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Fungicidas no controle da ferrugem: qual o nível de eficiência?

Crédito Daniela Andrade

O principal dano causado pela ferrugem asiática na soja (FAS) é a desfolha precoce, acarretando perdas de produtividade e/ou queda na qualidade dos grãos. Isso acontece porque a doença se manifesta comumente nas folhas, ocorre surgimento de lesões (pontos escuros no tecido vegetal sadio) e, na face abaxial, correspondente aos pontos, surgem pústulas (urédias).

Com o tempo e o avanço da doença, as folhas amarelecem, secam e caem. Cabe lembrar que a FAS é caracterizada por sua rápida disseminação e alta agressividada, provocando diminuição de até 90% da produtividade.

Prejuízos à produção

O processo de fotossíntese da planta é afetado, pois há uma redução da área fotossinteticamente ativa devido à destruição da área foliar, bem como pela retirada de nutrientes realizada pelo fungo, após a infecção e o estabelecimento do patógeno na planta.

Dessa forma, há um comprometimento da formação e enchimento de vagens, consequentemente, no peso final do grão. Portanto, ocorrerá maior perda de qualidade e rendimento, e menor será o tamanho do grão quanto mais cedo ocorrer a desfolha.

Os fungicidas

A utilização de produtos com mais de um ingrediente ativo aumenta a eficiência no controle da doença, pois as aplicações de produtos com mais de um modo de ação reportam melhores resultados em reduzir a severidade da doença.

Por exemplo, os IDM (inibidores da desmetilação) são fungicidas que agem inibindo a biossíntese de ergosterol (esterol componente da membrana plasmática dos fungos). São sistêmicos, absorvidos e translocados pela planta e, dependendo da aplicação, podem atuar como protetores ou curativos. Estes são rapidamente translocados pelos tecidos vegetais, possuem fungitoxicidade elevada e rápida penetração.

Os IQE (inibidores da quinona externa), biossintetizados a partir de um metabólito secundário produzido pelo fungo Strobilurus tenacellus, agem inibindo a respiração mitocondrial, bloqueando a transferência de elétrons entre o citocromos (b e c1) e interferindo na produção de ATP.

Estes fungicidas atuam de forma preventiva, inibindo a germinação de esporos e o desenvolvimento de fungos nos estágios iniciais de pós-germinação, ou seja, possui atividade antiesporulante.

Finalmente, os SDHI, fungicidas inibidores da succinato-desidrogenase, atuam na fosforilação da cadeira respiratória, inibindo o complexo II e interrompendo o transporte de elétrons na mitocôndria.

Na hora certa

Cientes de seu mecanismo de ação, devemos nos atentar à escolha da época de aplicação quanto ao produto a ser aplicado. A primeira aplicação é recomendada, de forma preventiva, geralmente no estádio vegetativo (V7) e as aplicações posteriores com intervalo de aplicações de no máximo 15 dias.

Embora determinados produtos químicos sejam eficazes no controle da FAS, recomenda-se alternar os ingredientes ativos durante as aplicações.

Crédito Vanoli Fronza

Soluções

Embora os fungicidas sejam bastante eficientes, o controle da FAS nem sempre é satisfatório. Um dos pontos se dá pelo fato de a ferrugem asiática na soja se iniciar nas partes mais baixas da planta e, dessa forma, as aplicações do fungicida precisam vencer a barreira imposta pela massa de folhas, promovendo uma boa cobertura no interior da planta.

Daí a preocupação com o espectro de gotas no momento da aplicação. Gotas finas (DMV entre 119 e 216 μm) proporcionam bons resultados em termos de deposição de gotas, controle da doença e produtividade.

Quanto aos fungicidas, como mencionado anteriormente, podem ser classificados conforme a sua atividade e caracterizados por seu mecanismo de ação. Eles podem ser chamados de “fungicidas multissítios”, quando atuam em vários locais da planta, ou seja, mais fungos em diferentes classes são afetados.

Entretanto, os “fungicidas de sítio-específicos” são ativos em apenas um ponto de uma via metabólica, ou uma única enzima, ou ainda uma proteína crítica fundamental para o fungo. Então, podemos dizer que os fungicidas sítio-específicos têm maior possibilidade de ter sua ação superada, pois uma única mutação no patógeno, normalmente, possibilita a ele criar resistência.

Dessa forma, hoje a principal solução para o controle da ferrugem asiática se dá pela adoção de rotação e mistura de diferentes mecanismos de ação de fungicidas foliares, ou seja, diversificação na mistura desses ingredientes ativos atuantes.

Manejo

No Brasil, a Embrapa Soja recomenda como estratégia de manejo o vazio sanitário, com período de no mínimo 60 dias sem plantas de soja (vivas) na área de cultivo e eliminação de plantas voluntárias na entressafra, pois o intuito é controlar a quantidade do inóculo do fungo, o emprego de cultivares de ciclo precoce, utilização de cultivares com genes resistentes, o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura, a aplicação do controle químico preventivamente ou no início dos sintomas.

Também recomenda a diminuição do período de semeadura, pretendendo diminuir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra, com objetivo de atrasar a distinção de populações do fungo resistentes ou menos sensíveis ao controle químico.

Quanto ao controle químico, principal meio de controle da FAS, o uso constante de uma mesma classe ou mecanismo de ação no manejo pode ocasionar a seleção de fungos resistentes. Assim, se torna importante a rotação e mistura de diferentes mecanismos de ação.

Lembrando que o monitoramento da área é de suma importância, pois o uso tardio dos fungicidas na área, quando esta já apresenta elevada severidade da doença (identificação tardia), pode não auxiliar para reduzir as perdas.

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