O Relatório Anual do Desmatamento agrega dados sobre o total desmatado no Brasil em 2021 e confirma o avanço da atividade no Cerrado em publicação divulgada nesta segunda, 18, pela iniciativa MapBiomas. O segundo maior bioma brasileiro teve alta de 20,2% no desmatamento, foram 500.537 hectares desmatados contra 416.556 em 2020. No Cerrado também está a maior área de vegetação derrubada de uma única vez no último ano: 4.977 ha, desmatados em uma propriedade rural no município de Jaborandi (BA), uma área mais de oito vezes maior que a reserva do Parque das Dunas, na capital baiana Salvador.
A concentração de área desmatada segue nos Estados do Matopiba. Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia tiveram 73% de toda a área desmatada no Cerrado brasileiro – percentual que foi de 69% no relatório anterior. Em relação a 2020, Tocantins foi o único Estado do Matopiba que desmatou menos, com uma redução de 1,5%. Nos demais Estados, desmatamentos de grandes áreas ocorreram em Minas Gerais (que teve aumento de 89% em relação a 2020, com 31.115,43 ha desmatados em 2021), Mato Grosso do Sul (83% de aumento, com 28.356 ha desmatados), Bahia (43%, com 95.907 ha), Goiás (35%, com 31.323 ha) e Piauí (18%, com 57.613 ha).
“O Cerrado é o segundo bioma mais afetado pelo desmatamento, e também aquele com maiores áreas contínuas desmatadas, ocorrendo principalmente na região do Matopiba, onde a expansão de grãos transforma o território e compete pela água com as comunidades tradicionais. O avanço desordenado do desmatamento no local ameaça a porção mais preservada desse bioma”, completa a diretora de Ciência no IPAM e coordenadora do MapBiomas Cerrado e do MapBiomas Fogo, Ane Alencar. Dos dez municípios com maiores desmatamentos de Cerrado, cinco estão na Bahia, quatro no Maranhão e um no Piauí. O primeiro é São Desidério (BA), que registrou 17.839 ha em área desmatada e ocupa a 12a posição na classificação de cidades que mais desmataram todos os biomas no Brasil. Formosa do Rio Preto (BA), com 15.114 ha derrubados, e Jaborandi (BA), com 13.534 ha, municípios com segunda e terceira maior área de Cerrado desmatada, respectivamente, ocupam a 15a e 19a posição na lista nacional.
A agropecuária é o principal vetor de pressão para o desmatamento do bioma, que ocorre, principalmente, no segundo trimestre de cada ano. No relatório, pesquisadores calculam que 98% da área desmatada no Cerrado em 2021 foi destinada a esse uso. Ainda 35.772 ha foram derrubados dentro de unidades de conservação, sendo a maioria (99%) em Áreas de Proteção Ambiental, com desmatamento também em Unidades de Proteção Integral – essas tiveram 443 ha desmatados. Em terras indígenas no bioma o desmatamento subiu 79%, totalizando 3429 ha.
“O Cerrado está tão ameaçado quanto a Amazônia e não pode ser mais desmatado. Temos só cerca de 50% do bioma ainda vivo e esses remanescentes devem ser preservados”, diz a pesquisadora no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora científica no MapBiomas Brasil, Julia Shimbo.