Fábio Rafael Echer
Doutor em Agronomia, professor e coordenador – Unoeste, campus Presidente Prudente – SP
O planejamento da semeadura é essencial para alcançar o estande ideal de plantas e obter uma boa produtividade na cultura do algodão. Além disso, as sementes representam uma fatia significativa dos custos de produção da lavoura, hoje estimados entre R$ 6 mil e R$ 8 mil por hectare, segundo o Imea. Portanto, minimizar os erros nesta etapa é fundamental para reduzir custos da fazenda.
Desafios
Hoje, o maior desafio em áreas de produção de algodão é instalar uma lavoura com o estande adequado devido à forte pressão de doenças de solo no momento da semeadura e emergência. Assim o produtor, mesmo utilizando um bom tratamento de sementes, corre o risco de perder plantas, o que pode comprometer o estande e a expressão do potencial produtivo.
Então, acaba-se utilizando uma densidade de semeadura mais alta para compensar uma eventual perda de estande, o que nem sempre ocorre. Estudos indicam que dentro de uma janela de semeadura ideal em cada ambiente de produção (janeiro para o MT e entre meados de novembro e dezembro para a Bahia), o algodoeiro tem a capacidade de compensar falhas de estande de até 30 cm, devido ao pegamento de posições frutíferas que normalmente não se desenvolveriam, caso houvesse uma planta no local, a exemplo terceiras e quartas posições, além do aumento do número de capulhos em ramos vegetativos (monopodiais).
Assim, a decisão de replantar ou não deve considerar essas falhas e a data de plantio, pois a capacidade de compensação vai depender do tempo que a planta terá para desenvolver as estruturas tardias (ponteiro e extremidades laterais).
Outro ponto a ser considerado é a homogeneidade da profundidade de semeadura, pois em área com grande quantidade de resíduos culturais (milho, milheto, braquiária ou mesmo resteva de soja) a palha limita o corte e o aprofundamento do disco ou da haste sulcadora, o que pode interferir na profundidade de deposição da semente.
Isso pode ser minimizado com a utilização de discos de corte específicos e de uma regulagem do saca-palha da colhedeira de soja para espalhar os resíduos de maneira homogênea.
Orientações
O principal ponto é seguir a orientação da empresa desenvolvedora da cultivar, pois cada material passou por testes prévios nas condições ambientais locais. Depois, é preciso considerar as possíveis perdas de estande que podem ocorrer.
Por exemplo, se é uma área que será instalada em sistema de semeadura direta e que há um grande volume de palha, é necessário que se tome os cuidados prévios, como época de dessecação da cultura de cobertura.
Se o volume de palha for muito alto, pode haver problema de envelopamento, que é a formação de bolsões de ar entre a semente e o solo, o que inibe o processo de embebição (absorção de água) da semente e impedirá sua germinação.
Assim, deve-se considerar o uso do limite superior da população de plantas indicada para aquela cultivar naquela época e local, além de utilizar discos de corte apropriados para tal condição.
Outra situação, muito comum nos primeiros meses do ano no MT, é o encharcamento e o alagamento do solo, o que pode restringir a disponibilidade de oxigênio e, portanto, a germinação da semente.
O problema será mais grave em áreas compactadas, cuja drenagem é retardada. Nesses casos, é importante que se faça uma avaliação física do solo na entressafra anterior para conhecer o grau de impedimento físico de cada talhão e traçar estratégias de manejo (rotação de culturas, escarificação, etc.).
Pragas
A ocorrência de veranicos no início do ciclo também deve ser considerada, principalmente em regiões com solos arenosos, pois com a seca pode haver aumento da incidência de lagarta elasmo, praga essa que mata a plântula. Outra praga que merece destaque nessa fase é a lagarta rosca e a Spodoptera frugiperda, que também possui hábito de cortar plântulas.
Assim, é recomendado que se monitore e controle essas lagartas na cultura anterior, pois o tratamento de sementes com inseticidas tende a ter pouca eficiência de controle.
Como alcançar o estande ideal de plantas
O estande ideal depende da cultivar, do espaçamento e da época de semeadura. Assim, uma mesma cultivar semeada em outra época deverá ter o seu estande ajustado. Normalmente abre-se o plantio com cultivares tardias semeadas em densidades mais baixas, pois como a janela de desenvolvimento é mais longa, a planta precisará de mais espaço para que haja uma boa retenção de frutos.
Por outro lado, se a característica da cultivar for de ter um maior pegamento de frutos no ponteiro, deve-se ajustar a estratégia de compensação aumentando um pouco o estande, mesmo em semeaduras no início da janela de plantio, caso contrário, a capacidade de compensação de frutos no ponteiro da planta será limitada.
