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Produção de milho em 2022/23: Brasil vê cenário favorável para novo recorde

Divulgação

Enilson Nogueira
Consultor de mercado na Céleres
enogueira@celeres.com.br

A safra 2021/22 foi marcado por resultados positivos para o mercado de milho no Brasil, mesmo com os desafios produtivos e internacionais relevantes ao longo do ano.

No primeiro trimestre de 2022, o início e desenvolvimentos dos conflitos entre Ucrânia e Rússia elevou as incertezas sobre a oferta de insumos agrícolas e de oleaginosas e cereais no panorama global.

Se, por um lado, o fenômeno elevou os preços de fertilizantes e, consequentemente, os custos de produção de milho inverno no Brasil; por outro, deu a possiblidade de o País ganhar destaque como alternativa no fornecimento de grãos no mundo.

Vale lembrar que Ucrânia + Rússia eram responsáveis por 5% da oferta e 15% das exportações globais de milho até o último ano, fontes relevantes para os países europeus e asiáticos.

Além disso, as altas temperaturas e as chuvas abaixo do normal no Hemisfério Norte ao longo do segundo semestre de 22 limitaram a produção dos principais países.

Déficit produtivo

De acordo com dados do USDA, os EUA, União Europeia e China, conjuntamente, produziram 45 – 50 milhões de toneladas (MM t) a menos que o esperado para a safra atual devido a problemas climáticos, além das produções menores já esperadas na Ucrânia e Rússia.

O resultado foi o aumento do déficit de produção (demanda menos produção) destes países em quase 90 MM t, ou seja, necessidade de consumir estoques internos e elevar a procura pela importação de milho na América do Sul no fim de 2022.

Na ótica brasileira, o cenário de oferta limitada de milho no mundo em 2022 abriu espaço para a possibilidade de aumentar a participação no trading global no cereal e o país respondeu bem à demanda global por segurança alimentar.

A safra de inverno 2021/22 foi recorde no país, ultrapassando a barreira de 90 MMt. Mesmo com as perdas da safra de verão no final de 2021, a oferta total nesta temporada foi de 116 MMt, 35% maior que no anterior.

O número é resultado do crescimento relevante de área plantada (+2 MM hectares) e recuperação da baixa produtividade de milho observado em 20/21. Os problemas produtivos na Ucrânia, a demanda internacional maior e o excedente recorde no segundo semestre/22 diante da safra cheia fizeram com que o Brasil pudesse figurar como 2º maior país exportador de milho em 2022.

E agora?

A projeção de exportação nacional prevista pela Céleres® é de 42 MM t no ano safra 2021/22 (mar/22 a fev/23), também nível recorde de exportação para o período. Ressalta-se que os níveis de embarques nos últimos meses já comprovam o potencial de exportação recorde no segundo semestre/22.

Como resposta, o cenário de preços nacionais ao longo de 2022, portanto, foi de preços historicamente altos (Figura 1), mesmo que estes ficassem estáveis no período em decorrência da safra cheia de inverno e da recomposição dos estoques esperados para fim deste ano.

Figura 1. Preços de milho no mercado disponível em cidades selecionadas. Em R$/sc.

Fonte: Céleres®. Elaboração: Céleres®

Cenário produtivo de milho em 2022/23

Diante de demanda internacional elevada e preços historicamente elevados, mesmo com a recomposição dos estoques finais em 2022 em relação a anos anteriores, a safra 2022/23 se coloca como de novos recordes para produção de milho.

Para a safra verão, diante da área plantada estável em relação à temporada anterior e da recuperação das baixas produtividades do ano anterior, a produção esperada é de 28 MMt, valor 23% maior que na temporada anterior.

Vale ressaltar que a safra de verão atualmente plantada se mostra melhor que no ano passado, mesmo com problemas pontuais de clima no Rio Grande do Sul, garantindo oferta maior no início de 2023.

Para a safra de inverno, espera-se a confirmação de mais um recorde de área e produção. A projeção de área plantada é de 18,3 MM ha, 8% maior que na safra anterior. A produção esperada deverá passar a marca de 100 MM t na safra 22/23, aumento de 10 MM t em relação à safra passada.

Mesmo que cedo para afirmar, o plantio de milho inverno deve acontecer dentro da janela adequada, desde que os trabalhos de colheita ocorram normalmente em 2023, o que pode garantir bom potencial produtivo para tal safra.

Além disso, o cenário climático também se mostra favorável para o recorde de produção apontado nos dados. Após duas temporadas de La Niña, espera-se um cenário de neutralidade a El Nino, o que, historicamente, aponta para boas condições de chuva e produtividade no milho inverno.

Produtividade

A produtividade média esperada para a safra de inverno está em 92 sc/ha, duas sacas acima da última temporada e mantendo a trajetória consistente de expansão dos rendimentos técnicos das lavouras de milho.

