Pablo Henrique Teixeira
Doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
O mofo-branco, causado pelo fungo habitante de solo Sclerotinia sclerotiorum, é uma doença séria que afeta os feijoais de todas as regiões brasileiras, com exceção do Norte. O maior problema é durante o outono-inverno (3ª safra), em que o feijoeiro é irrigado via pivô central e proporciona condições ideais para o desenvolvimento desta doença.
No entanto, esta doença também pode provocar perdas significativas nas demais safras, sobretudo em regiões com altitudes superiores a 800 m, especialmente quando chuvas persistentes coincidem com a fase de floração do feijoeiro.
Perdas no feijoeiro devido ao mofo-branco
Segundo a literatura, as perdas de produtividade no feijoeiro devido ao mofo-branco podem chegar a até 100%, dependendo da pressão da doença naquele ano, que é influenciada por vários fatores, como: condições ambientais, práticas de manejo, sistema de produção e tipo de cultivares.
Estudo sugere uma perda média de 17,5 kg/ha para cada 1% de aumento na incidência de mofo-branco. Com base nesse estudo, pode-se estimar perdas de aproximadamente 5,8, 14,6 e 23,3 sacas de 60 kg/ha, considerando pressões de mofo-branco: baixa (20% de incidência), moderada (50% de incidência) e alta (80% de incidência), respectivamente.
Além disso, o mofo-branco também pode acarretar considerável redução na qualidade dos grãos, que ficam menores e manchados.
Este patógeno é altamente polífago, com mais de 400 espécies hospedeiras descritas, como leguminosas (soja, ervilha, crotalária, amendoim etc.), culturas de interesse econômico como algodão, tomate, girassol, canola, além de diversas espécies de plantas daninhas.
Ciclo do mofo-branco
O mofo-branco é favorecido por temperaturas amenas (15-25 ºC) e alta umidade. Alta umidade no solo é essencial para germinação dos escleródios, que são as estruturas de resistência do fungo, e é por estes que o ciclo da doença se inicia.
A germinação dos escleródios pode ser carpogênica ou miceliogênica, sendo a primeira a forma mais comum. A germinação carpogênica ocorre formando um corpo de frutificação na forma sexuada, denominado apotécio. O apotécio produz ascósporos que são ejetados e podem atingir flores senescentes, que darão início à infecção primária da doença.
A forma miceliogênica ocorre quando o escleródio, em condições favoráveis, germina em contato com tecidos senescentes da planta hospedeira depositados no solo. O tecido morto do hospedeiro, como substrato primário do fungo, é essencial para infecção do mofo-branco, pois trata-se de um patógeno necrotrófico.
O micélio de S. sclerotiorum é branco e de aspecto cotonoso, características que dão origem ao nome desta doença. O micélio pode se espalhar por toda planta: galhos, hastes, vagens e pecíolo, que com o avanço gera um aspecto mole e encharcado nestes tecidos, além de transmitir por contato para as plantas sadias, sendo a forma secundária de infecção.
No fim do ciclo de vida da cultura, novos escleródios são formados pelo adensamento do micélio fúngico protegido por uma camada de melanina. Os escleródios podem permanecer viáveis no solo por mais de cinco anos, mesmo na ausência de hospedeiro, servindo também como fonte de inoculação de novas áreas, por meio de lotes de sementes contaminados com essas estruturas e também transportados por maquinário.
Manejo e controle do mofo-branco
No Brasil, feijoeiros do tipo II e III são os mais plantados, ambos de hábito de crescimento indeterminado. Os feijoeiros do tipo II geralmente têm porte ereto e formam um dossel mais estreito e poroso (luz solar chega ao solo), enquanto os do tipo III têm porte mais prostrado e um dossel mais denso.
Logo, feijoeiros do tipo II geralmente são mais tolerantes ao mofo-branco, uma vez que as características das plantas permitem maior penetração da luz solar e circulação de ar dentro do dossel e no solo, o que desfavorece o patógeno e o desenvolvimento da doença.
Considerando espaçamento entre fileiras de 50 cm (geralmente muito usado), em geral, recomendam-se entre 220-260 mil plantas/ha para feijoeiros do tipo II. No entanto, esta população só é indicada quando se faz uso de fungicida. Quando o fungicida não é usado, recomenda-se reduzir a população de plantas para 140 – 200 mil plantas/ha.
