Kamilla Crysllayne Alves da Silva
Engenheira Florestal e mestranda em Recursos Florestais – Universidade de São Paulo (USP)
kamilla.alves@usp.br
Allana Katiussya Silva Pereira
Engenheira florestal, mestra em Ciências Florestais e doutoranda em Recursos Florestais – USP
allanakatiusssya@usp.br
Fabíola Martins Delatorre
Técnica em Agropecuária e graduanda em Engenharia Industrial Madeireira – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
fabiola.delatorre@edu.ufes.br
Ananias Francisco Dias Júnior
Engenheiro florestal, doutor em Recursos Florestais e professor – UFES
ananias.dias@ufes.br
A Aniba parviflora (Meisn.) Mez, popularmente conhecida como macacaporanga ou louro rosa, pertence à família Lauraceae e é uma das espécies que mais vem se destacando devido a sua importância econômica na produção de óleos essenciais.
Espécie endêmica do Brasil e nativa da Amazônia, a macacaporanga apresenta ocorrência nos Estados do Amapá, Pará, Amazonas e Acre, sendo muito característica de mata pluvial e solos argilosos.
O gênero Aniba se destaca por apresentar espécies aromáticas de valor econômico, como as espécies Aniba rosaeodora (pau-rosa) e Aniba canelilla (casca preciosa), por fornecerem óleos essenciais e compostos químicos (alcaloides) empregados em perfumarias e na fabricação de fármacos.
Características
A macacaporanga é uma espécie arbórea de médio porte, apresenta madeira com coloração pardo-amarela e um aroma forte agradável na casca. Sua morfologia é descrita por folhas espessas com manchas castanho-avermelhadas na parte superior, flores pequenas, frutos com drupa cupulada contendo apenas uma semente por fruto com coloração vinho quando maduro.
Devido às suas características morfológicas, a macacaporanga é bastante confundida com o pau-rosa (Aniba rosaeodora), espécie classificada na categoria “em perigo” de extinção devido à exploração predatória para a produção de óleos essenciais.
Fenologia e produção de mudas
O conhecimento da fenologia de uma cultura é de suma importância, pois estabelece ferramentas eficazes de manejo e, consequentemente, aumento da produtividade. Nesse sentido, é importante mencionar que a floração da macacaporanga ocorre em maior intensidade nos meses de junho (chuvosa/seca) e dezembro (seca/chuvosa), ou seja, na transação entre as estações.
A frutificação acontece durante o período de setembro a novembro, no mesmo momento em que ocorre a diminuição de folhagem na espécie e as novas folhas apontam em meados de dezembro.
Quando o assunto é o desenvolvimento de mudas em viveiros, o tipo de solo, temperatura, disponibilidade hídrica e luminosidade são alguns dos fatores mais importantes. Infelizmente, a literatura não apresenta informações sobre as práticas de produção de mudas da macacaporanga.
Contudo, podemos levar em consideração as características edafoclimáticas em que essa espécie melhor se desenvolve para tentar reproduzir as condições ideais de produção, juntamente com o uso de práticas viveiristas de uma espécie semelhante, a exemplo da espécie pau-rosa.
Mudas
Dessa forma, a produção de mudas da macacaporanga pode ser feita através da semeadura direta, técnica que consiste na distribuição das sementes diretamente no substrato. Os recipientes mais adequados são os sacos plásticos individuais ou sementeiras.
Nesse último modelo é necessário fazer a repicagem, isto é, transferir a plântula para um outro lugar do viveiro para melhor desenvolvimento. Um substrato organo-arenoso, sombreamento de 50%, adubação com NPK e irrigações diárias são aspectos técnicos capazes de promoverem condições naturais de desenvolvimento de mudas de macacaporanga.
Com relação ao seu desenvolvimento, as plântulas de macacaporanga possuem raiz do tipo pivotante, longa e com coloração marrom, folhas alternadas, espiraladas e germinação hipógea, caracterizada por apresentar cotilédones abaixo do solo.
Em virtude do seu habitat natural, elas demonstram melhores respostas, quando estão em ambientes com baixa luminosidade, possibilitando a geração de maiores quantidades de folhas, aumento da taxa de fotossíntese e, por consequência, o aumento do diâmetro e altura.