A título de comparação, o concurso promovido pelo GETAP (Grupo Técnico para Aumento de Produtividade do Milho) mostrou resultados bastante superiores à média nacional, com o TOP 3 da premiação apresentando rendimentos acima de 220 sc/ha nas lavouras de sequeiro no inverno em 2021/22.

Mesmo que estes dados representem recortes específicos da produção do cereal, os resultados mostram que o desafio está em garantir escala para tais resultados.

No total (1ª, 2ª e 3ª safras), a oferta nacional alcançar o montante de 130 MM t, 15 MM t a mais que na temporada anterior e 50 MM t a mais que na década anterior, reforçando o posicionamento de destaque do Brasil na dinâmica mundial de produção.

Rentabilidade

Tão importante quanto produzir em níveis recordes é garantir renda ao produtor rural. O cenário de rentabilidade para o produtor de milho inverno é positivo nesse momento, mesmo que deva observar margens menores que nas duas temporadas anteriores.

Na simulação de rentabilidade operacional feita para Médio-Norte do Mato Grosso, para a safra 2022/23, estima-se que produtores de média a alta tecnologia tenham em torno de 36 sacas de milho por hectare (29% da receita total) de margem operacional, isto é, receita menos custos diretos (sementes, fertilizante, químicos, operações e mão de obra) e despesas com a lavoura.

Apesar de positivo e acima da média das últimas cinco safras, o resultado operacional do produtor de milho deverá ser menor que nas duas últimas temporadas. O resultado é explicado pela elevação dos custos de produção em mais de 80% em relação à safra anterior e aos preços de estáveis a menores para o segundo semestre/23.

No entanto, o cenário de rentabilidade apontado anteriormente para asafra de inverno dependerá de resultados favoráveis para produtividade no inverno.

Figura 3. Rentabilidade projetada de milho inverno no Mato Grosso. Em sacas de milho por hectares.

Exportações

Pelo lado da oferta, as exportações deverão se manter como fim de maior crescimento em 2023. Com a expectativa de 49 MM t exportadas em 22/23, este uso deverá ser ponto-chave para equalizar a produção recorde no próximo ciclo.

Adicionalmente, o uso doméstico de milho para etanol deverá se elevar para 12 MM t (15% maior em relação à safra anterior) na esteira dos novos investimentos nas usinas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Neste tema, vale lembrar que mais de 10% da oferta nacional de etanol em 2023 deverá vir do processamento do grão.

No consolidado, a demanda total para safra a 2022/23 deverá ser de 128 MM t e a relação estoque/consumo deve chegar a 8% na mesma temporada. A relação indica alguma recuperação em relação às safras anteriores, contudo, ainda é historicamente baixa, visto que a relação média de estoque/consumo de milho na última década foi de 12%.

Apesar da recomposição dos estoques, o cenário de suprimento apertado mantém os preços ainda elevados no decorrer de 2023.

Figura 4. Composição do uso de milho no Brasil. Em milhões de toneladas.

Fonte: Céleres® e IMEA. Elaboração: Céleres.

Riscos de comercialização para a safra 2022/23

Para a safra de milho verão, até agora tem-se 14% da safra 2022/23 comercializada. Em 2021/22 esse número era de 37%. É importante lembrar que a produção dessa safra atende principalmente o mercado interno, enquanto as exportações são dadas pelo excedente da produção da 2ª safra, que está projetada em 100 milhões de toneladas produzidas.

Para o total do ano são esperadas 49 MM toneladas para exportação para 2022/23.

Para a safra inverno, o percentual comercializado de milho é de apenas 11% da próxima safra. No mesmo período de 2021/22 esse percentual era de 37%, 26 pontos percentuais a mais.

Vale destacar que o plantio e desenvolvimento das safras de verão dentro do normal na maior parte das regiões produtivas no Centro-Sul sugere uma janela adequada para produção do milho inverno em 2023.

Antecipando as definições da comercialização da safra de milho inverno em 2022/23, a Céleres® estimou cenários de retenção para Rondonópolis (MT) a partir de setembro/23.

Figura 5. Análise de viabilidade financeira do armazenamento de milho inverno em Mato Grosso. Valores em R$/sc.

Fonte: Céleres®. Elaboração: Céleres®.

O gráfico de análise de viabilidade financeira de armazenamento mostra uma diferença negativa, mesmo que pequena, da paridade de exportação em relação ao produto armazenado.

Nesse caso, apesar da aproximação das curvas de paridade e do custo de carregamento do milho no período analisado ao longo do período analisado, a estratégia de retenção de grande parte da produção do cereal não é indicada.

A julgar pelos preços ainda remuneradores do cereal, pela baixa exposição de vendas atual observada na cultura e as dificuldades de armazenamento em boa parte das regiões produtoras, a Céleres® recomenda que os produtores busquem travar um percentual maior das vendas nos próximos meses.

Vale lembrar que boa parte dos custos já foram travados a precificações elevadas, o que sugere também posturas mais conservadores e de menor risco na comercialização do cereal.

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