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Altas temperaturas aumentam incidência de percevejos

As altas temperaturas não apenas marcam o verão, mas também intensificam a presença dos percevejos, demandando estratégias eficientes para proteger as lavouras.

Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com

Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@unipar.br

Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia/Horticultura e professores – UNIPAR/Umuarama (PR)

As temperaturas mais altas aceleram o desenvolvimento das pragas, em geral, levando a um aumento na taxa de reprodução e no número de gerações. Dentre as pragas da cultura da soja, os percevejos e as lagartas ocupam os primeiros lugares e devem ser muito bem conhecidos para que o controle seja realmente efetivo.

Danos  das lagartas na soja
Crédito: Claudinei Kappes

Além disso, é fundamental conhecer o ciclo de vida dessas pragas e saber identificar outras características de cada espécie relativas às influências abióticas, como temperatura e umidade.

Condições para as pragas

A flutuação de pragas refere-se à dinâmica de populações de insetos durante um dado período. Este fenômeno depende do substrato de alimentação, oviposição, abrigo, condições climáticas favoráveis, população de inimigos naturais, além da fecundidade da população, dentre outros fatores.

A flutuação das populações é um fenômeno natural, que pode ser influenciado por fatores bióticos e abióticos, além de sofrer interferência do manejo aplicado.

Dentre os fatores abióticos, podemos destacar o efeito da temperatura, que exerce elevada influência no estabelecimento e reprodução das pragas, não somente na cultura da soja.

A temperatura elevada do verão faz com que haja maior número de gerações de inseto, isso porque esses indivíduos são responsivos ao acúmulo de graus-dias. Desta forma, altas temperaturas reduzem o tempo necessário para o seu desenvolvimento, aumentando o número de gerações por ciclo da cultura.

Além disso, a maior umidade, disponibilidade de plantas para abrigo e alimentação, proporcionam um aumento populacional significativo.

Algumas espécies podem se favorecer de períodos com baixa disponibilidade hídrica e emissão de raios UV (ultravioletas), como ocorre com tripes e pulgões. Contudo, percevejos e lepidópteros têm melhor adaptação a períodos quentes e chuvosos.

Principais pragas da soja

A cultura da soja é acometida por diversas pragas, sendo o percevejo-marrom-da-soja uma das principais. Outros percevejos acometem a cultura da soja, sendo eles: Nezara viridula e Pjezodorus guildinii (Hemiptera: Pentatomidae).

Contudo, além deste, podemos destacar problemas com mosca-branca [(Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae)], tripes (ordem Thysanoptera) e o complexo de lagartas composto pela Spodoptera spp. (Lepidoptera: Noctuidae), Chrysodeixis includens [Lepidoptera: Noctuidae], Rachiplusia nu [(Guenée) Lepidoptera: Noctuidae], Anticarsia gemmatalis [Lepidoptera: Noctuidae] e Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae).

Com o advento da soja intacta, muitos dos problemas com lagartas tiveram uma redução significativa durante um tempo, contudo, tem sido relatada a quebra de resistência em diversos locais, o que fez com que muitas dessas pragas ressurgissem.

Figura 1. Ciclo reprodutivo do percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii) (A), percevejo verde (Nezara viridula) (B) e percevejo-marrom-da-soja (Euschistos heros) (C).
Ilustração: G. L. M. Rosa, 2012.

Danos

Os percevejos provocam danos diretos ao grão de soja. Se considerarmos uma população de 1,0 percevejo por metro quadrado, a população por hectare será de 22.222 indivíduos, o que pode levar à perda de 26,2 kg. ha-1 em um período pequeno de 15 dias.

Além disso, os danos da alimentação dos percevejos comprometem a qualidade da semente, reduzindo o vigor e a germinação, tornando o manejo destes indivíduos, essencial para garantir boa produtividade da cultura.

Os lepidópteros-praga são outro problema no cultivo da soja, havendo um aumento populacional significativo no verão. Muitas dessas pragas são polífagas e conseguem migrar para outras culturas, ou mesmo concluir seu ciclo em plantas daninhas.

