Por Ricardo Nicodemos
Quando a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) divulgou um relatório que mostra que o agronegócio brasileiro é responsável por alimentar cerca de 10% da produção mundial, outro dado veio à tona: muita gente conhece pouco do que o campo brasileiro faz. Não vamos defender que todos tenham o conhecimento técnico que é próprio do setor, de quem faz acontecer a produção de alimentos, energia renovável e fibras para tecidos no País. Mas saber das origens do que consumimos e reconhecer um trabalho que tem ajudado o Brasil a se manter em pé é um direito do cidadão.
As 800 milhões de pessoas que consomem alimentos produzidos aqui estão espalhadas pelos cinco continentes. Frutas, carnes e grãos atravessam diariamente os oceanos para ajudar a alimentar países como China, Estados Unidos e União Europeia, três dos maiores compradores dos nossos produtos agropecuários.
A pandemia tem se mostrado um capítulo triste na nossa história. Economia impactada, vidas perdidas e novos desafios de gestão são alguns exemplos deste período que ficarão para a história. O campo brasileiro, por ser parte atuante da nossa sociedade, não ficou de fora. No ano passado, a população ocupada no agronegócio foi de 17,3 milhões de trabalhadores, uma queda de 5,2% (ou de 949 mil pessoas) se compararmos a 2019. Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Como o impacto foi ainda maior nos outros setores, com queda de 7,9% no total de pessoas ocupadas, o agro se mostrou mais resistente, uma força econômica que coloca o Brasil em destaque entre os primeiros produtores de alimentos. E o trabalho do campo incentiva indiretamente outros setores econômicos como o varejo, a logística e serviços.
O isolamento social adotado como tentativa de conter o avanço do coronavírus não impediu o consumo de alimentos também no mercado interno. O PIB do agronegócio cresceu 23% em 2020, chegando a quase dois trilhões de reais.
Analisar estes dados nem sempre é tarefa simples. O campo é uma área diversificada e, há décadas, tem investido em tecnificação e ampliação de mercados. O mosaico é tão grande que uma empresa fabricante de insumos consegue ser radicalmente diferente de uma prestadora de agrosserviços. E as duas são essenciais! Essa riqueza de funções tem ajudado a movimentar, inclusive, a geração de empregos, mesmo em tempos difíceis. Novas funções têm surgido no campo, com destaque para as áreas de tecnologia, logística, comércio exterior e segurança alimentar.
Em 2021, ao finalizarmos a safra em abril, devemos colher novos números surpreendentes. É nossa tarefa, das pessoas que trabalham com o campo, apresentar e ajudar a decifrar estes dados. A carne, a manteiga, o arroz e feijão, até mesmo as roupas e o combustível usado nos carros, tudo isso se conecta diretamente com o agronegócio.
Pecuaristas, produtores de grãos e hortifrutigranjeiros são alguns exemplos de perfis de produtores rurais que temos hoje no Brasil. Presentes nos 26 estados, eles enfrentam desafios que são específicos do setor, como ataques de pragas na lavoura e logística para escoamento da produção. Sul e Nordeste têm perfis produtivos muito distintos, o que nos leva a atravessar o País para entregar alimentos.
A maior conexão entre a cidade e o campo ajuda os dois lados da moeda: o campo pode mostrar o que tem feito em termos de produção, segurança alimentar e sustentabilidade, e o consumidor urbano pode conhecer a origem dos alimentos, ampliar as possibilidades de carreira e acompanhar um setor que ajuda a movimentar a economia.
Os números são relevantes para mostrar o que o campo brasileiro tem feito. Mas eles são coadjuvantes quando pensamos nas pessoas que fazem a engrenagem funcionar: mais do que nunca, o agronegócio é feito de nomes e sobrenomes espalhados pelo Brasil inteiro e é graças a eles que temos alimentos disponíveis todos os dias.
*Ricardo Nicodemos é diretor da RV Mondel e Vice-Presidente da ABMRA – Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio. É coordenador do movimento Todos A Uma Só Voz, criado para conectar o agro à sociedade brasileira, valorizando a pluralidade e motivando a empatia pelo setor. Conta com participação de diversas entidades do agronegócio para unir toda a cadeia produtiva em uma única plataforma de comunicação.