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Dalva L. Queiroz
Pesquisadora da Embrapa Florestas
Daniel Burckhardt
Naturhistorisches Museum, Augustinergasse
PsilÃdeos são pequenos insetos sugadores, com estreita ligação com suas plantas hospedeiras. Alguns deles são pragas em agricultura, florestas e plantas ornamentais. Eles danificam as plantas diretamente pela extração de grande quantidade de seiva, ou pela transmissão de doenças. Nas últimas décadas, por meio de técnicas moleculares, os agentes causais destas doenças transmitidas por psilÃdeos estão sendo caracterizadas e identificadas como bactérias. Atualmente, estes psilÃdeos são os vetores mais daninhos, por exemplo: em citros, pera, maça, pêssego, cenoura, tomate ou batata.
Por longo tempo, o psilÃdeo do tomate e batata (PTB, Bactericera cockerelli) era conhecido no México e sul dos EUA como praga ocasional. Em 2006, este psilÃdeo foi detectado na Nova Zelândia, causando grandes danos em tomate e batata. Desde esta época, um grande esforço de quarentena está sendo mantido na Austrália e comunidade europeia para prevenir que esta praga entre nestes continentes.
Ao mesmo tempo, na América têm se intensificado os trabalhos com psilÃdeos associados à família botânica das solanáceas, onde estão o tomate, a batata, a berinjela, o pepino, a pimenta, o tabaco, entre outros.
Nas florestas
Na Embrapa Florestas temos realizado pesquisas, nas últimas duas décadas, investigando psilÃdeos em florestas, especialmente os que são pragas em eucalipto e outras essências florestais. No Museu de História Natural, em Basel, SuÃça (NMB), os estudos em sistemática deste grupo têm proporcionado a base taxonômica para solucionar as interações destes insetos com suas plantas hospedeiras.
Em 2011 foi formalizada uma parceria entre estas duas instituições para trabalhar mais intensivamente os psilÃdeos nativos do Brasil, incluindo os associados às solanáceas.
A primeira expedição de coleta foi realizada em 2011 e, desde então, vários Estados brasileiros foram visitados, com quase 1.000 amostras coletadas. Estas amostras estão sendo triadas, identificadas e estudadas na SuÃça, onde está uma das maiores coleções de psilÃdeos do mundo.
Neste material coletado, foram observados psilÃdeos induzindo galhas em solanáceas, as quais parecem ser similares à quelas encontradas na Serra dos Órgãos (RJ) e descritas há mais de 100 anos pelo cientista alemão Rübsaamen.
A descrição feita por Rübsaamen não é diagnóstica. Então, para solucionar este problema foi necessária uma investigação mais detalhada na coleção de Rübsaamen, que se encontra depositada no Museu de Zoologia da Universidade de Humboldt em Berlim, Alemanha.
A coleção de galhas de Rübsaamen
Ewald Heinrich Rübsaamen (1857″1919) foi diretor do centro governamental da Prússia para controle da praga Phylloxera em videira. Na mesma época, foi líder em cecidologia (ramo da Biologia que trata das galhas produzidas em plantas por insetos, ácaros e fungos).
Seu trabalho incluiu a descrição de um grande número de galhas vindas de todas as regiões do mundo. A maior ênfase de seu trabalho foi em Cecidomyidae (Diptera), mas ele estudou também outros grupos.
Em quatro publicações sobre galhas do Brasil e Peru, Rübsaamen (1899, 1905, 1907, 1908) listou uma série de galhas causadas por psilÃdeos e descreveu Bactericera solani de Solanum sp. O herbário de galhas e a coleção de Cecidomyidae organizados por Rübsaamen estão preservadas no “Zoologisches Museum der Humboldt-Universität“, Berlim, Alemanha (Museu de Zoologia da Universidade de Humboldt).
Entretanto, os outros grupos de insetos estudados por Rübsaamen aparentemente se perderam. O herbário está organizado de acordo com os maiores grupos de indutores de galhas, incluindo uma seção de psilÃdeos (Insecta, Hemiptera, Psylloidea).
Por meio da gentileza da Dra. U. Göllner e Dr. J. Deckert (ZMHU), foi possível examinar a coleção de Rübsaamen, especialmente a de galhas causadas por psilÃdeos. O herbário de galhas causadas por psilÃdeos está guardado em duas pastas e, dentro delas, organizado em ordem alfabética, de acordo com a classificação do hospedeiro.
Ainda no museu de Berlim está uma pequena coleção de psilÃdeos montados em alfinetes entomológicos e em lâminas, bem como os diários centenários das expedições de campo de Rübsaamen.
PsilÃdeo Bactericera solani
O psilÃdeo Bactericera solani foi descrito por Rübsaamen (1908) a partir de galhas do tipo “enrolamento“ de folhas de uma planta não identificada, do gênero Solanum, coletado na Serra dos Orgãos (RJ). Adicionalmente à descrição das galhas, ele mencionou ninfas de diferentes instares e um único adulto, que tinha acabado de emergir, com apenas uma das asas anteriores completamente desenvolvida.
Baseado na veias da asa anterior, Rübsaamen assinalou que a espécie pertencia à família Triozidae, sugerindo que esta poderia representar um novo gênero. Na ninfa, ele observou que a base do flagelo da antena era estreita, então concluiu que a espécie era relacionada à Bactericera e, com esta evidência, ele descreveu a espécie provisoriamente neste gênero.