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Tecnologia biológica combate fungos pós-colheita

Há um desafio emergente em se lidar com as doenças fúngicas nos pós-colheita, principalmente em países que exportam frutas e hortaliças, como o Brasil.

Antônio Oliveira de Brito Júnior
Gerente Técnico de Fitossanidade da Agrícola Famosa S/A
britojrxcx@gmail.com

Camile Dutra Lourenço Gomes
Engenheira agrônoma e doutoranda em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
camile.dutra@unesp.br

O setor de pós-colheita é crucial para o mercado de hortifrúti, pois é nesse momento que as técnicas empregadas, tanto durante o cultivo quanto após a colheita, irão definir aspectos importantes para a sanidade e qualidade das frutas e hortaliças.

Crédito: Shutterstock

O surgimento das chamadas doenças pós-colheita, como as podridões pedunculares em algumas cucurbitáceas como melão e melancia, causa inúmeros prejuízos econômicos.

Isso porque elas tornam as frutas e hortaliças impróprias ou indesejáveis para consumo. Mas, essas doenças podem ser evitadas ou, ao menos, reduzidas em relação à severidade e frequência, por meio de diferentes técnicas.

O que fazer

A técnica mais comum no combate a doenças de origem fúngica em pós-colheita é a aplicação de ativos químico-sintéticos.

Por meio de diferentes tecnologias de aplicação, que variam de acordo com o alvo a ser combatido e com a fruta ou hortaliça em tratamento, esses fungicidas têm sido utilizados extensivamente por muitos anos.

Entretanto, muitos ativos para aplicação em pós-colheita têm sido alvos de proibições em diferentes países. A legislação que leva em conta os limites de resíduos e como esses resíduos afetam a saúde dos consumidores está cada vez mais rígida.

Assim, há um desafio emergente em se lidar com as doenças fúngicas nos pós-colheita, principalmente em países que exportam frutas e hortaliças, como o Brasil.

Aliado no manejo

O manejo desse conjunto de doenças, todavia, ganhou um aliado. O avanço no desenvolvimento de produtos com ativos biológicos, em especial microbiológicos, tem proporcionado produtos de qualidade e boa eficiência no mercado.

A utilização de bactérias e fungos benéficos é interessante, pois diminui a dependência de produtos químicos, sendo uma alternativa sustentável, ecológica e aceita por diferentes legislações ao redor do globo.

A aplicação dos produtos biológicos pode ser feita de diferentes maneiras. O modo mais comum e fácil é a submersão de frutos. Essa aplicação é capaz de recobrir todo o fruto, garantindo uma dispersão homogênea do(s) ativos(s) microbiológico(s).

Volume e tempo de aplicação

A depender do volume e tempo de contato aplicados, é necessário um tempo de secagem que deve ser considerado na cadeia de produção pós-colheita. É possível, também, a aplicação localizada nas regiões das frutas e hortaliças em que os fungos crescem com maior frequência.

Esse tipo de aplicação pode inibir diretamente o crescimento de hifas ou a germinação de esporos que tenham infectado o produto agronômico em campo ou durante o transporte para o tratamento pós-colheita.

Também é provável que tenha maior eficiência em relação ao banho, a depender da doença que se deseja combater. Uma desvantagem da aplicação localizada é a necessidade de um número maior de trabalhadores ou maquinários especializados nessa função. A implementação desses produtos a algumas ceras também pode ser levada em conta.

Importante saber

É importante que seja considerada, na utilização de tais tecnologias biológicas, a epidemiologia das doenças. Entender quais são as doenças que mais incidem (época, frequência e severidade) no pós-colheita da cultivar e identificar os agentes causais pode auxiliar bastante na escolha do produto biológico a ser usado.

Isso é especialmente importante se a doença é causada por fungos com uma alta diversidade genética, metabólica e patogênica, como por exemplo Colletotrichum spp. (causadores de antracnose em manga, mamão e uva) e Penicillium spp. (causadores de bolores em citros).

Cuidados

Por se tratarem de ativos microbiológicos vivos, é de suma importância compreender que devem ser dadas condições de persistência para que esses microrganismos benéficos possam atuar no combate às doenças de pós-colheita.

