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Substâncias húmicas na cultura da soja

Regina Maria Quintão LanaProfessora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)rmqlana@iciag.ufu.br

Rosana Aline Ribeiro da Mota // Maria Clara Resende PonceMestrandas em Agronomia – UFU

Luciana Nunes GontijoDoutoranda em Agronomia – UFU

Mara Lúcia Martins MagelaDoutora em Agronomia – UFU

Soja – Crédito: shurtterstock

A soja (Glycine max (L.) Merril) atualmente é a principal cultura agrícola cultivada no Brasil e no mundo. De acordo com dados da Conab (2021), a área plantada com soja na safra 2020/21 foi 38,5 milhões de hectares, 4,3% maior em comparação à safra anterior, tendo a produção apontada em 136 milhões de toneladas de grãos.

O avanço desta cultura, principalmente em áreas do Bioma Cerrado, está relacionado diretamente às práticas de correção e fertilização desses solos, por serem pobres em fertilidade natural, ácidos, apresentarem baixos níveis de matéria orgânica e alta fixação de fósforo (P), magnésio (Mg) e micronutrientes.

Neste cenário, as substâncias húmicas (SH’s) podem gerar grandes benefícios ao sistema solo-planta, podendo ser utilizadas em complemento aos fertilizantes minerais ou orgânicos.

As SH’s apresentam alta atividade bioquímica e sua presença regular no solo melhora a capacidade das plantas na utilização de água, reduz os estresses bióticos e abióticos, aumenta a eficiência da fotossíntese e pode reduzir a necessidade de adubação.

Tendência

Os fertilizantes contendo substâncias húmicas ativas representam um mercado em expansão no Brasil. Segundo Hernando (1968), as SH’s estimulam a síntese de compostos nitrogenados pela cultura e proporcionam aumento da permeabilidade das membranas celulares das plantas, o que gera maior absorção de nutrientes pelas culturas (Mahmood et al., 2019).

Resultados de pesquisas

Diversos trabalhos têm sido desenvolvidos com SHs para demonstrar a sua eficiência em diversas culturas. Os resultados das pesquisas mostram efeitos positivos do ácido fúlvico e húmico sobre o desenvolvimento de raízes da soja.

Estas substâncias, quando ativas, conseguem acessar os receptores das células das raízes, desencadeando estímulos no metabolismo bioquímico, propiciando melhor crescimento e desenvolvimento das plantas.

Canellas et al. (2002 e 2011) destacam que os efeitos mais relatados das substâncias húmicas estão relacionados com o sistema radicular, principalmente para a formação de raízes laterais e pelos radiculares.

Benites et al. (2006), em pesquisa com fertilizante organomineral e solução de ácido húmico aplicados via foliar na cultura da soja, observaram acréscimo de 17% na produtividade média, quando aplicado no estádio V4, tendo constatado ganhos de até 26% na produtividade em relação à ausência de aplicação.

Em estudo realizado por Rocha et al. (2013), foram verificados aumentos lineares no número de vagens por planta, peso de mil sementes e produtividade, com a aplicação das doses de 0; 1,5; 3,0; 4,5 e 6 L ha-1 de substâncias húmicas via sulco de semeadura na cultura da soja.

Observou-se incrementos de 25% no número de vagens em relação à ausência de aplicação, com a dose de 6 L ha-1 do biofertilizante utilizado.

Em experimento conduzido por Lana et al. (2020) (dados não publicados), no município de Uberlândia, com substâncias húmicas ativas, observou-se maior desenvolvimento do sistema radicular, da parte aérea e da produtividade da soja.

Observou-se aumento de produtividade da soja com os biofertilizantes Denka Prula H413, Denka Prula H001 (ácido húmico) e Premium Care F108 (ácido fúlvico) (Figura 1).

Com a aplicação foliar de 2 L ha-1 de ácido húmico Denka Prula obteve-se um aumento percentual de 12,2% na produtividade da soja em relação à ausência de aplicação. A aplicação de ácido fúlvico Premium Care, também na dose de 2 L ha-1, resultou em um aumento de 13,6% em produtividade de grão de soja.

