21.6 C
Uberlândia
quinta-feira, novembro 21, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosEscassez de madeira no Brasil

Escassez de madeira no Brasil

Crédito: Luize Hess

Kamilla Crysllayne Alves da Silva
Engenheira florestal e mestranda em Recursos Florestais – Universidade de São Paulo (USP)
kamilla.alves@usp.br
Allana Katiussya Silva Pereira
Engenheira florestal, mestra em Ciências Florestais e doutoranda em Recursos Florestais – USP
allanakatiusssya@usp.br
Iara Nobre Carmona
Engenheira florestal, mestra em Ciência e Tecnologia da Madeira e doutoranda em Recursos Florestais – USP
iaracarmona@usp.br
Ananias Francisco Dias Júnior
Engenheiro florestal, doutor em Recursos Florestais e professor – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
ananias.dias@ufes.br

O abastecimento de madeira é uma das questões que assombram os gestores florestais. O tema, amplamente discutido em eventos e debates ao longo do ano de 2022, visa compreender como se dará o fornecimento de madeira para os grandes bioinvestimentos anunciados: cerca de R$ 57,2 bi até 2024, segundo o relatório anual da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores).

Produção do setor industrial madeireiro

A área total de florestas plantadas no Brasil, no ano de 2020, totalizou cerca de 9,55 milhões de hectares. Entre as espécies, as áreas com cobertura de eucalipto representaram 7,47 milhões de hectares, seguido do pinus com 1,7 milhão de hectares e o cultivo de outras espécies, como seringueira, acácia, teca e paricá que, juntos, somaram 382 mil hectares.

A região do sul do Brasil reúne grande parte da produção florestal do País. O Estado de Minas Gerais ocupa a posição de maior produtor de madeira de eucalipto do País, com 27,6% de áreas plantadas, seguido do Mato Grosso do Sul e São Paulo com 15,1% e 18,1%, respectivamente.

Da mesma forma, as florestas de pinus se concentram nos Estados do Sul do País, onde o estado do Paraná possui 43% de plantios, Santa Catarina com 24% e o Rio Grande do Sul com 18%.

Mudanças climáticas

Apesar dos efeitos das mudanças climáticas que podem afetar diretamente a queda de produtividade das florestas, o Brasil permanece como referência mundial quando o assunto é tecnologia florestal.

A partir da alta produtividade bem distribuída durante todo o ano e ciclos curtos de cultivo (seis a sete anos), levando em conta o período entre o plantio e a colheita das árvores, o País apresentou no ano de 2020 uma produtividade média em plantio de eucalipto de 36,8 m³/ha por ano e cerca de 30,4 m³/ha por ano, no cultivo de pinus.

Demanda nacional do consumo de madeira

O Brasil possui 10 milhões de hectares de florestas plantadas, equivalente a 1,2% do território nacional, e vem ocupando a posição de um dos países com maior área de florestas plantadas do mundo. Aliado a isso, o consumo de madeira advinda dessas florestas aumentou juntamente com a preocupação do setor florestal sobre o suprimento ou não desta demanda.

Podemos afirmar que uma das causas para essa alta no consumo e produção foi proporcionada principalmente pelo mercado de celulose. Esse crescimento está relacionado com as características edafoclimáticas no Brasil, termo que se refere a fatores como o clima, tipo de solo, radiação, precipitação pluviométrica, temperatura e umidade do ar, características essas que ajudam a melhorar a produtividade dos cultivos.

Fotos: Fibria

Um outro aspecto que tem relação direta com esse crescimento produtivo são os investimentos em pesquisas acerca do melhoramento/desenvolvimento das espécies e aprimoramento no manejo para uma maior eficiência nas operações realizadas.

Tendência

O setor de painéis de madeira e pisos laminados mostrou aumento no ano de 2020, como resposta às exportações de ambos os produtos. A produção brasileira de painéis de madeira reconstituída cresceu nos últimos anos e hoje corresponde a 7,1 milhões de m³.

Já a fabricação de pisos laminados no ano de 2020 expressou um total de 11,3 milhões de m³. Devido aos novos formatos de trabalho potencializados pela pandemia do Covid-19, como o home office, esses setores foram privilegiados pelo maior consumo dos produtos advindos de madeira, movelarias e afins.

