Na Semana Nacional dos Alimentos Orgânicos, conheça a história dos agricultores que prosperam na atividade com a assistência da Emater-MG
Largar o emprego na cidade e encarar os desafios de trabalhar no campo, mesmo sem a menor experiência com o trato da terra, apenas movidos pelo sonho de alcançar um novo estilo de vida. Tudo isso exige ousadia e determinação, além de ser o inverso do que geralmente acontece. Mas foi esse o caminho escolhido pelo casal de mineiros, casados há 20 anos e pais de duas adolescentes, Daniela Regina Leonel Barbosa e Hernane Lucas Dias Barbosa.
Há três anos, eles deixaram Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, onde ela, graduada em Recursos Humanos, trabalhava em um escritório de contabilidade e ele, formado em Administração de Empresas, era corretor em bolsa de valores. Daniela e Hernane sonhavam com um estilo de vida que consideram mais gratificante, trabalhando na “roça“. Com a cara e a coragem mudaram para Pará de Minas e posteriormente para Pequi, próximo ao vizinho município de Onça do Pitangui, na região Central do Estado, onde arrendaram uma área de meio hectare na fazenda de um irmão de Daniela. Estavam dispostos a retirar dali o sustento da família.
“Sempre foi um sonho meu e do Hernane trabalhar com a terra e morar na roça, então quando surgiu a oportunidade, somada a uma série de fatores, voltamos para Minas Gerais“, conta Daniela. Segundo ela, a ideia inicial era investir na cultura orgânica de morango e pimenta. “A primeira opção foi o morango. Começamos com o plantio de mil mudas de morango. Antes de sair do Rio Grande do Sul, visitamos lugares onde havia a cultura da fruta. Também pesquisamos e procuramos informações sobre o assunto. A outra escolha foi a pimenta biquinho“, relembra.
Diversificação
Hoje, contando apenas com a mão de obra familiar e a ajuda de um diarista, o casal cultiva mais de 15 espécies de hortaliças no espaço, além de milho, mandioca, morango, maracujá e banana. Tudo no sistema orgânico, com orientação e acompanhamento da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e produtos certificados pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
Com a marca de fantasia Emporium da Roça, os produtos são comercializados semanalmente na feira da agricultura familiar da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte. Também são vendidos em uma feira livre do município de Pará de Minas e entregues a pedido, por um serviçodelivery, que pode ser acessado no site criado pela agricultora. Os clientes podem contar também com outras delÃcias produzidas pelo casal como doce de leite, queijo, geléia de morango e tomate seco.
A Emater-MG presta assistência técnica no manejo da horta e lavouras, com a indicação do uso de substâncias naturais para adubar o terreno e combater pragas e doenças que atacam as plantas. A empresa também teve papel importante na opção do casal pela diversificação dos produtos e na capacitação em orgânicos. “Participamos de um curso em olericultura orgânica, oferecido pela Emater e nos apaixonamos ainda mais pelo sistema orgânico“, conta Daniela Regina. A outra ajuda da empresa de extensão rural mineira foi na preparação do projeto que deu acesso à linha de crédito do Pronaf, usada para comprar o carro que hoje faz o transporte dos produtos da fazenda para as cidades.
Para a extensionista agropecuária da Emater de Onça do Pitangui, Márcia Portugal Santana, o sucesso do casal pode ser explicado pela capacidade em enxergar oportunidades na adversidade. “Eles têm uma visão diferenciada, empreendedora. Souberam reconhecer a importância da diversificação de culturas, por exemplo“ explica.
Já Hernane Lucas justifica que a bagagem profissional trazida dos anos vividos em uma grande cidade foi fundamental para tudo caminhar bem na nova atividade da família. “O tempo do meu trabalho e da minha esposa, no mercado corporativo, com tudo que ele tinha de exigência organizacional, controle de metas, projetos e planejamento, nos favoreceu na obtenção rápida da certificação orgânica do IMA, pois tÃnhamos toda a parte documental em dia, exigida no processo“, comentou.
