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O futuro do agronegócio brasileiro passa pelas mulheres

*Renata Camargo, Gerente de Desenvolvimento e Novos Negócios no Transamerica Expo Center. Citada como uma das 100 Mulheres Poderosas do Agronegócio em 2021, na lista da Revista Forbes.

Renata Camargo, Gerente de Desenvolvimento e Novos Negócios no Transamerica Expo Center/CNMA 2022

Não é de hoje que as mulheres são parte fundamental da vida no campo. Sabe-se que, nos tempos das cavernas, elas eram as responsáveis por recolher as sementes e fazer os testes de plantação enquanto os homens saíam para caçar. Desde então, muita coisa mudou e essa organização da subsistência familiar nunca se separou da figura feminina. Mas esse papel na lida do campo evoluiu, cresceu e se tornou parte indissociável do que hoje elas representam para o agronegócio no Brasil e no mundo.

As mulheres atuam nos mais diversos papeis e carreiras, e os últimos anos foram decisivos para que houvesse um avanço significativo nas suas conquistas por um espaço que sempre foi delas, mas que carecia de um sentimento de pertencimento. Mais que isso, elas conseguiram – e conseguem – inspirar todos ao seu redor, fazendo com que o setor caminhe para o futuro com mais equidade de gênero e desenvolvimento sustentável.

Apesar desse avanço, ainda há muitos desafios. Em 2016, quando o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA) foi criado, os obstáculos para elas eram ainda maiores: preconceito num ambiente majoritariamente masculino, dificuldade de acesso à tecnologia, aos estudos, ao crédito, entre muitos outros. Foi nesse contexto que o evento trouxe a oportunidade de reunir essas mulheres e discutir seus objetivos e angústias quando olhavam para o mercado.

Em sua primeira edição, no ano de 2016, o CNMA esperava um público de 300 congressistas, mas surpreendeu até mesmo a organização com a presença do dobro de inscrições, com a presença de 600 mulheres. A partir daí, elas não pararam mais. O evento se tornou um grande e sólido movimento, que inspirou a criação de uma rede de apoio e de ação, que, no ano seguinte, juntou 1.000 participantes e, na última edição presencial, em 2019, chegou a 1.900 protagonistas do agro. Sem contar as dezenas de grupos regionais criados a partir das congressistas que estiveram presentes.

Hoje elas estão no campo, nas indústrias, nos centros de pesquisa, entre outras áreas, ocupando diferentes cargos, muitos deles de liderança. Na edição de 2022 do Congresso, totalmente presencial após a pandemia, o tema será “Coordenação das cadeias produtivas no agronegócio, a década decisiva”, escolhido certeiramente por englobar o momento que o Brasil está vivendo e o que queremos para o País nos próximos anos, além de reunir aquilo que o evento se propõe a ser: um espaço de referência para tudo o que envolve as mulheres do setor.

Esse protagonismo requerido pelo Congresso em ser o principal palco das discussões, o elo propulsor e multiplicador de ideias vem sendo construído ao longo desses anos, agregando pessoas, contando histórias, revelando lideranças, dando destaque a talentos e voz a mulheres de diferentes cadeias do agro. Mais que isso, impactando a todos, homens e mulheres, por tudo o que foi construído no seu entorno.

Colocar à luz de todos as conquistas e as dificuldades das produtoras rurais e profissionais que atuam no agro, criar uma rede de apoio e de confiança entre mulheres de diferentes regiões. Este é o poder e a importância da comunicação, que precisa hoje integrar todos os elos da cadeia produtiva para que o setor evolua e possa contribuir ainda mais para o PIB brasileiro, participação que chegou a 27,4% em 2021, segundo pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – CEPEA-Esalq/USP.

A pluralidade do agronegócio e as diferentes realidades do campo fazem com que as cadeias produtivas enfrentem desafios diferentes, mesmo sendo todas parte de um mesmo setor. Essa é uma missão importantíssima para as mulheres do agronegócio, que têm revelado ao longo desses anos possuírem características muito positivas de empatia, de intuição, de consciência ambiental, de sucessão, de valorização de recursos humanos e uma competência muito grande para comunicação, fundamentais para essa coordenação e para desenvolver o diálogo com as cadeias produtivas.

Vemos que, atualmente, os elos que compõem o agronegócio brasileiro estão soltos e é preciso uma estrutura robusta de junção. Isto é válido para tudo o que engloba o processo produtivo dentro do agro, desde as operações necessárias antes de entrar na porteira da propriedade, como produção de insumos, maquinários e tecnologias, passando para dentro da porteira (o manejo do solo propriamente dito, o plantio, a colheita, a manutenção da propriedade etc.), até chegar no processo após a porteira, como é o caso da agroindústria, por exemplo.

Para esse último grupo merece destaque a ausência da participação em toda essa cadeia por parte das grandes empresas que, invariavelmente, fazem parte desse complexo. Por exemplo, a indústria química, as redes de atacado, de varejo, os supermercados, a indústria farmacêutica, entre outros, que fazem parte do agribusiness brasileiro de maneira direta e indireta. Ou seja, são setores deste amplo mercado que não se conversam, e uma das razões para isso é a cultura desse mercado, que vê o outro como concorrente e não aliado para um “bem maior”.

O Brasil precisa reverter o cenário econômico em que está hoje e dobrar o PIB nos próximos 10 anos. Isso é urgente. O agronegócio brasileiro vem batendo recordes atrás de recordes em produtividade, porém, apesar da participação do setor no crescimento do PIB, ainda está aquém do necessário. Caso este cenário não mude, as principais consequências serão a miséria e a pobreza extremas.

Serão sobre tudo isso, e muito mais, os debates que realizaremos em outubro durante o 7º CNMA, que está sendo preparado para ser um marco desse novo agro, que necessita de integração e coordenação. Será nos dias 26 e 27 de outubro que entidades do setor, lideranças da agroindústria e produtoras rurais desenharão o futuro do agronegócio brasileiro.  

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