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A dança das abelhas

Na realidade, a dança tem dois componentes, a dança do requebrado e a dança circular, que fazem parte de uma transição contínua.

Por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável

As abelhas dançam. Não para se divertir, mas para compartilhar informações, com outros indivíduos da mesma colônia, acerca da direção e da distância até fontes de alimentos ou água ou novos locais de nidificação, que são recursos importantes para as abelhas. Foi o cientista austríaco Karl von Frisch quem primeiro descreveu o significado da dança das abelhas, em 1940. Fruto de seus estudos sobre etologia das abelhas, von Frisch recebeu o Prêmio Nobel em 1973

Na realidade, a dança tem dois componentes, a dança do requebrado e a dança circular, que fazem parte de uma transição contínua. A dança circular é realizada se o recurso está perto da colmeia; a dança de transição é executada quando o recurso está a uma distância superior a 30 metros da colmeia. À medida que a distância entre o recurso e a colmeia aumenta, a dança circular se transforma em variações de uma dança de transição, que, ao comunicar recursos a distâncias ainda maiores, torna-se a dança do requebrado. Veja um vídeo da dança em Link, produzido pelo Dr. Heber Pereira, que é nosso pós doutorando, na Embrapa Soja.

A dança do requebrado consiste em até 100 circuitos, cada um dos quais se compõe de duas fases: a do requebrado e a e de retorno. A dança também segue um padrão. Imagine uma figura que lembre um “oito”. Primeiro a abelha executa um semicírculo, seguido por uma corrida de balanço (requebrado). Então ela vira à direita e prossegue de volta ao ponto de partida — a fase de retorno. Recomeça a sequência de semicírculos e requebrados, com alternâncias regulares entre as curvas à direita e à esquerda, durante as corridas de balanço.

Ao executar a dança, as abelhas dançantes produzem e liberam dois alcanos (tricosano e pentacosano) e dois alcenos ((Z)-9-tricoseno e (Z)-9-pentacoseno), que atuam como estímulo para o recrutamento das demais abelhas operárias, para dirigir-se ao local indicado pela dança . Elas também trazem um pouco do néctar da flor que visitaram, para atrair as observadoras e facilitar a localização da sua fonte, para as abelhas que seguirem a orientação da dança.

A direção e a duração da dança do requebrado estão intimamente correlacionadas com a direção e a distância do recurso que é anunciado pela abelha que executa a dança. A distância entre a colmeia e o alvo de recrutamento é codificada na duração das corridas de requebrado. Quanto mais longe está localizado o recurso, mais demorada é a fase de requebrado. Destarte, a frequência da vibração da dança das abelhas e o número de requebrados têm relação com a distância do recurso a ser buscado.

As dançarinas ajustam suas danças para criar um ângulo, em relação à direção do sol, na saída da colmeia. Von Frisch observou que, quando a abelha dançava para cima, significava que deveriam voar em direção do sol. Os movimentos descendentes informavam às abelhas para se afastarem do sol. As abelhas também calibram os ângulos de suas danças para acomodar a mudança de direção do sol, ao longo do dia. Portanto, as abelhas que seguem o movimento da dança são conduzidas corretamente à fonte de alimento, mesmo que seu ângulo em relação ao sol tenha mudado.

Quanto mais empolgada a abelha estiver com o local do recurso, mais velozmente ela se moverá, com o objetivo de convencer as demais abelhas o mais rapidamente possível. Isso porque, se várias abelhas estão dançando — informando diferentes locais de fontes de recurso – existe uma competição interna na colônia para convencer as abelhas observadoras a seguirem seu exemplo. Abelhas concorrentes podem até atrapalhar as danças de outras abelhas, ou mesmo lutar umas contra as outras, na disputa por quem convence mais operárias a seguir suas orientações.

Finalmente, outra particularidade surpreendente: se uma abelha encontra outra abelha morta em uma flor, ela executa muito menos danças ao retornar à colmeia, o que pode ser atribuído ao fato de as abelhas associarem a abelha morta à presença de um predador na fonte de alimento. A redução da frequência de repetição da dança, portanto, indica que as abelhas dançarinas executam e comunicam uma forma de análise de risco/benefício (Link).

Figura 1. A dança cria uma figura virtual em forma de “oito”. A abelha “dançarina” percorre um semicírculo, que inicia a fase do requebrado. O alinhamento do requebrado mostra a declinação angular em relação ao sol; e o tempo de duração da dança mostra a distância da colmeia até a fonte de alimento, água ou outro recurso.

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