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Isaria fumosorosea x ácaro da leprose dos citros

Foto: Daniel Júnior

Maíra Ferreira de Melo Rossi
Doutoranda em Agricultura (DAG) – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
maira.rossi1@estudante.ufla.br
Ana Claudia Costa
anaclaudia.costa@ufla.br
Leila Aparecida Salles Pio
leila.pio@ufla.br
Professoras do curso de Agronomia – UFLA

O ácaro da leprose está entre as pragas-chave da citricultura. As principais espécies encontradas no Brasil são Brevipalpus phoenicis (Geijskes), Brevipalpus papayensis Baker e Brevipalpus yothersi Baker, os quais apresentam corpo achatado, sendo também conhecidos como ácaros planos.

Esses ácaros têm grande importância, pois são vetores do vírus causador da leprose (Citrus leprosis virus – CiLV-C), principal doença virótica da citricultura. A ocorrência do ácaro da leprose na cultura dos citros se dá o ano todo, mas é nos meses mais secos que eles alcançam os mais elevados níveis populacionais.

Sintomas

A doença atinge, sobretudo, as laranjeiras doces, causando danos em folhas, ramos e frutos, devido às lesões formadas nas regiões em que o ácaro se alimenta. Nas folhas, as lesões são arredondadas e ocorrem tanto na face superior quanto inferior.

São caracterizadas por manchas necróticas de coloração amarela, podendo haver a ocorrência de anéis necróticos no centro. Nos ramos as lesões inicialmente são amareladas e em estágio avançado de coloração marrom, podendo ocasionar a seca dos ponteiros.

Nos frutos, as lesões geralmente são rasas e necróticas, distribuídas por toda a superfície. Nos frutos verdes, observa-se um halo amarelo em torno da lesão. Ataques intensos provocam a queda dos frutos, principalmente no caso em que as lesões estão próximas ao pedúnculo, causando diminuição da produtividade. Nesses casos, a transmissão do vírus aumenta em razão da grande quantidade de inóculo na área.

Controle acertado

Entre os métodos de controle, o citricultor deve tomar os devidos cuidados no manejo da cultura, como adquirir mudas sadias, desinfestar materiais de colheita, realizar a poda de limpeza dos ramos e a erradicação da planta com a doença em estádio avançado.

O uso de quebra-ventos, o controle da verrugose e do minador dos citros são medidas importantes para evitar a entrada e disseminação do ácaro e a formação de lesões que podem servir de abrigo para essa praga.

Além dessas medidas, ainda predomina nos pomares o controle químico do vetor, com a utilização de acaricidas principalmente à base de enxofre. Contudo, o uso intensivo de defensivos onera os custos de controle da doença e as aplicações sucessivas da mesma molécula podem propiciar a seleção de populações resistentes.

Já foram relatados casos de resistência ao ácaro da leprose. Atualmente somente dois grupos químicos são indicados para o controle do ácaro (espirodiclofeno e cyflumetofeno), criando assim um obstáculo ao sistema adequado de rotação dos acaricidas.

Assim, o controle biológico tem se mostrado uma alternativa promissora, podendo ser utilizado isoladamente ou como complemento aos defensivos aplicados. Os chamados bioinseticidas à base de fungos entomopatogênicos são um avanço no controle biológico de diversas pragas e doenças.

Os produtos disponibilizados no mercado têm eficiência comprovada, compatibilidade com os defensivos já utilizados pelos citricultores e não apresentam período de carência.

Isaria fumosorosea

Para o controle do ácaro da leprose, estudos indicaram eficácia do uso de Isaria fumosorosea, anteriormente denominado Paecilomyces fumosoroseus, um fungo entomopatogênico que pode parasitar uma ampla gama de hospedeiros.

Capaz de infectar além dos ácaros, diversos insetos como pulgões, cigarrinhas, mosca-branca e o psilídeo Diaphorina citri, o que permite em uma única aplicação o citricultor aliar o controle de duas doenças que afetam a produtividade de seu pomar.

O emprego de Isaria como um agente de controle biológico é crescente em muitos países, devido ao seu alto potencial de controle.

Os fungos desse gênero são encontrados tanto em regiões temperadas quanto em zonas de clima tropical. Foram feitos registros de sua ocorrência natural em solos no Brasil, África do Sul, Japão, EUA, além de outras localidades. Isaria fumosorosea pode também ser encontrada e isolada a partir de artrópodes em que parasita.

Os conídios produzidos pelo fungo entomopatogênico I. fumosorosea têm a capacidade de se aderir ao ácaro e produzir substâncias que penetram no hospedeiro, levando-o à morte. O ciclo de infecção se inicia com a adesão do fungo no alvo do controle. Em seguida ocorre a germinação e penetração.

Com a colonização e o crescimento do fungo, ocorre a morte do ácaro. A partir desse momento, o fungo pode esporular, se disseminando no ambiente. A eficácia dos produtos comerciais à base de I. fumosorosea foi comprovada em testes realizados em todo o mundo.

Eficácia contra ácaros

No Brasil, ensaios feitos em pomares em cidades do interior do Estado de São Paulo demonstraram a eficiência do fungo. Ao se avaliar a dinâmica populacional dos ácaros por meio da contagem da população, foi verificada diminuição do número de ácaros, os quais mantiveram sua baixa população, diferentemente de quando foi utilizado controle químico.

Dessa forma, a mortalidade de ácaros foi confirmada por meio de ensaios em campo, atingindo até 90,5% de eficiência, em avaliações realizadas a partir de cinco dias após a infecção.

Assim como a diminuição da população de ácaros, os sintomas de leprose observados nas áreas tratadas foram inferiores, se comparados ao tratamento controle. Conclui-se, portanto, que I. fumosorosea tem efeito patogênico para o ácaro da leprose, podendo controlar o ácaro e, consequentemente, a leprose nos pomares.

Esse produto biológico tem também como vantagem ser compatível com os demais defensivos utilizados como acaricidas e inseticidas. Contudo, deve-se ressaltar que para se atingir a máxima eficiência, a aplicação deve ser feita em condições adequadas de temperatura e umidade, de acordo com as indicações da bula do produto.

Na citricultura, o controle biológico tem avançado significativamente, possibilitando ganhos na produtividade e alternativas ao controle de pragas e doenças. O desenvolvimento de novos produtos formulados com o uso de inimigos naturais fortalece o princípio do manejo integrado.

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