Julia Cury Marvulle de Barros Carvalho
Graduanda em Agronomia – Centro Universitário de Ourinhos (Unifio)
Adilson Pimentel Júnior
Professor de Agronomia – Unifio
Os tratamentos de sementes disponíveis hoje são os mesmos de “ontem”, geralmente o tratamento que “cabe no bolso” da pessoa produtora. A busca cotidiana por assertividade nos trouxe o desenvolvimento de uma avançada forma de pensarmos a manipulação dos seres vivos, sementes, e os produtos que julgamos adequados recobrirem as mesmas: o tratamento de sementes industrial (TSI), e de conceituarmos o tratamento de sementes On Farm (TOF).
Por onde começar
Qualquer tratamento de semente se divide em dois momentos chaves: a dosagem dos produtos e a distribuição dos mesmos sobre as sementes, levando em consideração a quebra das gotas dos produtos aplicados.
O TSI, como o nome já diz, é realizado dentro da indústria em uma estação de tratamento de sementes. Essa pode ser dentro da própria empresa que comercializa a cultivar para a pessoa produtora ou uma empresa terceirizada especializada nesse tipo de serviço.
As sementes chegam ao espaço de tratamento sem qualquer cobertura, ou seja, branca – cada empresa tem seu conjunto tecnológico de máquinas – elas passam por um conjunto de esteiras até chegarem a um recipiente, onde recebem o tratamento de forma homogênea, com boa distribuição das gotas por volume de semente, dosagem adequada (recomendada por alguma pessoa engenheira agrônoma) e com a ordem dos produtos corretos (por exemplo: não se aplica um biológico à base de fungo um fungicida sem a adição de algum protetor ou se o produto biológico não contiver em sua tecnologia/molécula alguma forma de proteção).
Essa semente permanece em movimento centrífugo contínuo, de modo a não sofrer grandes impactos e conseguindo um recobrimento homogêneo de toda a carga ali depositada. Essas máquinas costumam ser grandes e as pessoas operadoras trabalham de forma segura e limpa.
Benefícios desse tratamento
Esse tratamento é um passo na história da agricultura, é o diferencial entre o ontem, o hoje e possivelmente o amanhã. Seus benefícios são imensos, a começar pela imensurável capacidade de preservar a saúde humana.
As pessoas dosadoras e/ou que manipulam toda a estação de tratamento, além de usarem equipamento de proteção individual (EPI), trabalham em um lugar próprio e seguro para todo o movimento que as operações exigem.
As máquinas foram pensadas de modo a não colocar a vida das pessoas em risco de contato com os produtos e/ou as sementes pós-tratadas. Outro benefício é quanto à eficiência, no que diz respeito à homogeneização da cobertura das sementes (quantos gramas de produto por volume de semente tratada).
O TSI permite uma melhor quebra das gotas do produto, possibilitando essa melhor distribuição do mesmo.
O outro lado da moeda on farm
O TOF tem seu maior ponto negativo na vida humana. Isso é responsabilidade do fluxo de desenvolvimento da história da agricultura, que vem buscando melhorias gradativamente, ou seja, no passado essas máquinas não existiam.
É responsabilidade também das pessoas produtoras e/ou orientadoras que trabalham na execução do tratamento, pois é necessário que se use os equipamentos de proteção, como luvas, máscaras e roupas específicas, etc. Muitas pessoas negligenciam a importância dos EPIs e fazem graça disso.
Outros fatores importantes relacionados aos pontos negativos do TOF estão diretamente relacionados ao fator eficiência: a dosagem & distribuição do produto por volume de sementes – homogeneidade – quebra das gotas. Tudo isso acontece de forma menos assertiva quando comparado ao TSI.
Existe também maior dano mecânico, ou seja, quebras e trincas das sementes quando essas são tratadas on farm, seja um terreirão com enxadas, em uma betoneira ou em um galão de plástico de 300 litros improvisado, etc.
Há, também, a possibilidade de embeber demais essas sementes, quando elas são submetidas à grande quantia de produtos por um tempo inadequado, podendo, inclusive, germinar no próprio saco de armazenamento.
Sendo tratamento industrial ou on farm, o legal é buscar semear o mais rápido possível, pois os produtos podem perder sua eficiência com o tempo.
Custo-benefício
Geralmente o TSI é mais caro do que o tratamento on farm devido a, por exemplo, um maior gasto de energia elétrica com os aparatos de máquinas. Esse custo é embutido na comercialização da semente. O TOF pode exigir mais de mão de obra, porém, seu custo continua inferior ao tratamento industrial.
O custo-benefício está na seguinte lógica: uma semente bem tratada estará bem protegida, resultando em uma planta com boa germinação e vigor, desempenhando seu máximo potencial produtivo. Uma semente mal tratada estará mal protegida, resultando em uma planta que pode germinar ou não.
Esta pode sofrer com ataques de insetos-praga, fungos fitopatogênicos e mal desempenho com algum inoculante, gerando, ‘se gerar’, uma planta com péssimo vigor, podendo resultar em perda.
Hoje, a perda de uma semente, seja de soja ou de milho, a cada cinco metros lineares em um hectare é equivalente a R$ 231,20 (considerando que uma semente produza uma planta com 120 sementes; PMS = 170 g; preço da saca = R$ 170,00; saca = 60 kg; espaçamento de plantio = 50cm; plantio desejado = 12 sementes por metro linear) e R$ 648,00 (considerando que uma semente produza uma planta com uma espiga; cada espiga = 360 sementes; PMS = 300 g; preço da saca = R$ 90,00; saca = 60 kg; espaçamento de plantio = 50 cm; plantio desejado = três sementes por metro linear), respectivamente.
O que vai no tratamento?
No TSI e TOF podem ser incluídos micronutrientes, nematicidas, fungicidas, inseticidas, reguladores de crescimento, protetores a herbicidas, polímeros, etc. É recomendado utilizar produtos para TS que sejam registrados para a cultura de interesse naquele momento. Importante levar em consideração a região e o histórico daquela área, ou seja, quais insetos-praga estão mais presentes naquela região – naquela época do ano; quais fungos estão presentes no solo em questão; quais plantas invasoras e quais herbicidas serão utilizados; há presença de nematoides – quais? etc.
Lembrando que o tratamento industrial não aumenta o vigor das sementes, o que pode vir a aumentar o desempenho de vigor da planta é algum produto que se adicione ao TSI, como por exemplo produtos biológicos: inoculantes, micronutrientes, hormônios específicos (como giberelina e citocinina) e outros.
Fatores importantes
O TSI tende a lixiviar menos do que o tratamento on farm, devido à eficiência de recobrimento das sementes tratadas. Outra questão relacionada ao clima é o armazenamento após essas sementes serem tratadas.
É imprescindível que se armazene essas sementes em local arejado e sem umidade, pois qualquer contato a mais com água pode gerar danos irreversíveis para o produtor.
Ainda, a depender da disposição de mão de obra, o tempo pode estrangular as operações. Planejamento e organização são grandes aliados nesse momento da cadeia produtiva (de escolhas), podendo o produtor considerar fazer parte TSI e parte on farm – mesmo sabendo que o segundo pode deixar a desejar no quesito eficiência.
Não se deve esquecer de se atentar ao volume da calda do tratamento de sementes e estar sempre orientado por um pessoa da área da agronomia.