Liliane Marques de Sousa
Engenheira agrônoma e mestranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
liliane.engenheira007@gmail.com
Walleska Silva Torsian
Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USP
walleskatorsian@usp.br
Alasse Oliveira da Silva
Engenheiro agrônomo e mestrando em Fitotecnia – ESALQ/USP
alasse.oliveira77@usp.br
As pimentas fazem parte da riqueza cultural do Brasil, destacando como patrimônio da nossa biodiversidade. Podem e são cultivadas em todo território brasileiro em diversos tamanhos, cores, sabores e também picância, característica mais marcante das pimentas.
Existem diversas variedades de pimenta, “dedo-de-moça”, “cumari”, “biquinho”, “bode”, “de cheiro”, “malagueta”, “jalapeño”, entre outras inúmeras cultivadas no Brasil, todas parentes do pimentão.
Mercado
O agronegócio das pimentas é muito importante e se destacam segmentos desde fábricas artesanais de conservas até a exportação por empresas multinacionais. Devido à grande mídia pela sua grande versatilidade alimentícia e propriedades medicinais, as pimentas vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado.
O destaque maior das pimentas é justamente a pungência (“ardência e/ou picância”) que possuem, devido à presença da substância “capsaicina”, que também é utilizada para aliviar dores musculares, por exemplo.
A produção de pimentas ocorre em todo o Brasil e é um dos melhores exemplos de cultivo praticados pela agricultura familiar. Atualmente, a área de cultivo é de dois mil hectares, sendo os Estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul os maiores produtores de pimenta do Brasil. O mercado movimenta cerca de R$ 80 milhões por ano com a produção de pimentas.
Características
As pimentas pertencem ao gênero Capsicum e a família Solanaceae que tem como representantes, o tomate, a batata, o pimentão, a berinjela e o jiló. O centro de origem do gênero Capsicum é no continente americano.
A altura e o crescimento das plantas variam de acordo com as espécies e as condições de cultivo. O sistema radicular é do tipo pivotante com várias ramificações laterais que podem chegar até 120 centímetros de profundidade.
As folhas possuem tamanho, formato e coloração variáveis. As flores são hermafroditas, com a presença de cálices, sépalas e corolas. Para identificar as espécies, é comum os taxonomistas fazerem a identificação das flores.
As espécies são autógamas, ou seja, o pólen e o óvulo que é fecundado pertencem à mesma flor, facilitando a reprodução, porém, em alguns casos, poderá ocorrer a polinização cruzada pela ação dos insetos polinizadores.
Diversidade
O fruto da pimenta é classificado como baga, com estrutura oca, semelhante a uma cápsula. A diversidade das pimentas é caracterizada pelos frutos, que apresentam diferentes formas, colorações, tamanhos e pungências.
A pungência, exclusiva desse gênero, é caracterizada pela presença da capsaicina, que é um alcaloide que está alocada na placenta que fica na superfície do fruto, quando o fruto sofre determinado dano físico, esse alcaloide é liberado e pode ser medido em Unidades de Calor Scoville (Scoville Heat Units-SHU), o valor pode variar de zero (pimentas doces) até 300.000 (pimentas muito picantes).
A coloração dos frutos pode variar entre vermelho, amarelo-leitoso, amarelo-forte, roxo, preto, verde, salmão, entre outras. E o formato pode ser arredondado, triangular, cônico, quadrado, retangular, entre outros.
A pimenta é uma planta que exige calor, bastante sensível a baixas temperaturas e não tolera geadas, logo, seu cultivo é mais recomendado em regiões com altas temperaturas, onde favorece a germinação, o desenvolvimento e a produção de frutos. As temperaturas ideais para cultivo variam entre 21 e 30°C.
Baixas temperaturas inviabilizam a produção, causando queda de flores e frutos. Altas temperaturas causam mal desenvolvimento dos frutos, que é a parte comercial. O cultivo protegido para pimentas é utilizado em locais onde as condições climáticas não contribuem para o desenvolvimento das pimentas, podendo proteger as plantas da intensidade de chuvas e da velocidade dos ventos.
Plantio
O solo para cultivo de pimenta deve ser profundo, leve e bem drenado, com pH entre 5,5 e 6,5. É recomendado que sejam evitadas áreas onde houve cultivos prolongados de outras solanáceas como batata, tomate, berinjela e também cultivos de cucurbitáceas como abóbora, melão e pepino.
