Paula Almeida Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia/Produção Vegetal – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
paula.alna@yahoo.com.br
Os maiores produtores de melancia são o Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo, cultivada principalmente por pequenos agricultores em condições irrigadas e de sequeiro, e assim apresenta fácil manejo e baixo custo de produção.
As condições climáticas para plantio de melancia são clima quente, dias longos e baixa umidade relativa do ar. A faixa ótima para o desenvolvimento da cultura é de 23 a 28ºC. A planta é muito sensível a geadas, sendo seu crescimento vegetativo paralisado sob temperaturas abaixo de 12ºC.
Temperaturas elevadas, acima de 35ºC, estimulam a formação de flores masculinas. A boa formação dos frutos depende da polinização eficiente das flores, feita pelas abelhas.
Os frutos apresentam melhor sabor, aroma e consistência em locais quentes e com baixa umidade relativa do ar. A qualidade dos frutos tem relação com a temperatura e umidade relativa do ar. Dias longos e quentes e noites quentes, que caracterizam verão quente e seco, são ideais para a cultura da melancia.
A época de plantio é dependente de cada região, segundo a localização e altitude. No geral, nas regiões mais frias o plantio da melancia é feito de outubro a fevereiro; nas de clima ameno de agosto a março e nas regiões de clima quente o ano todo, com uso da irrigação. Deve-se evitar as épocas de chuvas intensas.
Variedades
Atualmente, existe um grande número de cultivares que diferem entre si quanto à forma do fruto, coloração externa, polpa, tolerância a doenças e outras características. Na escolha da cultivar para o plantio, o produtor deve considerar o tipo de fruto preferido pelo mercado e sua resistência ao transporte, a adaptação da cultivar à região e a tolerância aos problemas fitossanitários.
Os híbridos podem apresentar maior precocidade, frutos maiores e mais uniformes. A melancia sem sementes é um produto muito aceito nos mercados mundiais.
As cultivares de melancia mais plantadas no Brasil são divididas em dois grandes grupos: Grupo Americano, em que as cultivares produzem frutos alongados, cilíndricos e o Grupo Japonês, com frutos arredondados e esféricos.
Polinização
As flores masculinas e femininas se localizam separadamente na mesma planta. Cada flor permanece aberta por apenas um dia. A abertura ocorre de uma a duas horas após o aparecimento do sol e o fechamento, à tarde.
A polinização é realizada por abelhas, pela manhã. A presença de abelhas durante a fase de florescimento é fundamental para aumentar o pegamento dos frutos e a produtividade e para diminuir o número de frutos defeituosos.
Solo
A melancia desenvolve-se melhor em solos de textura média, profundos, com drenagem intensa e boa fertilidade. A cultura não tolera solos pesados, encharcados e mal aerados. Escolhida a área, deve-se fazer a análise do solo para calagem e adubação.
A cultura da melancia suporta solos de acidez média, com produção favorável na faixa de pH de 5,5 a 7,0. Quando o pH do solo for inferior a 5,5, deve-se utilizar a calagem com no mínimo três meses de antecedência ao plantio.
Recomenda-se aplicar, de preferência, o calcário dolomítico, porque a melancia responde muito bem tanto à aplicação de cálcio quanto à de magnésio, em termos de produção e qualidade de frutos.
Outra vantagem da calagem é a diminuição da incidência do distúrbio fisiológico, conhecido por podridão-apical, associado à deficiência de cálcio, que inutiliza os frutos para o comércio, causando grandes prejuízos para a cultura.
Fitossanidade
A podridão apical, conhecida como fundo preto, é um distúrbio relacionado com a deficiência de cálcio. Os sintomas da podridão aparecem em frutos de diversos tamanhos.
A extremidade do fruto torna-se escura e achatada, com uma podridão seca acompanhada ou não por sinais de murcha. A presença deste tecido morto inutiliza os frutos para o comércio, pois na necrose ocorre infecção por microrganismos.
Além da deficiência de cálcio, estão relacionados como determinantes do distúrbio a frequência de irrigação, temperaturas elevadas e ventos secos na fase de crescimento do fruto.
O espaçamento recomendado para o plantio irrigado é de 3,0 m x 0,8 m, deixando uma planta por cova (4.166 plantas/ha). A recomendação de adubação mineral é feita com base na análise de solo.
