Fernando Kassis Carvalho
fernando@agroefetiva.com.br
Rodolfo Glauber Chechetto
Alisson Augusto Barbieri Mota
Engenheiros agrônomos e pesquisadores em Tecnologia de Aplicação – AgroEfetiva
Vitor Vianna Romani
Engenheiro agrônomo
Ulisses Rocha Antuniassi
Professor titular do Dep.de Engenharia Rural – FCA/UNESP – Campus de Botucatu/SP
Quando pensamos em drones de pulverização e em aviões agrícolas, ambos têm uma finalidade principal: realizar a aplicação de defensivos agrícolas para controle de pragas, doenças e plantas daninhas.
Porém, sabemos que essas ferramentas possuem nichos de mercado distintos. Geralmente, os drones de pulverização podem pulverizar em velocidade de até 25 km h-1, e têm capacidade operacional entre 1,0 e 6,0 ha h-1.
Já uma aeronave agrícola pode atingir até cerca de 250 km h-1 e aplicar entre 50 e 250 ha h-1. Ou seja, são valores muito particulares de cada uma das ferramentas, e não devem ser analisados apenas de maneira numérica.
Devido à menor velocidade de deslocamento e capacidade de carga, porém maior manobrabilidade, os drones podem ser usados em atividades como aplicações localizadas, ou seja, apenas em pontos da lavoura onde existe algum tipo de problema, como reboleiras de plantas daninhas, operação também chamada de “catação” e já praticada na cultura da cana-de-açúcar, por exemplo.
Além disso, os drones poderão operar em alguns locais onde os aviões não operam por características do terreno e tamanho da área, como por exemplo, em locais muito declivosos ou áreas pequenas, ou ainda em locais onde há restrição de uso da aviação agrícola.
Ou seja, cada caso deverá ser estudado de maneira individual, sendo que há espaço para a convivência entre as técnicas (avião e drone), sem que haja, ao menos num primeiro momento, a competição entre eles. São, portanto, técnicas complementares.
Outro ponto importante é que a indústria de defensivos tem desenvolvido formulações mais adaptadas para aplicações em baixo volume via drones (de 5,0 a 15 L ha-1, por exemplo). Esse avanço nas formulações também beneficiaria a aviação agrícola, que historicamente sempre utilizou as técnicas de baixo volume.
Orientações
Assim como nas aplicações com aeronaves agrícolas, o uso de drones deve ser feito de maneira técnica e segura, dentro da legislação vigente. Portanto, o estudo prévio da área a ser tratada e de seu entorno, para evitar problemas como a deriva, é fundamental para o sucesso da aplicação.
Entretanto, existe um entrave legal quanto à legislação para a utilização de drones de pulverização, pois o MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento), até o presente momento, não disponibilizou a normativa para regulamentar a atividade, a exemplo do que já existe há anos para a aviação agrícola.
Ainda, as bulas dos defensivos não trazem informações sobre a possibilidade ou não de pulverização com drones, da mesma forma que se faz com as demais modalidades (costal, terrestre, aéreo etc.). Esta lacuna de informações regulatórias acaba por gerar dúvidas entre os usuários sobre a legalidade ou não de uso de determinados defensivos nas aplicações via drone.
Frente à possibilidade de questionamento legal, muitas empresas e profissionais estão adotando voluntariamente o critério de considerar a aplicação com drone como uma aplicação ‘aérea’, restringindo assim os drones à aplicação de defensivos que possuem registro para aplicação aérea (a lógica leva ao entendimento de que os drones são, de fato, uma plataforma aérea para aplicação).
Entretanto, esse entendimento não é consenso, e em muitos casos os drones estão sendo usados para aplicação de defensivos que não têm registro para aplicação aérea.
Inovações
Nos últimos dois anos, universidades e entidades privadas de pesquisa, como a AgroEfetiva, vêm estudando a tecnologia de aplicação com drones. Os resultados obtidos até o momento mostram vários desafios envolvendo essa ferramenta, como por exemplo, a largura de faixa que deve ser usada nas aplicações, a uniformidade de deposição e o risco de deriva.
