Camila Queiroz de Sant’Anna
Engenheira agrônoma e doutora em Produção Vegetal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
agro.camilaqs@gmail.com
O potencial de produção da cultura do abacate tem se expandido devido à demanda de consumo referente às suas propriedades nutricionais. É uma cultura de considerável rentabilidade a médio-longo prazo e que para obtenção de êxito, deve-se atentar para alguns pontos primordiais, sobretudo relacionados ao solo e sua fertilidade.
E, com o reajuste do preço dos fertilizantes nos últimos anos, afetando toda a cadeia produtiva, é essencial que se busque alternativas viáveis que auxiliem no manejo do solo e, consequentemente, no melhor aproveitamento dos nutrientes.
O solo é a principal fonte de disponibilidade de nutrientes para as plantas. Suas características físicas, químicas e biológicas devem ser consideradas ao analisar a sua fertilidade. Esta configura-se como parte essencial do solo, contribuindo em sua modificação e estando em mútua influência com o mesmo.
Biologia do solo
A parte biológica do solo, cuja atividade dos organismos é essencial para as reações metabólicas celulares, suas interações e processos bioquímicos, tem sua manutenção exercida pelo indispensável papel desempenhado pela matéria orgânica, que dentre os seus importantes constituintes se destacam as substâncias húmicas, principalmente os ácidos húmicos e fúlvicos.
Os ácidos húmicos constituem a maior fração das substâncias húmicas, caracterizando-se como precipitados de coloração escura, solúveis em ácidos minerais e solventes orgânicos, de elevado peso molecular e capacidade de troca catiônica (CTC).
Dos inúmeros efeitos benéficos que as substâncias húmicas proporcionam ao abacate, além das propriedades relacionadas ao solo, e comprovado em muitos estudos com diversas culturas, estimulam alterações fisiológicas e bioquímicas nas plantas atuando na promoção do crescimento radicular, auxiliam na defesa da planta contra estresses; estimulam a taxa fotossintética, formação de ATP, aminoácidos e proteínas, dentre outros processos metabólicos de importância para o bom desenvolvimento da planta.
No solo, promovem maior retenção de água; aeração do solo; aumento na capacidade de troca catiônica – CTC (que promove maior disponibilidade de cátions às plantas, principalmente micronutrientes); minimiza a perda de nutrientes, especialmente de nitrogênio amoniacal, que na presença de ácido húmico tem redução da sua forma química mais volátil, promovendo menor perda por lixiviação e maior disponibilidade às plantas.
Além disso, possibilita redução na fixação de fósforo no solo, devido ao seu poder quelante de complexação do ferro e alumínio, aumentando sua disponibilidade.
Mais benefícios
Desta forma, com base em resultados científicos, a presença de ácidos húmicos no solo promove a melhor absorção de nutrientes, pois incita a síntese de auxina, suscitando a elongação das células e o crescimento radicular (o que promove melhor busca e aproveitamento de água e nutrientes).
Além disso, influencia na permeabilidade da membrana celular; reduz a fixação e lixiviação de nutrientes, devido ao seu poder quelante e aumento da taxa fotossintética e produção de ATP.
Isso implica em plantas com maior capacidade de produção, consequentemente, melhor nutridas, produzindo mais, com frutos de maior qualidade e valor biológico, e com menor gasto de fertilizantes.
São fontes de ácidos húmicos, por exemplo: lodo de esgoto, composto orgânico, turfa, leonardita, além de muitas formulações comerciais disponíveis no mercado, podendo ser encontrado para aplicação na forma líquida, optando-se pela fertirrigação, por pulverização foliar ou via solo conjuntamente com adubação mineral.
O período de aplicação pode variar desde a formação das mudas (promovendo maior garantia no pegamento e melhor formação radicular) aos estádios vegetativos ou reprodutivos, sendo em área total, faixa ou sulco de plantio.
Dicas
Deve-se atentar à recomendação técnica de acordo com o produto escolhido, pois apesar dos benefícios das substâncias húmicas, sua aplicação sem qualquer critério pode causar desequilíbrios ao solo, à planta e ao ambiente, sendo importante as corretas orientações quanto às concentrações e frequências de aplicações.
Há disponível no mercado muitas opções de formulados que possuem ácido húmico em sua composição, devendo-se observar o que melhor se enquadra quanto ao custo-benefício.