Desta forma, podemos perceber que o consumo por produtos confeccionados por madeira de florestas plantadas aumentou. No entanto, o total de área plantada teve uma redução entre os anos de 2019 (7,63 milhões de hectares) e 2020 (7,47 milhões de hectares) de cultivo de eucalipto.

Essa diminuição é resultado da competitividade entre os pequenos produtores e o agronegócio, em que as grandes empresas têm mais chance de se manterem, devido aos planos de expansão.

Preços

Nos últimos anos, os preços nominais de muitos produtos industriais oriundos das florestas plantas diminuíram. Essa baixa está relacionada ao contexto de retratação do atual comércio mundial.

O mercado de celulose, entre os anos de 2019 e 2020, sofreu uma redução de 24% no seu preço nominal e o setor de papel diminuiu em 10%. Já os produtos de painéis de madeira apresentaram uma baixa de 4% no seu valor, com exceção dos pisos laminados, que não apresentaram diminuição, expressando apenas 1% de crescimento, todos referentes aos anos entre 2019 e 2020.

Como a escassez afeta a população

Os dados de produção de madeira no País mostram que houve uma diminuição entre os anos de 2019 e 2020 e provavelmente esses valores irão diminuir ainda mais devido à pandemia do Covid-19, pois muitos setores paralisaram sua produção devido à situação atual em que o mundo se encontrava.

Diante disso, a indústria brasileira está sofrendo com a falta de matéria-prima e/ou insumos, que afeta diretamente a quantidade e qualidade da fabricação de produtos dos mais diversos segmentos.

No mesmo momento em que o consumo por móveis domésticos, produzidos por painéis de madeira e/ou MDF, aumentou, a produção nesse setor diminuiu por resultado da escassez da madeira e, atrelado a isso, a desvalorização do câmbio provocada por esse conjunto de fatores resultou na alta dos preços. 

Fotos: Fibria

O setor moveleiro, por sua vez, busca por alternativas para melhorar esse cenário. Dentre elas, a ação integrada por meio de setor público-privado para promover o investimento no setor florestal de produção de madeira afim de sustentar o equilíbrio entre oferta e demanda.

Como evitar o desabastecimento

Algumas medidas são tomadas como alternativas em grandes empresas para que o mercado não sofra com o desabastecimento de madeira. Uma dessas ações engloba um maior aproveitamento da madeira por parte dessas empresas, seja a que ainda está no campo, onde parte das toras pode ser destinada para serrarias, ou após chegar no interior da indústria, destinando resíduos oriundos dos processos à geração de energia térmica, por exemplo.

Outra alternativa adotada por grandes empresas é a valorização do mercado em conjunto com a escala de produção a partir do contato direto com pequenos produtores.

Contratos são formados entre empresas e pequenos produtores: o contratante estabelece um preço mínimo em que a madeira poderá ser comercializada, fazendo com que o pequeno produtor se sinta assegurado de que terá como receita pelo menos aquele valor mínimo de venda, independentemente do que ocorra no setor econômico e florestal durante a vigência do contrato.

ARTIGOS RELACIONADOS

Comercialização de madeira de cedro australiano surpreende produtores

Eduardo de Castro Stehling Biólogo e consultor na Fuste Consultoria Florestal pesquisa@belavistaflorestal.com.br A pronta aceitação do cedro pelo mercado da madeira não é um fato. Existe boa...

Lignum Latin America, a feira da cadeia produtiva da madeira

Impossível imaginar nossa vida sem a madeira. A matéria-prima está em diversos momentos do nosso dia a dia. Nos móveis, nas portas, nos pisos....

Manejo inteligente na rebrota de eucalipto

Afinal, é possível obter altas produtividades em rebrota de eucalipto? Certamente sim, mas para isso é necessário que se realize as práticas silviculturais adequadas para a floresta.

Drone que voa sozinho no meio de florestas pode ser aliado contra o desmatamento

No entanto, realizar esse trabalho manualmente é praticamente inviável tendo em vista a dificuldade de acesso a algumas matas e o longo tempo para execução das tarefas, que podem levar semanas para serem finalizadas, além de exporem os profissionais a diversos riscos, como quedas em buracos e ameaças de animais.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!