Tarciso Melo Claudino
Pesquisador de Iniciação Científica do CNPq, técnico em Agropecuária e graduando em Engenharia Mecânica Empresarial – Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
tarcisoclaudino@furg.br
Talis Melo Claudino
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Agronomia – UNESP – FCA de Botucatu
t.claudino@unesp.br
Davide Savy
PhD e pesquisador convidado – Universidade de Nápoles Federico II – Itália
davide.savy@unina.it
Mileni de Souza Marques
Graduanda em Engenharia Química – FURG
mileni.marques14@hotmail.com
As substâncias húmicas (SH) são moléculas polifuncionais. Destas, são amplamente descritas suas funções no condicionamento de solo e ação similar à auxina nas plantas. Entretanto, este aglomerado de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e fósforo possui muitas outras funções indiretas que aumentam a qualidade do sistema produtivo pela melhoria do funcionamento fisiológico das plantas. Neste artigo, iremos abordar somente o uso de ácidos húmicos, destacando seus derivados ácidos fúlvicos e huminas.
Quem são eles
Os ácidos húmicos (AH) são o subproduto da matéria orgânica mais utilizado atualmente, em relação aos demais compostos extraídos dela. Sua aplicação pode acontecer via solo, mas as melhores respostas são encontradas nas aplicações foliares, desde que seja aplicado na dose correta e pH ideal de funcionamento, entre 4,8 a 8,0.
Ação nas plantas
Além de ser utilizado para o crescimento de plantas, estimulação e maior produtividade, o AH também pode ser utilizado no combate a estresses bióticos e abióticos devido aos seus efeitos diretos na produção de enzimas e metabólitos das plantas-alvo.
Atualmente, sabe-se que o sistema de resistência adquirida é ativado pela substância húmica, onde as proteinases (PR) e a fenilalanina amonioliase (PAL) são ativadas.
O déficit hídrico nas plantas é expresso pela ausência da quantidade normal de água nas plantas em seu ciclo de vida. Este fenômeno acontece mundialmente e pode levar a distúrbios, como o menor tamanho de folhas, raízes e multiplicação radicular.
Os vegetais apresentam vários fenômenos bioquímicos e fisiológicos de resposta para o estresse hídrico a nível celular e de organelas. Nas folhas, os estômatos se fecham, e para que a membrana não seja danificada são ativadas várias enzimas.
Complexidade
A tolerância a este fator abiótico é um fenômeno complexo que envolve toda fisioquímica da planta em diferentes estádios de desenvolvimento. Vários mecanismos podem ser desenvolvidos para a tolerância e a adaptação contra o estresse, como a redução do conteúdo de água por maior acúmulo de metabólitos, prevenção da desintegração da membrana celular, ativação enzimática e incremento nos teores dos íons cálcio e potássio.
Para melhoria e combate a estes fenômenos, pode-se fazer o uso de substâncias húmicas, já que esta culmina no incremento da resistência à seca, mas resultou em diversos distúrbios metabólicos.
As substâncias húmicas podem combater estresses ambientais por alterar as propriedades químicas e físicas do solo, aumentando a capacidade de absorção de água, aeração, pH e transporte de íons.
Entretanto, isto ocorre quando a SH é aplicada diretamente no solo, sobre a palhada ou restos de resíduos, com resultados no aumento do teor de matéria orgânica e, consequentemente, na melhoria da estruturação química do solo e, principalmente, na sua biologia.
Benefícios
Podemos afirmar que, quando pulverizado em área total em cobertura, os microrganismos saprófitas do solo são beneficiados e aceleram a decomposição do conteúdo orgânico da palhada, transformando-a em matéria orgânica, nutrientes e aumentando a colonização de microrganismos.
Vários benefícios são observados, como a liberação de fosfato retido em óxidos de alumínio e de ferro. Entretanto, esta substância deve ser aplicada em quantidades elevadas de carbono, dentre 8,0 a 10 kg ha-1 de carbono oriundo de ácido húmico, dificilmente calculado em produtos comerciais, visto que este tem por característica o conteúdo total de carbono e, algumas vezes, os teores de ácido húmico e fúlvico (AF).
Metodologia
Questiono a metodologia de análise destes compostos pelo Ministério da Agricultura (MAPA), visto que, para identificação perfeita deste conteúdo, deveria ser utilizada a metodologia de resina específica que, por exaustão, retém somente os AH ou AF e descartam outros compostos orgânicos, como aminoácidos, açúcares, proteínas e outros compostos.
Podemos minimizar o estresse hídrico das plantas utilizando substâncias húmicas do modo mais assertivo, prático, econômico e eficiente, pela aplicação foliar, na qual devem ser aplicadas as doses de 6,0 a 30 mmolc de carbono de SH por litro de calda nas plantas, necessitando que este conteúdo se espalhe o máximo possível pela utilização de adjuvantes ou óleos agrícolas.
As reações iniciais das plantas tratadas são de um maior crescimento radicular. Desta forma, aumenta a área específica das raízes, e assim o volume de água disponível no solo. Efeitos fisiológicos, como uso mais eficiente da água, aumento da fotossíntese e menor evapotranspiração foram encontrados em estudos realizados em cana-de-açúcar, avaliada 60 dias após aplicado.
O aumento do sistema radicular e outros efeitos resultantes da aplicação de substâncias húmicas nas plantas são devido ao maior estímulo do hormônio vegetal auxina, em que as ATPases ácidas são ativadas, além de aumentar a quantidade de ATPases na membrana celular.
São observados resultados no crescimento ácido das células que, por meio também da giberelina e cálcio, promovem a multiplicação celular, resultando no crescimento vegetal tanto de sua parte aérea quanto de raízes.
No campo
Além da auxina, o aumento da citocinina foi encontrado em plântulas de milho tratadas por ácido húmico e fúlvico em relação ao controle. A citocinina é um hormônio vegetal muito importante na fotossíntese, e por isso, podemos associar que o aumento da fotossíntese líquida na cana-de-açúcar foi influenciado pela maior quantidade destes hormônios.
O metabolismo essencial, também conhecido como metabolismo secundário, assim como a genética da planta, são alterados pela aplicação de substâncias húmicas, modulando sinais que, posteriormente na transcrição, dão origem a proteínas que combatem estresses abióticos, como a seca.
Em estudos presentes, estamos estudando as alterações epigenéticas das plantas de cana-de-açúcar pela aplicação de ácido húmico. Após muitas revisões de literatura e decorrência do ensaio, estamos observando que as plantas têm seu DNA modificado e, quando aplicadas e submetidas a um estresse hídrico, ocorre a alteração do DNA e na próxima vez que esta é induzida ao estresse, tem memórias genéticas e produção de metabólitos, nos quais as plantas superam facilmente o déficit hídrico moderado.
Agora, basta procurar um profissional habilitado e realizar a utilização de substâncias húmicas nas lavouras brasileiras.