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Manejo biológico de florestas: a aposta do setor

Crédito AMIF

Neilton Antônio Fiusa Araújo
Doutor em Fitotecnia e pesquisador em Controle Biológico, Bioprospecção e Formulações de biocontrole
neilton.fiusa@gmail.com

A área florestal mundial é de 4,06 bilhões de hectares, distribuídos entre os continentes. A maior parte se encontra na Europa, onde 80,1% dessa área pertence à Federação Russa, e a segunda maior está na América do Sul, o qual 58,8% está localizada no Brasil.

O Brasil é um grande produtor de recursos florestais, possuindo mais de 500 milhões de hectares de florestas nativas e aproximadamente 8,0 milhões de hectares de florestas plantadas.

O País é um dos líderes em fornecimento de produtos florestais, como madeira, alimentos, óleos e resinas, além de ser referência em questões relacionadas ao crédito de carbono. Das plantações florestais brasileiras, 72% são formadas por eucalipto.

Produtividade x pragas

Como em todas as culturas agrícolas, a produtividade das plantações florestais brasileiras é afetada pela ocorrência de pragas e doenças. Em eucalipto, por exemplo, sua ocorrência é relatada causando um prejuízo de 10 a 30% no volume de madeira produzida, levando à mortalidade de árvores, quando associadas a estresses ambientais.

O manejo dessas pragas é feito com o uso de inseticidas químicos, por serem eficientes e terem ação rápida, porém, ainda são poucos os produtos registrados oficialmente no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a certificação ambiental possui exigências que restringem o uso desse método de controle.

Assim, o controle biológico se mostra como a principal alternativa de resolução desse problema.

Reconhecimento

O Brasil é reconhecido globalmente pelos programas de controle biológico bem-sucedidos na agricultura e silvicultura. Esse tipo de manejo é aplicado em mais de 20 milhões de hectares e tem uma tendência de crescimento contínua no País, estando na liderança mundial de uso de controle biológico nas lavouras.

O País tem investido de forma crescente no desenvolvimento de novos produtos e manejo de aplicações e exportado essas tecnologias da área para outros países. Em silvicultura, pragas como o Gonipterus platenses (gorgulho-do-eucalipto), Glycaspis brimblecombei (psilídeo-de-concha) e Thaumastocoris peregrinus (percevejo bronzeado), problemas comuns que afetam florestas de eucaliptos, adota-se como principal estratégia o controle biológico clássico, que envolve a liberação de inimigos naturais no campo.

Características dos biocontroladores

O controle biológico refere-se ao uso de organismos vivos para diminuir a população de um organismo-alvo específico, reduzindo assim os danos causados por esse organismo. O organismo alvo, nesse tipo de manejo, não é eliminado totalmente da área, sendo necessário o manejo contínuo.

Um inimigo natural eficiente deve ser adaptável às condições ambientais, possuir especificidade a um determinado alvo, e em caso de predadores deve possuir alta capacidade de busca e de crescimento populacional quando comparado com o seu hospedeiro ou presa, ter grande capacidade de sobrevivência no ambiente, mesmo na ausência do hospedeiro, e seu ciclo deve ser sincronizado com o ciclo da praga-alvo.

Quando se trata de um microrganismo biocontrolador, ele também deve ser efetivo, mesmo em baixas concentrações.

Agentes biológicos

Há diversas classes de agentes biológicos que podem ser os macrobiológicos, em que se incluem os predadores e parasitoides considerados entomófagos e os microbiológicos, compreendendo os vírus, bactérias, fungos e nematoides, que podem ser entomopatogênicos ou agentes de controle de doenças de plantas, que afetam o desenvolvimento e multiplicação de outros microrganismos.

Tipos de manejo biológico

Os tipos de manejo biológico variam de acordo com o tipo de organismo utilizado e a sua origem, que pode ser nativo ou exótico, a forma de liberação do organismo na área e o tempo de ação do biocontrolador. Assim, as estratégias de controle biológico são divididas em três categorias:

Crédito Luciane Katarine Becchi

• O controle biológico clássico, que consiste na introdução de um inimigo natural objetivando o seu estabelecimento e posterior controle da praga-alvo em longo prazo. Esse processo envolve a identificação do inimigo natural, estudos de exploração de suas adaptações, a produção em massa, liberação, estabelecimento e avaliação após o estabelecimento do inimigo natural. Esse método de manejo é pensado e planejado para o controle a longo prazo, por isso é utilizado quando o controle da praga não requer urgência e há maior tolerância no nível de dano econômico causado nas espécies florestais.

• O controle biológico aumentativo consiste na criação massal do inimigo natural em biofábricas com posterior distribuição e liberação no campo de forma regular. A liberação intencional de um organismo vivo como agente de controle biológico visa a sua multiplicação e o controle da praga durante um período prolongado, mas não permanentemente, sendo designada como liberação inoculativa. Quando se faz a liberação de inimigos naturais para controlar pragas-chaves que não foram suprimidas por inimigos naturais existentes na área, denomina-se liberação inundativa.

• O controle biológico por conservação consiste em preservar ou aumentar a população de inimigos naturais que já existem na área, utilizando técnicas de manejo que possuem efeitos negativos sobre as pragas. É uma técnica que exige conhecimento ambiental e planejamento a longo prazo para que possa ser eficiente. As técnicas empregadas nesse manejo vão desde o uso racional de produtos de controle e técnicas de controle silvicultural para aumentar a disponibilidade de alimentos (como pólen, néctar, presas ou hospedeiros alternativos), criação de abrigos e microclima favorável.

Por onde começar

Para começar a implantação de um programa de manejo biológico, o primeiro passo é fazer o reconhecimento da área a ser implantada para estudar a melhor estratégia a ser implementada.

Deve ser feito o reconhecimento dos inimigos naturais já disponíveis, tamanho do dano existente causado pelas pragas e avaliar o tempo para controle necessário para entender se é uma área nova que possa entrar com estratégia a longo prazo ou uma área já estabelecida que exige redução no tempo de ação do organismo de biocontrole.

Após o conhecimento da área e da praga em questão, deve-se fazer um levantamento dos produtos de controle disponíveis e entender suas adaptações para ter conhecimento da adaptação do organismo na área. Feito isso, deve-se traçar estratégias para a reprodução e aplicação dos organismos, que deve ocorrer no melhor período de adaptação do ciclo do organismo liberado em sincronia com o ciclo da praga-alvo.

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