Para feijoeiros do tipo III, recomenda-se população de até 140 mil plantas/ha quando se usa fungicida e 80-120 mil plantas/ha sem fungicida.
Irrigação
Irrigações esparsas grandes com lâminas de água são preferíveis a irrigações constantes com pequenas lâminas. Irrigações noturnas são preferíveis a irrigações diurnas, de modo que durante o dia os feijoeiros fiquem secos a maior parte do tempo.
A aplicação de fungicida via água de irrigação também é recomendada, pois age tanto na proteção da parte aérea da planta quanto reduzindo a germinação de escleródios do solo.
Controle biológico
Há produtos à base de Trichoderma harzianum e Trichoderma asperellum registrados no MAPA, que visam a redução do banco de escleródios no solo. A aplicação destes produtos proporciona melhores resultados em regiões e épocas mais quentes (20-30 ºC), especialmente no sistema de plantio direto. Recomenda-se aplicar por volta dos 20 dias após a emergência.
Controle químico
Recomendado principalmente de forma preventiva, com duas ou três aplicações a partir do início do florescimento, com intervalo de 10 dias entre aplicações. Produtos à base de fluazinam (protetor) e procimidona (sistêmico) são eficientes.
Esse controle é altamente recomendado em áreas com histórico da doença, sobretudo no cultivo irrigado de outono-inverno. O fungicida pode dobrar a produtividade do feijoeiro nesta safra.
Plantio direto e rotação com gramíneas
Além de dispensar operações de gradagem e aração, que são formas altamente eficientes de disseminação dos escleródios do patógeno, o plantio direto ajuda no controle do mofo-branco no curto e longo prazo: a palhada serve como barreira física à germinação dos apotécios e dispersão dos ascósporos.
O acúmulo de matéria orgânica ao longo do tempo também favorece a proliferação de microrganismos antagonistas aos escleródios.
ARTE
Outras estratégias
a) Utilizar sementes livres do patógeno ou misturadas com escleródios e tratadas com fungicidas;
b) Limpar implementos agrícolas utilizados em áreas infestadas pelo patógeno;
c) Eliminar plantas com sintomas antes da formação de escleródios em campos onde a doença aparece pela primeira vez;
d) Evitar altas doses de nitrogênio de modo a evitar o crescimento exagerado das plantas;
e) Quando em cultivo convencional, inverter o solo com uma passada de arado de aiveca para enterrar os escleródios em áreas já infestadas.
O que vem por aí
Não existe cultivares de feijão com resistência completa ao mofo-branco. No entanto, estudos recentes propõem o uso de variedades com resistência parcial. Esta resistência prioriza o que chamamos de mecanismo de escape à doença, que são características morfológicas da planta que, em condições de campo, desfavoreçam o patógeno e a doença.
Plantas altas, de porte compacto e com boa resistência ao acamamento, geralmente apresentam menos sintomas do mofo-branco. Desde 2008, pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV) estudam essas características de escape em linhagens elites provenientes dos ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCUs) de Minas Gerais.
Foram identificadas linhagens com caraterísticas de resistência parcial ao mofo-branco e alta produtividade. Estudos fitotécnicos indicam que esta resistência parcial pode contribuir no manejo do mofo-branco no feijoeiro.
Esses estudos indicam redução na incidência, severidade e massa de escleródios formada no fim do ciclo do feijão nos genótipos com resistência parcial. Em geral, os feijoeiros do tipo II apresentam mais genótipos com resistência parcial, mas essa resistência também pode ocorrer em alguns genótipos do tipo III.
Além disso, genótipos desse tipo com essa resistência permitem o uso das populações de plantas recomendadas para áreas sem histórico do MB. No entanto, para feijoeiros do tipo III cultivado em áreas infestadas com escleródios, recomenda-se usar 4 – 6 plantas/m, quando não se usa fungicidas, e 5 – 7 plantas por metro, quando se usa fungicida para o controle do mofo-branco.
Está em fase de registro no MAPA a cultivar carioca do tipo III de nome Portela. Esta tem apresentado produtividades acima de 3.000 kg/ha, mesmo quando a severidade do mofo-branco é alta.