As lagartas Rachiplusia nu e Chrysodeixis includens (Figura 2 A e B), recebem o nome comum de falsa-medideira, ambas as espécies apresentam lagartas com coloração verde claro, com formação corporal muito parecidas, ovos grandes com coloração amarelo e com elevada capacidade de consumo de material vegetal. Os adultos são mariposas de cores escuras, acinzentada no caso da R. nu e marrom no caso da C. includens (Figura 2A e 2B). O ciclo de vida da Rachiplusia nu, de ovo a adulto é em média de 24 dias, enquanto o de C. includens 25 dias

Figura 2. Ciclo reprodutivo de Rachiplusia nu, Anticarsia gemmatlis e Chrysodeixis includens (Fonte (A e B): Moscardi et al., 2012, ilustrações: G.L.M. Rosa) (Fonte (C): Diana Sujey Rumay Saldaña).

A Anticarsia gemmatalis, tem duração de mais ou menos 26 dias de ovo a adulto (Figura 2 C). O consumo vegetal desses desfolhadores é elevado, variando entre 80 a 100 cm², sendo essencial o posicionamento de ferramentas de controle para reduzir os danos.

Técnicas de controle

A principal ferramenta de manejo para as pragas que ocorrem na soja ainda é o uso de controle químico, contudo, diante do desafio do manejo de pragas e da necessidade de garantir o rendimento da cultura, tem-se investido em outras formas de manejo.

O controle biológico do percevejo-marrom-da-soja através da liberação massal de parasitoide de ovos, o Telenomus podisi (Ashmead) (Hymenoptera: Scelionidae) tem se tornado um grande aliado no manejo da praga, havendo elevada procura por este bioinsumo.

Seu controle se dá pelo parasitismo dos ovos, promovendo a redução populacional e evitando que o dano ocorra (Figura 3). 

Figura 3. Telenomus podisi em ovos de Eushistus heros.
Fonte: Koppert

No caso dos lepidópteros-praga, o uso do controle biológico por meio da liberação de microvespas parasitoides de ovos tem a capacidade de entregar eficiência acima de 80%, reduzindo significativamente a população de pragas.

O principal parasitoide utilizado para este fim é o Trichogramma spp., o principal agente de controle biológico utilizado no mundo. O parasitoide deposita seus ovos no interior dos ovos das pragas, que após 72 horas apresentam uma coloração cinza chumbo e, em média, 10 dias após o parasitismo ocorre a emergência de novas vespas, que emergem e buscam ovos para o forrageamento (Figura 4).

O uso de parasitoides de ovos proporciona o manejo e redução significativa dos danos provocados pelas pragas, pois evita que haja a emergência e, consequentemente, a alimentação.

Figura 4. Ciclo de vida do parasitoide de ovos Trichogramma spp.
Ilustração: Franciely Ponce.

Atualidade

O uso de microbiológicos tem sido uma alternativa bastante promissora no cultivo da soja, havendo atualmente diversos microrganismos passiveis de serem utilizados nesta cultura (Tabela 1).

Tabela 1. Microbiológicos registrados para a cultura da soja.

MicrorganismoPraga alvo
Bacillus thuringiensisLepidópteros-praga
Metarhizium anisopliaePercevejos da soja (espécies dos gêneros Nezara e Piezodorus).
Beauveria bassianaLepidópteros-praga, percevejos.
Isaria fumosoroseaBemisia tabaci

As pesquisas na área agrícola têm contribuído para a redução da seleção de populações de insetos-praga resistentes, auxiliando na redução do dano proporcionado pelas pragas, além de aumentar a eficiência do manejo e, consequentemente, a produtividade em campo.

Como principais perspectivas, tem-se o crescimento do ramo de biológicos, de forma a atender o mercado em qualidade e quantidade, com resultados cada vez mais atrativos, tornando a produção menos dependente de agrotóxicos e mais sustentável.

Por se tratarem de tecnologias menos danosas ao meio ambiente, o uso de ferramentas de controle biológico são estratégias muito promissoras, sendo um dos setores que mais cresce. Há a tendência de se tornarem a principal ferramenta de controle de pragas nos próximos anos, devido à eficiência.

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