Novos horizontes: frutas orgânicas
Em agosto, Daniela e Hernane mudam com a família para Caeté, na região metropolitana de Belo Horizonte, agora com um sÃtio próprio, de dois hectares. O novo projeto terá como uma das metas investir mais no plantio de frutas orgânicas. “É um nicho do mercado, ainda pouco explorado no Estado“, segundo Daniela Barbosa.
O casal planeja investir no cultivo de figo, uva, maracujá azedo e doce, além de mamão. Sempre tendo como norte a diversificação, os produtores planejam também criar galinhas caipira e continuar com a produção de geleias e tomate seco. Outra meta, segundo Daniela, é trazer mais os produtos para a capital. “Estamos batalhando para expor também os nossos produtos em feiras públicas de Belo Horizonte“, revela.
O que é orgânico
 Na definição do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para ser considerado orgânico, o produto deve ser cultivado em um ambiente que considere sustentabilidade social, ambiental e econômica (princípios agroecológicos), valorizando também a cultura das comunidades rurais. A agricultura orgânica não utiliza agrotóxicos, hormônios, drogas veterinárias, adubos químicos, antibióticos ou transgênicos em qualquer fase da produção, segundo informações do órgão.
O sistema orgânico deve buscar o equilíbrio do ecossistema para resultar em plantas mais resistentes a pragas e doenças. Algumas técnicas empregadas são: o rodÃzio de culturas e diversificações de espécies entre e dentro dos canteiros; o plantio direto, caracterizado pelo cultivo em cima do resíduo da cultura anterior, sem que o trator limpe o solo; a adubação verde e orgânica, que promove o desenvolvimento da vida no solo, tais como minhocas, bactérias e fungos benéficos.
Outra medida bastante utilizada é a aplicação de cordões de contorno com plantas diversas para ajudar na proteção de pragas e doenças, como quebra-vento e proteção contra erosão. Em Onça de Pitangui, por exemplo, Daniela e Hernane criaram uma cerca viva com bananeiras e pés de maracujá, que formaram uma barreira em torno da horta. Também aprenderam que não se deve retirar todos os matos que aparecem nas lavouras, pois eles podem enriquecer o solo e atrair as pragas para si, preservando as plantações e evitando doenças. “É bom ter o mato por perto pra evitar que a praga ataque a alface ou morango“, ensina.
De acordo informações disponibilizadas pelo Mapa, o Brasil já ocupa posição de destaque na produção mundial de orgânicos, sendo a certificação uma das formas de garantir a qualidade orgânica de um produto. O Ministério tem oito certificadoras credenciadas, entre elas o IMA. A fiscalização das propriedades produtoras de orgânicos é feita por essas empresas, que assumem a responsabilidade pelo uso do selo brasileiro, o SisOrg (Selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica). Já ao Mapa cabe a tarefa de fiscalizar o trabalho das certificadoras.
Só em Minas Gerais existem 435 produtores certificados. Desses, dez são do IMA, numa lista que inclui café torrado e moÃdo, cachaça, olerícolas diversas, frutas, folhas e folhagens. Outros três produtores estão em processo de certificação. De acordo com Ana Paula de Souza Moreira, da Gerência de Certificação do IMA, o credenciamento junto ao Mapa, permite ao órgão mineiro certificar produtos orgânicos de origem vegetal e animal. Reconhecendo que esse é um mercado que cresce a cada dia, a gerente ressalta a importância do selo: “Esse selo tem por objetivo facilitar ao consumidor na identificação dos produtos orgânicos e garantir sua qualidade orgânica, ou seja, certificar que foram produzidos de acordo com os regulamentos técnicos da produção orgânica“.
Semana dos Alimentos Orgânicos
O Ministério da Agricultura também promove a Semana Nacional dos Alimentos Orgânicos. A proposta é divulgar para os consumidores os benefícios ambientais, sociais e nutricionais desses alimentos, no período de 24 a 31 de maio. Este ano o tema é “Produtor orgânico, parceiro na natureza na promoção da vida“.