O Premium Care (ácido fúlvico) e o Denka Prula (ácido húmico) são substâncias húmicas ativas por apresentarem em sua estrutura um menor número de grupos aromáticos, peso molecular mais baixo, tamanho da molécula menor do que outros biofertilizantes, baixo grau de humificação, estrutura semelhante a auxina e baixa proporção de ligações duplas. Portanto, atuam mais facilmente nas plantas devido a tecnologia empregada. Sendo assim, estes biofertilizantes apresentam importantes funções reduzindo os estresses bióticos e abióticos da planta, agem como promotores de crescimento do sistema radicular, atuam na fisiologia da planta, melhorando a sua eficiência em todos os seus processos, o que permite a cultura expressar maior capacidade de todo seu potencial produtivo.

Reflexo

Estes incrementos de produtividade com aplicação de substâncias húmicas ativas se devem ao maior desenvolvimento do sistema radicular e da parte aérea, bem como melhoria nas propriedades do solo e na ativação fisiológica e enzimática da planta.

Segundo Baldotto e Baldotto (2014), substâncias húmicas, como o ácido húmico, atuam em diferentes níveis e etapas envolvidas na fisiologia vegetal, como expressão de genes, presença de organelas, metabolismo primário e secundário, crescimento e desenvolvimento das plantas.

Estes mesmos autores ressaltam que, aliado aos efeitos no enraizamento, as substâncias húmicas estimulam a parte aérea da planta, levando ao incremento dos acúmulos de nutrientes foliares. Consequentemente, observa-se incrementos na biomassa vegetal e na produção de flores e sementes, resultando em incrementos na produtividade final.

Figura 1. Diferença percentual da produtividade total (kg ha-1) de soja submetida a aplicação foliar de Biof. 1 (Premium Care F108), Biof. 2 (Denka Prula H001), Biof. 3 (Denka Prula H413), nas doses de 2, 4 e 6 L ha-1, em relação Controle (ausência da aplicação de Biofertilizante). Uberlândia – MG.

Neste mesmo experimento, avaliou-se o número de vagens por planta e verificou-se que a aplicação do ácido fúlvico (Premium Care) na dose de 2 L ha-1 promoveu incremento de 16% em relação à não aplicação de SHs. O biofertilizante Denka Prula promoveu incremento de 22%, com a dose de 2 L ha-1, no número total de vagens (Figura 2).

Figura 2. Diferença percentual do número de vagens de soja submetida a aplicação foliar de Biof. 1 (Premium Care F108), Biof. 2 (Denka Prula H001) e Biof. 3 (Denka Prula H413), nas doses de 2, 4 e 6 L ha-1, em relação ao controle (ausência da aplicação de Biofertilizante). NV1G: número de vagens contendo 1 grão; NV2G: número de vagens contendo 2 grãos; NV3G: número de vagens contendo 3 grãos; NV4G: número de vagens contendo 4 grãos. Uberlândia – MG.

Vale a pena?

Resultados como estes demonstram a importância dos ácidos húmicos e fúlvicos no manejo de culturas como a da soja. Observa-se que a aplicação de fontes de fertilizantes que contenham substâncias húmicas é uma prática que tem crescido nos últimos anos, principalmente devido aos inúmeros benefícios que são obtidos, tanto nas plantas quanto no solo.

Pesquisadores como Gerke (2018) destacam que as substâncias húmicas atuam em importantes funções físicas e químicas no solo, como no aumento na capacidade de retenção de água e de troca catiônica.

Além disso, as substâncias húmicas também incorporam e imobilizam xenobióticos, como por exemplo, pesticidas e surfactantes, que podem levar a contaminação do solo e corpos d’água.

De acordo com Nardi et al. (2002), a respiração e a fotossíntese podem ser afetadas por substâncias húmicas, e isso ocorre porque a matéria húmica pode ter atividade hormonal. Trevisan et al. (2010) também destacam que as substâncias húmicas podem conter auxinas ou ter atividade semelhante à auxina.

Neste mesmo sentido, Canellas et al. (2015) resumiram resultados da aplicação de ácidos fúlvicos e húmicos em diferentes culturas e constataram efeitos bioestimulantes em função da aplicação dessas substâncias.

Baldotto e Baldotto (2014) e Baldotto et al. (2012) também demonstraram a importância da inclusão das substâncias húmicas no manejo das culturas e destacaram que esta prática representa uma medida altamente estratégica do ponto de vista econômico e agronômico, principalmente devido ao aumento de produtividade e qualidade do produto final, bem como aos benefícios para as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.

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