Giovani Belutti Voltolini
Engenheiro agrônomo, doutorando em Agronomia/Fitotecnia/UFLA e coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento – Fronterra
giovanibelutti77@hotmail.com
Caio Eduardo Lazarini Garcia
Luiz Gustavo Silva Rabelo
Engenheiros agrônomos e consultores especialistas – Fronterra
Durante mais de 60 anos de pesquisa, a professora Ana Maria Primavesi buscou incessantemente maior compreensão dos aspectos biológicos do solo, com diversas pesquisas e insumos ligados à adequação do cultivo fazendo melhor uso do solo e seus microrganismos.
A autora relata sobre a teoria da trofobiose, que muito se relaciona com este texto, pois quando se pensa em um solo com o máximo do seu potencial de exploração, ou seja, os aspectos químicos, físicos e biológicos, e a interação destes, o que se tem é um ambiente equilibrado e harmônico de todos os microrganismos que ali se estabelecem, favorecendo assim a maior condição de defesa das plantas pelos tantos compostos (enzimas, precursores) ali produzidos.
Alguns trabalhos relatam que em 1,0 g de solo há aproximadamente 100 milhões de microrganismos, logo, deve-se explorar melhor esta abundância de organismos vivos e seus benefícios.
Os bioinsumos
Recentemente, um dos manejos com maior recorrência de estudos na agricultura é a utilização de bioinsumos, que são produtos ou processos de origem vegetal ou microbiana utilizados nos sistemas de cultivo agrícola e pecuário que interferem positivamente no crescimento, desenvolvimento e mecanismo de resposta de animais, plantas, microrganismos e substâncias derivadas, que interagem com os produtos e os processos físico-químicos e biológicos.
Portanto, a partir desta definição e dos recentes benefícios associados à utilização destes bioinsumos na agricultura, o melhor entendimento dos componentes que envolvem a sua utilização se faz necessário para posicionamento técnico dos mesmos e consequente exploração nos ambientes de cultivo.
Conceito
Os bioinsumos abrangem os fertilizantes, fertilizantes orgânicos, organominerais, biofertilizantes, condicionadores de solo, substratos para plantas, substâncias húmicas e fúlvicas, organismos vivos e aditivos.
São também conhecidos como bioestimulantes, já que apresentam efeitos diretos ou indiretos na melhoria das propriedades físico-químicas do solo e na estimulação da atividade biológica presente nele.
Conforme o enquadramento do produto, este deve apresentar garantias mínimas de compostos químicos, princípios ativos e/ou agentes orgânicos em sua composição para se obter os benefícios agronômicos.
Benefícios à nutrição
Solos que são caracterizados como mais bioativados são aqueles que possuem melhor harmonia em suas fases química, física e biológica, e que atuam, assim, de forma a condicionar melhor relação solo-água-planta, propiciando melhorias aos atributos nutricionais.
Além disso, quando pensamos em bioativadores, ao utilizar fertilizantes orgânicos, organominerais, biofertilizantes e condicionadores de solo, por exemplo, além do aporte de material orgânico, com todos os seus constituintes nutricionais, também é fornecido ao solo uma quantidade considerável de substrato como fonte para estabelecimento, reprodução e colonização de organismos vivos no solo, que compõem o microbioma local, e interferem diretamente na produção de enzimas e compostos, com grande impacto sobre o desenvolvimento vegetal.
Opções de manejo inserindo organismos vivos
TIPO DE ORGANISMO VIVO | FUNCIONALIDADE |
Bacillus aryabhattai | Indução à tolerância à seca |
Bacillus megaterium | Solubilizador de P |
Bacillus amyloliquefaciens | Promotor de crescimento |
Streptomyces spp. | Acelerador de compostagem |
Azospirillum brasilense | Fixador de N |
Pseudomonas fluorescens | Solubilizador de P |
Nitrospirillum amazonense | Promotor de crescimento |
Na tabela foram detalhados alguns dos principais organismos vivos utilizados como bioinsumos na agricultura, entretanto, há uma infinidade de outros tantos que são utilizados ou ainda em teste, e milhões de organismos que ainda não foram identificados e validados com uso agronômico.
Ganhos produtivos
Não há pesquisas que mensurem ao certo o percentual de incremento em produtividade das lavouras cultiváveis em função da bioativação do solo. Entretanto, já é elucidado que a capacidade de resposta das plantas nestes ambientes de cultivo, seja para aspectos fitossanitários ou fitotécnicos, como os nutricionais e, consequentemente, para atributos de crescimento e produtividade, possibilita que as mesmas completem seu ciclo com maior potencial.
Isso nos traz a segurança de que, quando adotadas práticas que possibilitem melhor bioativação do solo, possivelmente teremos lavouras com maior equilíbrio nutricional, melhor resposta à incidência de pragas e patógenos, assim como maior resiliência a fatores abióticos.