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Protetor solar para a soja

Gustavo Castilho Beruski Doutor e professor de Engenharia Agronômica – Faculdade de Ensino Superior Santa Bárbara (FAESB)prof.gustavo@faesb.edu.br

Everton Almada Graduando em Engenharia Agronômica – FAESBmeloalmada@gmail.com

Danilo Jorge Suguisawa Pesquisador e especialista em Manejo de Solosdanilo@tofarms.com

Francisco de Assis Ribeiro Mestre em Engenharia Florestal e pesquisadorfrancisco@tofarms.com

Folha – Créditos: Gustavo Castilho Beruski

A radiação solar é a fonte primária de energia para os organismos vegetais. A síntese de carboidratos, por meio do processo da fotossíntese, é dependente desse fator, sendo assim, a produtividade de culturas agrícolas está diretamente relacionada com a disponibilidade de radiação no ambiente de cultivo. Além disso, a radiação solar é o principal fator condicionante dos fenômenos atmosféricos.

A disponibilidade de radiação no ambiente de cultivo é variável ao longo de um dia e no ano. Considerando essas escalas temporais, o período em que há maior incidência de radiação solar é no verão e durante o meio-dia. As variações na quantidade de radiação solar incidente impactam os diferentes processos ambientais, como o aquecimento do ar, do solo, a evapotranspiração e a fotossíntese.

Proteção solar

Apesar de ser fundamental, o excesso de radiação solar pode impactar negativamente a produtividade de uma cultura, especialmente plantas do tipo C3, como a soja. Atualmente, tecnologias para minimizar os efeitos adversos do excesso de radiação solar sobre os vegetais estão disponíveis para os produtores, as quais são denominadas de protetores solares.

De forma genérica, os protetores solares para plantas são à base de carbonato de cálcio e Kaolin e são pulverizados sobre a superfície vegetal que se objetiva proteger (TSAI et al., 2013). O objetivo principal da aplicação dos protetores solares sobre o vegetal é criar uma película branca ou de coloração clara, a qual é capaz de refletir uma quantidade maior de radiação solar incidente, reduzindo assim os danos pelo acúmulo de temperatura na folha, devido à elevada incidência de radiação solar.

Pesquisas

O princípio de empregabilidade de protetores solar na soja relaciona-se à modificação da coloração da superfície vegetal, a qual atuaria na quantidade de radiação solar refletida, de certa forma, modificando seu coeficiente de reflexão (albedo).

A consequência expedida na modificação no coeficiente de reflexão será no balanço de energia, principalmente na mudança de temperatura da superfície da soja. Neste caso, modificações na tonalidade da superfície da soja poderão impactar em seu regime térmico, nos processos de abertura e fechamento estomático, na absorção e translocação de água e nutrientes e na troca gasosa entre a planta e o ambiente através dos estômatos.

Baseado nessa premissa, um trabalho de campo foi conduzido em área experimental no município de Pereiras (SP), com o objetivo de verificar os efeitos da aplicação do carbonato de cálcio sobre a cultura da soja. A soja foi semeada em 21/12/2020, em espaçamento entre linhas de 0,5 m e densidade populacional de 14 plantas m-1.

Todas as práticas de manejo foram realizadas para que a interferência nas parcelas decorresse apenas da aplicação do protetor solar.

A aplicação do carbonato de cálcio ocorreu no dia 04/02/2021, momento em que mais de 80% das plantas expressavam característica do estádio fenológico no início de florescimento (R1 – Fehr e Caviness, 1977), uma segunda pulverização foi realizada 15 dias após a primeira. Para ambas as situações, a dosagem do carbonato de cálcio foi de 20 L ha-1.

O monitoramento das variáveis meteorológicas no experimento ocorreu por meio de uma estação meteorológica automática. Nas parcelas, instalou-se um equipamento denominado de saldoradiômetro, a partir do qual determinou-se o coeficiente de reflexão da soja com e sem o carbonato de cálcio (Figura 1).

As análises dos dados desse experimento evidenciaram que a aplicação do carbonato de cálcio sobre a cultura da soja foi capaz modificar o coeficiente de reflexão da superfície em 6% na escala diária ao longo do ciclo da soja (Figura 2), comparado às parcelas sem a aplicação do protetor.

Em outras palavras, plantas de soja tratadas com o carbonato de cálcio refletiram uma maior fração da radiação incidente. Com uma maior fração da radiação refletida, um menor valor de radiação solar será absorvido pela superfície, portanto, mudanças no balanço de energia são esperadas, principalmente na taxa de evapotranspiração e no aquecimento da superfície vegetal (Jifon; Syvertsen, 2003).

Figura 2. Coeficiente de reflexão da superfície da soja tratada com carbonato de cálcio em Pereiras (SP).

Resultados

Com a análise do coeficiente de reflexão na escala diária, foi possível observar que em 2/3 do ciclo da cultura da soja, o coeficiente de reflexão foi maior na parcela tratada com 20 L ha-1 do carbonato de cálcio.

Na média, o valor do coeficiente de reflexão foi de 0,24 e 0,23 com aplicação e sem o protetor solar, respectivamente. Destaca-se ainda que, em períodos específicos do ciclo, a reflexão nas parcelas com a aplicação do protetor solar foi 26% superior, comparado à testemunha.

Segundo Camargo (2006), alterações dessa natureza interferem em todo o desenvolvimento da soja, impactando na duração do ciclo da cultura, na eficiência no uso da água, na retenção de flores e vagens e na produtividade final da cultura.

Neste mesmo experimento, avaliou-se a produtividade da cultura da soja submetida ao tratamento com o protetor solar. Verificou-se que nas parcelas tratadas a produtividade foi de 85,6 sacas por hectare, 7,5 superior comparada à parcela cultivada sem o protetor solar.

Mais produtividade

A que se pode atribuir o ganho de produtividade? Segundo trabalhos científicos, a modificação no coeficiente de reflexão das plantas de soja promove uma redução na temperatura foliar. Nessas condições a planta tende a se manter em constante atividade metabólica, devido ao favorecimento da evapotranspiração da água através dos estômatos a fim de reduzir a temperatura da planta e translocar fotoassimilados, favorecendo o incremento de produtividade.

Embora, para as condições do estudo, a prática tenha se mostrado viável e benéfica para as plantas de soja, ressalta-se que distintos produtos são encontrados no mercado, sendo estes com diferentes características, as quais podem interferir na eficiência do protetor solar.

Um exemplo são os protetores à base de Kaolin, que por não possuírem espalhante adesivo, após secamento da solução, o pó remanescente sobre a superfície vegetal é facilmente lavável, tornando novamente a planta exposta à radiação solar incidente após uma chuva.

Dosagem correta

Outra questão muito importante sobre o uso dos protetores solares é a dosagem correta, que deve ser definida com base em ensaios, e precisam pautar-se no princípio de recobrimento da superfície vegetal pelo protetor solar. Há evidências de que o momento da aplicação poderá impactar na eficiência do protetor solar.

Dessa forma, destaca-se que a aplicação de carbonato de cálcio impactou no coeficiente de reflexão e promoveu ganhos de produtividade na cultura da soja. Sendo assim, seu uso pode ser uma alternativa quando se busca modificações microclimáticas visando a melhoria das condições para o desenvolvimento da cultura da soja.

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