O uso racional de fertilizantes em tempos de crise será tema do painel que a Embrapa Soja, em parceria com a Sociedade Rural do Paraná e a cooperativa Cocamar, irá promover no dia 6 de abril, às 16h, no pavilhão SmartAgro, durante a Expo Londrina 2022, realizada no Parque de Exposições Ney Braga, em Londrina (PR). A proposta é possibilitar uma conversa técnica sobre o tema entre o pesquisador da Embrapa Soja Adilson de Oliveira Jr., o gerente técnico da Cocamar Rodrigo Sakurada, e o presidente da Sociedade Rural do Paraná Antonio Sampaio. O bate-papo, que terá moderação do pesquisador da Embrapa Soja Fábio Álvares de Oliveira, é gratuito e as inscrições podem ser feitas no local.
O Brasil importa grande parte dos fertilizantes usados na
agropecuária nacional. O Plano Nacional de Fertilizantes, lançado pelo governo
federal em março de 2022, tem como meta diminuir a dependência de importações,
em 2050, de 85% para 45%. Neste contexto de dependência, a crise provocada pelo
conflito entre Rússia e Ucrânia sinaliza para a falta de abastecimento do
produto e para o aumento dos preços no mercado, afirma Oliveira Jr. No último
ano, o valor da tonelada dos fertilizantes teve um incremento de 162%, saltando
de R$2.133,00, em fevereiro de 2020, para R$5600,00, em fevereiro de 2022, de
acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à Secretaria
de Agricultura do Paraná.
“Trata-se de uma discussão de extrema importância, especialmente, pelo momento
que vivemos, com problemas no fornecimento e, consequente, alta nos preços dos
fertilizantes. Temos que sentar e juntos discutirmos a questão para encontrarmos
caminhos para mitigar o impacto dessa realidade nos custos de produção. Tenho
certeza que será um debate bastante rico”, declara Sampaio.
Rodrigo Sakurada também defende que o debate sobre a racionalização dos insumos
é atual e oportuno. “Nós técnicos temos a obrigação de recomendar o uso de
fertilizantes, respaldados em uma análise de solo e com base nas tabelas
existentes para as várias regiões do Brasil e para as diferentes culturas”,
defende. “Temos que aproveitar esse momento de crise, por conta da alta de
preços, para explicar que não é apenas nesse momento que devemos pensar em
racionalizar os insumos. Ao longo do tempo, essa atitude irá adequar todo o seu
sistema produtivo para ser mais eficiente tanto agronomicamente quanto
economicamente”, reforça.
Fertilizantes em sistemas
produtivos – O pesquisador da Embrapa Soja Adilson
de Oliveira Jr. explica que, de forma geral, as áreas tradicionais de cultivo
de soja e milho no Brasil estão com fertilidade construída, ou seja, tem
reserva de nutrientes, possibilitando a redução nas quantidades a serem
aplicadas de fertilizantes. Oliveira Jr. lembra que no Brasil,
tradicionalmente, os solos são pobres em fósforo e, por isso, o nutriente é
aplicado em maiores quantidades, em função dessa característica, nos sistemas
de produção em que a soja está inserida. “Quem tem mapeadas as características
do próprio solo, pode, neste momento, reduzir um pouco a dose de fósforo e de
potássio, por exemplo, ou até deixar de fazer a adubação, que é o investimento
mais pesado no custo variável de produção”, explica.
Nas áreas tradicionais – que são adubadas anualmente – o pesquisador comenta
que existe um equilíbrio entre os nutrientes, portanto há a possibilidade
de racionalizar a aplicação. Porém, nas áreas novas de cultivo de grãos, que
são incorporadas das áreas de pastagens degradadas, a fertilidade é baixa e
precisa ser construída. “De fato, dependemos de fertilizantes nas duas
situações, quando tem baixa fertilidade, precisamos colocar nutriente para produzir
e, à medida que se constrói a fertilidade do solo, fazemos a reposição dos
teores faltantes para manter o estoque em equilíbrio”, afirma. “Por isso,
precisamos observar caso a caso para ter parâmetros reais sobre a necessidade
ou não de correção dos teores de nutrientes”, ressalta.
Análise de solo e
equilíbrio nutricional – Na visão do pesquisador, a
análise química e física de solo é o único parâmetro técnico que pode
direcionar a tomada de decisão do produtor no que diz respeito à racionalização
do uso de fertilizantes. “Quem é o fiel da balança é a análise do solo ao
indicar se é possível reduzir e o quanto se pode reduzir na adubação”, destaca
Oliveira Jr.
Segundo ele, a prática de análise de solo precisa ser valorizada,
principalmente com amostras representativas dos talhões da propriedade. A
análise do solo avalia os teores dos macronutrientes – fósforo, potássio,
cálcio, magnésio, enxofre – e dos micronutrientes – zinco, manganês, cobre, e
boro -, além de determinar a quantidade de calcário necessária para corrigir a
acidez do solo. “Não temos como acertar o diagnóstico se não tivermos uma
adequada representação da área”, diz. “A partir das carências ou não é que se
deve estabelecer as estratégias de recomendação de adubação. Às vezes, o
problema não está na fertilidade do solo, mas na correção de acidez, que também
é diagnosticada pela análise de solo”, explica. Enquanto o preço dos
fertilizantes mais que dobrou, o valor das análises de solo não sofreu grande
alteração, podendo ser feita a R$35,00 por talhão.
Demanda da cultura da soja – Na
safra 2020/21, o Brasil produziu 135 milhões de toneladas de soja em 38 milhões
de hectares. Depois no nitrogênio, o potássio é o nutriente que a soja mais
remove do solo, tanto que para cada tonelada de soja produzida são exportados
ao redor de 18 kg de potássio. “Por isso, é preciso ter um balanço positivo de
potássio no solo, uma vez que a falta do produto pode impactar diretamente na
produtividade”, avalia o pesquisador da Embrapa Soja.
Oliveira Jr explica ainda ser preciso avaliar o sistema de produção em que
a soja está inserida, considerando o que as outras culturas também exportam de
nutrientes. “Quando se faz a rotação ou sucessão de culturas, não se planeja a
adubação pensando apenas na soja, mas sim considerando as culturas que compõem
o sistema de produção”, diz. “Enquanto a soja consome grande quantidade de
fertilizantes, o trigo e o milho consomem pouco potássio”, explica. “A adubação
do sistema deve buscar um balanço equilibrado entre as diferentes culturas”,
conta.