Geralmente, microrganismos como Bacillus spp., Pseudomonas fluorescens e Trichoderma spp. necessitam de condições específicas de temperatura e umidade, não aceitando condições extremas (altas temperaturas e baixa umidade).

Portanto, durante a cadeia de transporte e armazenamento devem ser respeitadas tais condições, podendo haver uma grande perda de eficiência da atividade antifúngica e de persistência dos ativos.

Pesquisas

Recentemente, Bacilus subtilis cepa BV02 tem se destacado no combate ao mofo cinzento (Botrytis cinerea) e podridão verde dos frutos (Aspergillus ochraceus). O produto Bio-Imune® (Vittia) é registrado no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para o combate de diversas doenças que podem atacar frutas e grãos em pós-colheita e possui B. subtilis BV02 como ativo.

Fungos pós-colheita encontrados em HF
Fotos: Antônio de Brito Júnior

Além disso, muitas pesquisas têm demonstrado o potencial inibitório de alguns Bacillus spp. frente a fungos fitopatogênicos de pós-colheita.

Uma parceria entre a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a Simbiose Indústria e Comércio de Fertilizantes e Insumos Microbiológicos foi firmada para produção de um biofungicida à base da bactéria B. velenzis linhagem CMRP4489, que inibe em até 90% o crescimento de B. cinerea.

Novas cepas

Pesquisadores do Centro de Pesquisa e Assistência em Tecnologia e Design do Estado de Jalisco (CIATEJ, México) comprovaram a eficiência de uma cepa do actinomiceto Streptomyces sp. linhagem CACIS-1.5CA como agente antagonista contra os fungos Alternaria sp. (pinta-preta em tomate), Aspergillus sp. (podridão em laranja), Botrytis sp. (mofo cinzento em tomate), Colletotrichum spp. (antracnose em banana e pimenta), Rhizoctonia sp. (podridão em manga) e Rhizopus sp. (podridão em uva).

Além disso, observaram que o extrato contendo os metabólitos desse actinomiceto inibiu a germinação de esporos de alguns desses fungos em percentuais que variaram de 92 a 100 %.

Esse estudo é um forte indicativo de que existem diversas cepas em potencial para a formulação de produtos eficazes e eficientes no pós-colheita de diferentes culturas.

Potencial patogênico

Levando em conta o grande número de culturas nas quais esses produtos podem ser aplicados, um dos pontos mais importantes para o estabelecimento do tratamento biológico em pós-colheita é ponderar o potencial patogênico e alérgeno de tais produtos.

É necessário assegurar que o produto utilizado não seja capaz de causar doenças ou alergias em humanos e outros animais e que seus resíduos não causem desordem em ecossistemas.

Portanto, cabe às empresas formuladoras garantirem produtos puros e sem contaminantes indesejados, bem como aos produtores cobrarem a presença dos ativos e analisarem o que está presente também nesses produtos.

Em síntese, como são produtos capazes de multiplicação sob condições ideais, é fundamental que sejam comprovadamente seguros do ponto de vista médico, alimentar e agronômico.

Carência nos alimentos

Quanto à qualidade das frutas submetidas ao tratamento biológico, é observado que a aplicação desses produtos causa menos danos às partes mais externas das frutas, por exemplo, há poucos relatos da presença de queima ou precipitação em frutos.

Como os microrganismos combatem diretamente as doenças, é esperado também um aumento no shelf life das frutas e hortaliças, o que impacta diretamente na diminuição do desperdício e preço.

Desafios

Alguns dos maiores desafios, nesse contexto, são o entendimento de quais linhagens de microrganismos são mais eficientes no combate às doenças de pós-colheita, como manter a persistência dos microrganismos benéficos e a melhoria da cadeia de produção desses ativos microbiológicos, que é dificultada pela difícil logística em países grandes, como o Brasil.

Além disso, é importante que haja divulgação de dados concretos sobre a eficiência desses produtos, afim de quebrar o paradigma que existe na cabeça de produtores que possuem preferência pelo manejo químico.

A partir do que vem sendo construído e aqui relatado, está claro que a tecnologia biológica já é uma realidade no campo e vem se tornando cada vez mais presente na pós-colheita do hortifrúti.

Todos os avanços e desafios a serem superados apontam para um futuro brilhante e sustentável na sanidade e qualidade de frutas e hortaliças submetidas ao tratamento biológico.

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