre 800 a 1.000 árvores/ha. 

Técnica de resinagem

A resinagem geralmente se inicia a partir do 8º ano, ou quando as árvores atingem o Diâmetro a Altura do Peito (DAP) igual ou superior a 18 cm e pode ser realizado até o 22º ano da floresta, dependendo do manejo empregado. Logo, no ano que iniciará a resinagem, a floresta deverá ter densidade populacional de 800 a 1.000 árvores por hectare.

Etapas da instalação

ð Roçada: operação realizada com o objetivo de eliminar plantas indesejadas que ocupam o sub bosque e facilitar a locomoção dos colaboradores dentro da floresta.

ð Raspa da casca: remoção do excesso de casca e alisamento do local onde formará o painel com estrias. O objetivo desta operação é facilitar as próximas etapas, principalmente em algumas espécies de pinus tropicais em que a casca é mais espessa, quando comparado com o Pinus elliotti.

ð Risco para fixação do saco de resinagem: é realizada uma incisão (risco) com profundidade suficiente para atingir o lenho da árvore, à altura aproximada de 20 cm, de modo que o recipiente fique apoiado na superfície do solo. Este risco direcionará as estrias e facilitará a fixação do saco de resinagem na árvore, além de atenuar o vazamento de resina.

ð Fixação do saco de resinagem na árvore: a fixação do recipiente no risco é realizada com arame de aproximadamente 0,22 mm de espessura. Deve atentar-se para que o recipiente fique bem fixado na árvore evitando assim o vazamento de resina.

ð Abertura da estria: a abertura é efetuada com a ferramenta estriador, deste modo, remove-se a casca até atingir o lenho, expondo os canais resiníferos. O tamanho da estria não deve ultrapassar 1/3 da circunferência da árvore e deve ter comprimento mínimo de 15 cm e máximo de 22 cm com largura entre 1,5 a 2,5 cm.

ð Aplicação da pasta estimulante: a pasta estimulante é aplicada de forma que cubra os canais resiníferos expostos na parte superior da estria. O objetivo é retardar o fechamento e a cicatrização dos canais resiníferos, e assim, prolongar o tempo de exsudação de resina.

ð Intervalo entre as estrias: normalmente, realiza-se uma estria a cada 14 ou 15 dias. Entretanto, irá depender da temperatura e principalmente do déficit hídrico da região. A falta de água associada à remoção da casca e a aplicação da pasta estimulante pode ocasionar a morte da árvore e, por conseguinte, a redução da densidade populacional e da produção de resina. Deste modo, recomenda-se aumentar o intervalo de estrias em períodos críticos.

O formato das estrias pode mudar no decorrer das safras em função da melhor ergonomia, desempenho e rendimento operacional do colaborador. Assim sendo, normalmente inicia-se com a estria reta, seguido da estria diagonal, conhecida como facão e finalizando na estria em formato “V”. No entanto, atualmente algumas empresas optam por pela estria em formato “V” desde a instalação.

ð Raspa da goma de resina: No decorrer dos intervalos entre as estrias uma parte da resina que escorre pelo painel é armazenada no saco de resinagem e uma fração fica aderida ao painel, necessitando assim que seja removida com o auxílio de um raspador. Esta operação é realizada principalmente em pinus tropicais, duas ou mais vezes durante o ano safra e uma vez ano em Pinus elliotti.

ð Coleta da goma de resina: a coleta da goma de resina é realizada manualmente. O colaborador remove o excesso de água e de impurezas, como acículas e casca da árvore, retira a resina do saco coletor e deposita em baldes plásticos, os quais são transferidos em tambores de 200 litros ou tanque granel. Assim, a resina coletada é transportada por caminhões até a fábrica, onde será beneficiada, classificada e industrializada.

Aspectos econômicos da cultura

A atividade de resinagem necessita ser planejada, verificada e aceita por meio de critérios de análises de investimentos comumente aplicadas em ativos florestais, como o VPL, TIR, Pay Back, relação custo-benefício, dentre outras ferramentas para análise econômica.

O custo por hectare dependerá do modelo florestal empregado e nível de mecanização, principalmente nos anos que antecedem as safras de resinagem, ou seja, do ano 0 ao ano 8. Deste modo, o investimento inicial pode oscilar entre R$ 3.000,00 a R$ 4.000,00 por hectare até o início da safra.

A produtividade média, considerando uma densidade populacional de 1.000 árvores por hectare, é de 3,5 toneladas. O preço médio da tonelada de resina do Pinus elliotii, por exemplo, no mês de janeiro a agosto de 2021, conforme dados disponibilizados pela Associação de Resinadores do Brasil (ARESB), foi de R$ 5.682,00, ou seja, uma receita bruta de R$ 19.887,00/ ha/ano.

É sempre importante pesquisar as oportunidades de comercialização nas cadeias produtivas, assim como qualquer investimento, o planejamento, o manejo e o acompanhamento desta atividade atingirão a rentabilidade econômica almejada.

– O País produz 200 mil toneladas/ ano

– São Paulo é o maior produtor com produção de 110.200 toneladas de goma de resina extraídas de florestas com Pinus elliotti e 18.260 toneladas com pinus tropicais

– Rio Grande do Sul é o segundo do ranking com 45.720 toneladas de resina do Pinus elliotti

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