Nem todas as aplicações com drones possibilitam uma distribuição uniforme da dose nos alvos das aplicações. Devido a fatores aerodinâmicos, distribuição dos bicos, altura de voo, ajustes do espectro de gotas, entre outros, deve-se ter cuidado para não haver uma aplicação de má qualidade.
Existe, também, uma sobreposição ideal entre as passadas do drone quando pensamos em aplicações em área total, que auxilia na obtenção da uniformidade de aplicação. Caso isso não seja avaliado de maneira correta, a qualidade da aplicação fica prejudicada.
Segurança, sempre
O risco de deriva também deve ser considerado, uma vez que, assim como para a aviação agrícola, há a ocorrência de deriva em aplicações com drones. Os estudos recentes realizados pela AgroEfetiva mostraram que a deriva física coletada em aplicação com drones segue um padrão de comportamento semelhante ao de outras técnicas de aplicação, ou seja, o índice de deriva é maior nos primeiros metros após os limites da área de aplicação, e depois decresce de forma gradual nas maiores distâncias, seguindo o mesmo modelo matemático das demais técnicas.
A faixa de segurança ideal entre a área aplicada com drone e uma cultua sensível, por exemplo, vai depender da fitotoxicidade do defensivo aplicado e da sensibilidade da planta alvo da deriva, assim como da altura de voo, do espectro de gotas, da velocidade e da direção do vento, entre outros fatores.
Na dose certa
Um fator de erro que deve ser observado com atenção nas aplicações com drones diz respeito à dose aplicada por área. Os sistemas de pulverização dos drones costumam ser rudimentares, com limitações quanto às possibilidades de controle de pressão e vazão.
Somando essa dificuldade com os erros de navegação (GPS) e de controle da altura de voo, os drones podem apresentar erros de calibração que podem ser superiores a 20% em alguns casos. Essa variação pode ser grande o suficiente para causar falha no controle ou excesso da dose nos alvos, prejudicando o tratamento e acelerando o processo de resistência aos defensivos agrícolas.
No final das faixas de aplicação (em cada passada), os erros nas doses podem ser ainda maiores (varia de acordo com o modelo de drone), pois são regiões onde há variação da velocidade de forma abrupta, sem que haja tempo de ajustar a vazão das pontas.
Por fim, o treinamento dos operadores de drone em tecnologia de aplicação também se mostra um gargalo. Alguns operadores possuem bom conhecimento na pilotagem e no manejo do equipamento, mas não têm conhecimento adequado da tecnologia de aplicação em si, assim como dos parâmetros que definem a técnica mais recomendada para cada aplicação.
Isto reduz as chances desses operadores entenderem e minimizarem os efeitos dos erros listados no parágrafo anterior, potencializando os erros de calibração, uniformidade de aplicação e deriva.
Investimento x retorno
Atualmente, os custos por hectare tratado nas aplicações com aeronaves agrícolas são significativamente menores do que com os drones (muitas vezes inferiores a 50%). No entanto, não é adequado fazer essa comparação direta.
Como foi mencionado anteriormente, as técnicas serão complementares, com nichos específicos de mercado. Por exemplo, em uma área de café conilon no Espírito Santo, ou de controle de brotações em eucalipto em área de difícil acesso no Rio Grande do Sul, pode ser mais prático e barato ter uma aplicação via drone do que uma equipe para fazer a aplicação utilizando equipamento de pulverização costal manual.
Ou, ainda, em uma área de soja no Estado do Paraná, na qual tenha chovido e não possibilite a aplicação com pulverizador terrestre, e não tenha na região uma empresa aeroagrícola, ou que não seja grande o suficiente para a utilização de um avião, o drone pode ser uma alternativa para garantir o tratamento fitossanitário no momento adequado, evitando a disseminação de patógenos e um prejuízo maior.