Pesquisas
Alguns estudos demonstraram uma redução de 6,5% no teor de linalol, um metabólito secundário das plantas muito usado como fixador de fragrâncias, no período chuvoso, além do que, a maior produção de folhas novas ocorre exatamente nesse período de maior ocorrência de chuvas.
Dessa forma, pensando na extração de óleos essenciais, as podas de mudas de macacaporanga devem ser realizadas durante o período chuvoso devido à geração de maior quantidade de folhas, melhor brotamento e, consequentemente, devido à recuperação mais rápida da planta às podas.
Substituição do pau-rosa
O óleo essencial extraído do pau-rosa é o principal ingrediente utilizado nas grandes indústrias de perfumarias. Devido a sua exploração, o uso indiscriminado e a falta de manejo adequado, a população de pau-rosa teve uma grande redução desde o início do século.
Estima-se que, para produzir 10 kg do óleo essencial de pau-rosa, é necessário 1,0 ton de toras da árvore. No entanto, com o passar do tempo a técnica de extração foi melhorando e, hoje, apresenta possibilidades de conservação da espécie, por meio do uso de folhas e galhos.
Dessa maneira, não se faz necessário a derrubada da árvore. Outra alternativa para a sua preservação é o aproveitamento de outras espécies que possam oferecer aspectos e propriedades similares à do pau-rosa.
Espécies do gênero Aniba são bastante requisitadas, por serem produtoras de óleos essenciais para a indústria de perfumaria. Dentre os exemplos está como a macacaporanga, uma espécie aromática, que também se destaca pela produção de óleo essencial, apresentando como componente principal o linalol, um componente químico da planta de muito valor no setor farmacológico e na produção de fitocosméticos e que pode ser transformado em derivados de alto valor agregado para as indústrias de fragrâncias.
Macacaporanga
A macacaporanga possui potencial para substituir o pau-rosa devido às suas semelhanças nas características botânicas e método de extração. O óleo essencial extraído da macacaporanga pode ser adquirido não somente do seu tronco, mas de outras partes da planta, como de suas folhas e galhos, com uma média de 30 a 50% do composto químico linalol.
Apesar do linalol estar predominantemente nas flores (51%), sua extração não é uma opção viável visto que, dessa forma, poderíamos perder o recurso reprodutivo da espécie. Além de ser usado predominantemente pela indústria de perfumaria, o óleo essencial possui metabólitos secundários que apresentam atividade antimicrobiana, anticarcinogênica e antioxidante.
A macacaporanga e o pau-rosa são facilmente confundidas, devido aos seus aspectos morfológicos, o que sempre causa confusão na identificação entre as duas espécies. Folhas coriáceas (espessas), flores amarelas em panículas, madeira com coloração pardo-amarelada ou pardo-avermelhada, tipo e coloração de fruto são algumas das semelhanças entre as espécies.
No entanto, vale ressaltar que o óleo essencial extraído de ambas as espécies possui aromas distintos, o que pode ser comprovado através de análises olfativas.
Aspectos mercadológicos: óleos essenciais
Atualmente, no Brasil, na estação das chuvas se produz cerca de 20 a 70 barris de 180 kg cada, de óleo essencial por ano. Quase 100% dessa produção é exportada para a utilização em perfumaria fina, além de atingir outros segmentos, como o da aromaterapia.
Na aromaterapia, o óleo essencial de pau-rosa é muito utilizado em problemas de pele, desde acnes a rugas e cicatrizes. Também tem fama de afrodisíaco, combate a ansiedade e estresse. A pectinase, enzima produzida por actinobactérias isoladas de macacaporanga, também têm atraído a atenção devido à possibilidade da sua aplicação como catalisador biológico em diversos processos industriais, com grande aplicação na indústria alimentícia para a fabricação de sucos e na produção de vinho, como clarificador e estabilizador de cor do vinho tinto.
É também utilizada na indústria de alimentos, tendo sua aplicação na intensificação de sabor, uma vez que aumenta o teor de ácido glutâmico nos alimentos em decorrência da hidrólise da glutamina. A macacaporanga vem, aos poucos, ganhando espaço nesses segmentos e compartilhando mercado com o pau-rosa devido às suas características similares.