Franciely da Silva Ponce
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Horticultura – FCA/UNESP
francielyponce@gmail.com
O silício (Si) é segundo elemento mais abundante na crosta terrestre, correspondendo a 27,7%, sendo originado de rochas como basaltos, calcários, entre outras. É liberado das rochas na forma de ácido monossilícico, a partir da quebra em pedaços menores, pela ação do vento, água, temperatura e processos químicos, tornando-se absorvível pelas plantas.
Diversos estudos têm apontado que a aplicação de silício proporciona redução de estresse biótico e abiótico, promovendo maior produtividade e proteção contra pragas, doenças e condições adversas.
Muitos estudos apontam para a maior produção de lignina nos tecidos das plantas devido à adubação com silício, o que promove proteção contra o ataque de insetos mastigadores.
Além disso, dificulta a colonização dos tecidos por parte de estruturas de doenças fúngicas, como a fusariose. Além disso, tem sido associado a ganhos de produtividade e redução ao estresse hídrico.
Sob estresse
O estresse hídrico é provocado tanto pela falta como pelo excesso de água, sendo o déficit hídrico um dos fatores mais limitantes para a produção de plantas.
A falta de água tem um enorme impacto sobre os cultivos agrícolas, limitando a produção de plantas em todo o mundo. Plantas submetidas ao déficit hídrico tendem a ter crescimento reduzido, abscisão foliar, redução de ciclo e de produtividade, ou mesmo senescência precoce.
O déficit hídrico no período vegetativo promove nanismo e redução na área foliar, enquanto que no florescimento promove abortamento das flores, e na frutificação reduz o pegamento e crescimento dos frutos.
Impactos
Os impactos mais brandos sobre a produção são perdas de produtividade, redução do crescimento das plantas e encurtamento de ciclo, contudo, em casos severos, as perdas podem atingir milhares de dólares e limitar o cultivo.
Segundo a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as perdas provocadas pela estiagem na safra 2021/22 ultrapassam R$ R$ 70 bilhões, levando a uma redução da produção de grãos de cerca de 24 milhões de toneladas. As perdas podem variar conforme a sensibilidade da cultura ao déficit hídrico.
Silício na agricultura
O silício tem sido utilizado na agricultura como suplemento, podendo ser aplicado via solo ou foliar. Além disso, pode ser disponibilizado a partir de rejeitos da indústria siderúrgica, casca de arroz carbonizada, ou mesmo por adubos químicos à base de silício.
Alguns estudos apontam para a maior disponibilização de fósforo no solo, o que faz com que haja melhor aproveitamento pelas plantas e, consequentemente, maior produtividade.
A adubação silicatada pode ser utilizada conjuntamente com os demais manejos adotados para as culturas, sem riscos de efeitos antagônicos, podendo apresentar outras vantagens, como redução de pH do solo e neutralização do alumínio tóxico presente nos solos agricultáveis do Brasil.
Benefícios
A aplicação de silício traz diversos benefícios às culturas, no entanto, esses efeitos são variáveis, conforme a espécie cultivada. Os benefícios promovidos ao solo independem desse fator.
Na planta, o silício é depositado na parede celular, conferindo maior resistência, o que promove proteção contra a penetração das estruturas reprodutivas de fungos, além de reduzir a alimentação de insetos mastigadores, como as lagartas.
O silício pode atuar também como precursor de hormônios de defesa, como o jasmonato, conhecido por proporcionar resistência, principalmente contra lagartas.
A suplementação de silício proporciona às plantas a produção de aminoácidos, enzimas e antioxidantes, o que reduz os efeitos adversos da salinidade e estresse hídrico. Pela deposição de silício na parede celular, há uma redução da perda de água pela transpiração e ativação de enzimas, como a prolina, que atenua os efeitos da seca e reduz a ação das espécies reativas de oxigênio.
Além disso, diminui o efeito do ressecamento das raízes, que desencadeia a produção de etileno e ácido abscísico e, por consequência, a senescência das folhas.
As plantas passam a apresentar maior tolerância à seca devido à proteção proporcionada pela deposição de silício nas paredes celulares, mas também devido à ação hormonal e enzimática.
Gramíneas como o trigo, arroz e cana-de-açúcar são espécies acumuladoras de silício e tendem a apresentar melhores resultados quanto à adubação silicatada. Contudo, em outras culturas, como a soja, é possível obter vantagens quanto à utilização do silício.
Os benefícios se estendem ao período pós-colheita, pois plantas adubadas com silício apresentam melhor tempo de prateleira. No entanto, estudos precisam ser desenvolvidos para avaliar os efeitos conforme a espécie de interesse.
Custo-benefício
O custo-benefício da adubação silicatada é bem baixo, se levarmos em consideração que a fonte de silício pode ser o rejeito da siderurgia, ou mesmo casca de arroz carbonizada, que contém alta concentração do elemento.
O uso de adubos químicos à base de silício apresenta preço bastante acessível, com preço médio de R$ 29,90 o quilo a R$ 59,90 o litro de silicato de potássio. Quando se leva em consideração os benefícios proporcionados, o custo acaba sendo mínimo.
A aplicação pode ser tanto via solo como via foliar, sendo a eficiência e o custo variáveis, no entanto, ambos os métodos de aplicação apresentam efeitos benéficos às plantas.
Cuidados
Apesar dos benefícios já citados, é preciso conciliar o uso da adubação silicatada com boas práticas de cultivo. Mesmo que alguns estudos apontem que o uso do silício reduz a presença de alumínio tóxico no solo, a análise de solo e calagem continuam sendo técnicas indispensáveis para garantir rendimento dos cultivos.
Da mesma forma, ao utilizar o silício como indutor de resistência contra pragas e doenças, o monitoramento e implantação de táticas de manejo integrado de pragas e doenças é indispensável, pois não existe técnica infalível e 100% eficaz, sendo a adoção de táticas conjuntamente a melhor saída para manejar os cultivos.
Na redução do estresse do déficit hídrico, o silício pode ser um aliado, podendo reduzir os efeitos adversos da falta de água. No entanto, é preciso relembrar que há uma relação íntima entre plantas e a água e que toda a produção de energia está ligada à quebra da molécula de água e posterior formação de ATP (adenosina – trifosfato).
Sendo assim, a adubação silicatada serve como um atenuador de estresse e efeitos deletérios da seca, promovendo maior tolerância das plantas, sendo pouco eficiente em casos de escassez hídrica severa.