À medida que se avança para o final da janela de semeadura, opta-se então por cultivares de ciclo médio e precoce, cujo estande deve ser aumentado (normalmente entre uma e duas plantas por metro – dependerá da cultivar), pois o maior número de plantas tende a compensar parcialmente a menor produção individual em função das piores condições climáticas (baixa disponibilidade hídrica e temperatura baixa) no final do ciclo.
Porém, isso tem um limite, uma vez que o aumento excessivo da densidade de plantas elevará a competição entre plantas por recursos, sobretudo por luz no início e no meio e por água no meio e no fim do ciclo.
Especificidades do algodão
É importante conhecer as condições edafoclimáticas da região, sobretudo a disponibilidade hídrica na época de instalação da lavoura; a condição física do solo que permitirá maior ou menor drenagem do excesso de água; utilizar sempre sementes de qualidade com alto vigor e ajustar a profundidade de semeadura (3,0 – 4,0 cm) para aumentar a velocidade de emergência, pois o atraso da emergência expõe a semente ao ataque de fungos de solo.
A emergência normalmente ocorre entre cinco e sete dias após a semeadura, dependendo da temperatura e da profundidade de semeadura, e o ideal é que se tenha pelo menos 30% de plantas emergidas aos cinco dias após a semeadura.
Plataforma Cotton Apps
A Cotton Apps foi desenvolvida para facilitar o acesso às informações e auxiliar no manejo da lavoura de algodão. São três aplicativos atualmente disponíveis (Cultiva, Regula e Estima) e outros em desenvolvimento.
Além dos apps, conteúdo técnico sobre a cultura do algodão é disponibilizado nas redes sociais, como Linked In, Instagram e Facebook (@cottonapps). O download do aplicativo é gratuito.
O aplicativo Cotton Apps, por meio da funcionalidade Cultiva, permite o cálculo do estande e da quantidade de semente necessária por hectare em função da cultivar utilizada e da época de semeadura. O app é intuitivo e basta selecionar a cultivar, a época de semeadura, o espaçamento de cultivo e a germinação do lote de sementes.
Como calcular a produtividade
A produtividade do algodoeiro pode ser estimada de duas formas:
1) Sabendo o peso médio do capulho (PMC) (colher de 30 a 50 capulhos de várias posições da planta, pesar e dividir o peso pelo número de capulhos)
a) Determinar a quantidade de metros de linha (dividir 10.000 (área de um hectare em m2 – pelo espaçamento (em metros))
b) Contar o número de capulhos em uma determinada quantidade de metros de linha (utilizar uma amostragem maior se a área está irregular (>10 pontos), ou área menor se estiver homogênea (5 a 10 pontos)); dividir o número de capulhos pela quantidade de metros e multiplicar pelo peso médio do capulho e pela quantidade de metros de linha em um hectare. Dividir este valor por 1000 para transformar para kg/ha.
Exemplo.
Espaçamento: 0,90 m
PMC: 4,5 g
Média do número de capulhos por metro contados em x pontos: 95
Passo a) 10.000/0,9 m = 11.111 metros de linha em 1,0 hectare
Passo b) (95 x 4,5 x 11.111)/1.000 (de g para kg) = 4.749 kg/ha ou 316@/ha (1 @ = 15 kg).
2) Colhendo uma amostra
Outra forma de estimar a produtividade, e talvez a mais adequada, é pela colheita da algodão em uma área conhecida.
a) Colher o algodão em 1,0 metro de linha de x pontos (>10 se a área for desuniforme sempre em pontos representativos do talhão).
b) Pesar a amostra coletada em cada metro de linha. Dividir o peso total pelo número de pontos amostrados para se obter a média.
c) Um hectare possui 10.000 metros quadrados. Para saber quantos metros de linha, divide-se a área em metros quadrados pelo espaçamento (ex. 0,80m) = 12.500 metros de linha por hectare.
d) Multiplica-se o peso colhido em um metro por 12.500.
e) Exemplo: valor médio colhido de 400 g – 400 x 12.500 = 5.000.000 dividido por 1.000 (transformar para kg/ha) = 5.000 kg/ha – 5000/15= 333@/ha
Para facilitar o cálculo da estimativa da produtividade, pode-se utilizar a ferramenta Estimativa da plataforma Cotton Apps.
Cotton Apps
A Cotton Apps é uma startup focada no desenvolvimento de soluções tecnológicas para o manejo da lavoura de algodão em seus variados processos. O acesso é gratuito graças ao apoio de empresas como a FiberMax/Basf, Bayer, ICL, Valagro e Plant Defender.