O plantio mais indicado é o cultivo anterior de soja, feijão, milho, arroz e trigo. Deve-se fazer o preparo da área de acordo com as necessidades do solo, e contar com a presença de um engenheiro agrônomo responsável para recomendar técnica de calagem, gessagem, adubação, se possível.
O plantio das pimentas pode ser feito em canteiros, mas o mais recomendado é o cultivo em sulcos, com 100 cm de largura e 25 cm de profundidade. A distância entre os sulcos deve ser de 80 cm com declividade de 0,5% para facilitar o escoamento da água da irrigação.
Adubação
A necessidade de adubação das pimenteiras varia de acordo com a análise química do solo e a recomendação do engenheiro agrônomo responsável. No geral, aplica-se calcário para elevar a saturação de bases, cerca de três meses antes do plantio.
Os fertilizantes devem ser aplicados no sulco ou no canteiro, com o bom revolvimento do solo para a boa incorporação. Os produtores utilizam adubação nitrogenada e adubação orgânica, principalmente cerca de 10 dias antes do transplante das mudas de pimenta.
É recomendado utilizar 20 t/ha de esterco bovino ou 5,0 t/ha de esterco de galinha. Para as fases de crescimento e frutificação, a adubação deve ser realizada em intervalos de 30 dias.
Fertilizantes líquidos
Os fertilizantes líquidos são conhecidos e utilizados no mundo desde 1840, onde começou a comercialização na Irlanda. No Brasil, no século XIX, o chorume era aplicado no solo, porém, foi apenas na década de 1960 que começou a comercialização de mistura sólida e líquida para aplicações foliares.
Os fertilizantes líquidos, também chamados de fertilizantes fluidos, têm a vantagem de serem mais concentrados, conseguirem agregar mais nutrientes e poderem ser aplicados juntamente com a irrigação, chamada de fertirrigação.
Basicamente conhecido como um adubo que contém organismos e macro e micronutrientes que melhoram a saúde das plantas, deixando mais resistentes ao ataque de doenças e pragas que acometem diversas culturas.
Vantagens
Os fertilizantes líquidos apresentam mais vantagens, como menor custo de mão de obra, a aplicação no solo é uniforme, menor segregação de nutrientes, maior rendimento operacional, menor custo de produção, menor impacto ambiental, permitindo a produção de alimentos mais saudáveis, fortalece as plantas, melhora a produtividade das culturas, a fertilidade dos solos e é uma fonte alternativa de renda.
A aplicação desses fertilizantes no Brasil é comumente utilizada para culturas como cana-de-açúcar, hortaliças e frutíferas.
Recomendações
Basicamente, para preparação de uma adubação líquida, é necessário um recipiente com tampa, o tamanho irá depender da quantidade de fertilizantes que o produtor quer produzir. O recipiente deverá ser colocado em área externa, ventilada e com sombra. O sombreamento é responsável por contribuir com a qualidade do produto final e a ventilação atua na liberação dos gases presentes.
Alguns materiais podem ser utilizados para produção de adubos líquidos, como a borra de café, restos de frutas, verduras e legumes, melaço e caldo de cana, esterco fresco e cinzas de restos vegetais. Todos esses materiais contribuem para o fornecimento de nitrogênio e nutrientes, ajudam no desenvolvimento das bactérias, redução de pragas e doenças e fornecimento de potássio, cálcio e micronutrientes.
Para reaproveitar os resíduos, deve-se colocar os mesmos no recipiente com tampa com entrada de ar (sistema aeróbico), após isso, deve completar com água e deixar 10 cm de espaço entre a tampa.
É recomendado mexer por 10 minutos a cada três dias e permanecer tampado por cerca de 90 dias. Após o procedimento, o adubo líquido estará pronto para aplicação com a formação de um caldo escuro. Se aparecer mau cheiro ou moscas, é recomendado acrescentar palha no solo após a aplicação do adubo na planta.
A dose de adubo líquido favorece maior produtividade de pimentas, com maior número de frutos por plantas, o que aumentou a produtividade das pimenteiras, devido à liberação de nutrientes de forma gradativa com a aplicação de adubos líquidos.