Plantio e tratos culturais
A semeadura deve ser feita diretamente na cova, no sulco ou em bandejas para produção de mudas. Usam-se duas a três sementes por cova, a uma profundidade de 2,0 a 3,0 cm.
Outra preocupação no cultivo é com o desbaste de plantas. Quando estas apresentarem três a quatro folhas definitivas, fazer o desbaste, deixando apenas uma planta por cova, elegendo a mais vigorosa e eliminado as demais.
É importante afastar as ramas para fora dos sulcos de irrigação e das faixas do terreno reservados ao trânsito. Esta operação é feita de três a quatro vezes durante o ciclo. Além de facilitar as capinas, as pulverizações e a colheita, evita o apodrecimento dos frutos, causado pelo contato com água ou pelos danos mecânicos.
Não sendo possível a análise do solo, recomenda-se como adubação mineral de 100 kg/ha de N (nitrogênio), 120 kg/ha de P2O5 (fósforo) e 120 kg/ha de K2O(potássio). Em termos de adubo por cova, isso representa as seguintes quantidades: sulfato de amônio: 300 g; superfosfato triplo: 160 g; cloreto de potássio: 120 g.
As quantidades totais desses dois nutrientes devem ser parceladas em três aplicações, sendo a primeira no plantio e as outras duas em cobertura, aos 25 e 40 dias após a germinação. O adubo orgânico também na cova, principalmente em solos mais arenosos e pobres em matéria orgânica, na quantidade de 5,0 kg a 10 kg/ cova, de esterco curtido ou 1,0 a 2,0 kg/cova de cama de frango.
No desbaste de frutos, devem ser eliminados todos os defeituosos e com podridão, pois além da planta perder sintetizados com frutos que não serão comercializados, provavelmente a presença dos mesmos inibirá o pegamento de outros frutos na planta.
A rachadura dos frutos tem sido relacionada com o excesso de umidade disponível à planta, na fase de maturação e temperatura elevada, acima de 35ºC. Os frutos deformados e queda de frutos estão relacionados com deficiência de polinização.
Recomenda-se a instalação de colmeias e evitar as aplicações de defensivos, inseticidas no período da manhã, quando ocorre maior intensidade de trabalho de abelhas, evitando-se a morte dos agentes polinizadores da melancia.
Matocompetição
O controle de ervas daninhas pode ser feito manualmente, com a enxada entre as plantas, para evitar competição com a cultura da melancia. Com o desenvolvimento da planta, as capinas devem ser manuais com enxada e localizadas.
Para proteção dos frutos, recomenda-se evitar o contato direto com o solo, principalmente em épocas chuvosas, protegendo-os com palha de arroz ou capim seco para evitar o apodrecimento de frutos e a mancha de encosto, o que melhora a cotação do produto no mercado.
Para manter a cultura livre de ervas daninhas, recomenda-se o controle químico, por meio de herbicidas registrados para a cultura.
Fitossanidade
As principais doenças da melancia provocadas por fungos, vírus e bactérias são: cancro das hastes (Didymella bryoniae); podridão-do-colo (Macrophomina sp.); oídio (Podosphaera xanthii: fase perfeita; Oidium sp.: fase imperfeita); míldio (Pseudoperonospora cubensis); antracnose (Glomerella cingulata var. arbiculare; murcha-de-fusarium (Fsarium oxysporum); galhas (Meloidogyne spp.) e virose (Watermelon mosaic vírus (WMV) 1 e 2).
As principais pragas da melancia são: mosca-branca, pulgão, mosca minadora, tripes, ácaros, vaquinha, broca das cucurbitáceas e lagarta rosca. Essas espécies de insetos atacam a cultura da melancia, sendo que a maior ou menor importância de cada uma delas varia de acordo com a região e a época de plantio.
No controle das pragas da melancia, quando da utilização de inseticidas, deve-se pulverizar a cultura de preferência no final da tarde, quando é menor a atividade de abelhas e a planta está menos sujeita a prováveis efeitos fitotóxicos.
Sempre que possível, a escolha do inseticida deve recair sobre um produto menos tóxico às abelhas. A rotação de cultura é recomendada no plantio da melancia. Depois da colheita dos frutos, deve-se plantar outra cultura de espécie e família diferente, não sendo correto o plantio de melão, abóbora, maxixe ou pepino na mesma área onde foi colhida a melancia.
Pode ser plantado feijão, cebola, milho, tomate e outras culturas. O plantio sucessivo de plantas da mesma família na mesma área diminui a produção e favorece o ataque de pragas e doenças.
Em várias regiões brasileiras acontecem períodos de alterações climáticas com alto risco de restrição de chuvas, se fazendo cada vez mais urgente a necessidade de irrigação em cultivos agrícolas.
Irrigação
A melancia pode ser irrigada por infiltração, aspersão e por gotejamento. O sistema de irrigação por gotejamento possui alto custo, mas os benefícios são enormes nas lavouras. O sistema reduz as perdas por evaporação da superfície do solo – a água é direcionada para o solo e não molha as folhas, assim evitando que doenças ocorram.
Além disso, permite a aplicação da fertirrigação, melhorando a eficiência do uso dos fertilizantes aplicados e reduzindo a incidência de ervas daninhas. Esse sistema de irrigação ajuda muito na produção da melancia, porque permite que se produza frutas de maior qualidade. Um hectare pode produzir de 20 a 50 mil kg de melancia.
Desta forma, na cultura da melancia é essencial o uso da irrigação para produção e obtenção de altas produtividades e de frutos com boa qualidade e tamanho, especialmente durante o período seco.
Utiliza-se muito da irrigação por sulcos ou por aspersão. Mas, pesquisas apontam que a irrigação por gotejamento permite obter produções elevadas, com baixa incidência de doenças, facilidade no controle de plantas daninhas e na aplicação de fertilizantes via água de irrigação.
Além disso, a irrigação por gotejamento é um sistema em que a água é distribuída por tubos de pequeno diâmetro e emissores localizados diretamente na zona das raízes da planta.
O gotejamento é uma irrigação localizada, entregando a água de forma pontual por meio de gotas, diretamente nas zonas das raízes, sem molhar a parte aérea (folhas, ramos e caule), evitando a proliferação de doenças, principalmente as fúngicas.
Na medida certa
O volume de água fornecido deve ser o suficiente para a planta, comandado por controladores e monitorado por sensores de umidade de solo adequadamente instalados no campo e com monitoramento dos dados climatológicos.
Também é uma excelente forma de aplicação de todos os fertilizantes compatíveis com a água, conhecido como fertirrigação. O uso racional de água e fertilizantes pede um sistema de irrigação de alta eficiência e precisão, com mão de obra qualificada, visando extrair o máximo benefício do sistema.
Assim, representa aumento de produtividade, com frutos de melancia de melhor qualidade, resultando em maior rentabilidade ao produtor.
Colheita
A colheita da melancia tem início entre 35 a 45 dias após a abertura das flores, o que corresponde ao período de 65 a 90 dias após o semeio. A colheita deve ser realizada, preferencialmente, pela manhã.
Cortar o pedúnculo a 5,0 cm do fruto, para evitar a entrada de doenças causadoras de podridões depois da colheita. Com o peso dos frutos, que varia de 10 a 15 kg, dependendo da cultivar, das condições climáticas e do manejo da cultura, a produtividade de frutos comercializáveis pode alcançar até mais de 50.000 kg/ha.
A determinação do ponto de colheita exige certa prática, como observação das características indicadoras: mudança de coloração da parte do fruto em contato com o solo, que passa de branco para amarelo ou creme; secamento de gavinha existente no mesmo nó do pedúnculo do fruto; mudança na casca do fruto, que passa de verde brilhante para um tom mais opaco.
Pós-colheita
Logo após a colheita, os frutos são transportados para um local à sombra, seco e ventilado. Durante a colheita e o transporte, os frutos devem ser manuseados com cuidado, para proteção de qualquer tipo de ferimento.
A classificação dos frutos da melancia é feita segundo o peso, em frutos grandes, acima de 9,0 kg, médios, de 6,0 a 9,0 kg, sendo os frutos com peso acima de 10 kg os que obtêm os melhores preços no mercado interno.
O transporte para o mercado é realizado a granel, com o uso de caminhões. Recomenda-se colocar capim seco no fundo, e nas laterais da carroceria, assim como entre as camadas de frutos, a fim de protegê-los de choques.