Carlos Gilberto Raetano
Professor do Departamento de Proteção Vegetal – Faculdade de Ciências Agronômicas ” FCA/UNESP ” Campus de Botucatu
Diego Miranda de Souza
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Agronomia ” Proteção de Plantas ” Unesp/FCA ” Campus de Botucatu
Alcançar um bom controle fitossanitário da lavoura é essencial para o desenvolvimento dos cultivos ao longo do seu ciclo produtivo. Adicionados às caldas dos defensivos, os adjuvantes agrícolas facilitam a aplicação do defensivo, permitindo uma maior cobertura da planta e menor grau de evaporação do produto. Com isso, evita-se o desperdÃcio e potencializa-se o controle de pragas e doenças.
Quem são eles
Os adjuvantes são substâncias adicionadas à formulação de produtos fitossanitários ou à calda (líquido resultante da diluição de formulações), com vistas à melhoria do desempenho dos produtos fitossanitários, minimização de riscos à saúde humana e ao ambiente e possível redução dos custos de aplicação.
A necessidade de ação regulatória no uso e a certificação funcional dos adjuvantes, aliados à interação complexa existente entre alvo, produto fitossanitário, adjuvante e ambiente são fatores que dificultam a seleção desses produtos na agricultura brasileira.
Apesar de classificá-los pela academia como ativadores ou modificadores junto à calda de pulverização, na prática não há uma classificação oficial estabelecida pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), considerando a funcionalidade desses produtos. Nas bulas e rótulos, na maior parte das vezes, são classificados como adjuvante e espalhante adesivo.
Vantagens
Pelos benefícios que podem trazer à aplicação dos produtos fitossanitários, os adjuvantes constituem importante ferramenta no manejo de pragas, doenças e plantas daninhas.
Contudo, a legislação nacional possui lacunas que permitem que produtos contendo nutrientes, inoculantes e biofertilizantes sejam comercializados como adjuvantes, mesmo na ausência de certificação oficial da funcionalidade destes produtos.
A normalização brasileira, no processo de registro dos adjuvantes, dificulta a escolha correta desses produtos e estimula a presença de inúmeras empresas no mercado. Portanto, torna-se necessária a recomendação imparcial de um Engenheiro agrônomo no uso desses produtos, com base nas propriedades pertinentes e no benefÃcio que o adjuvante pode trazer à aplicação.
Mitos e verdades
Muito se questiona sobre a real necessidade do uso de adjuvantes em pulverização ou em outras formas de aplicação. A adição de um adjuvante à calda de pulverização deve respeitar as características de compatibilidade e recomendação de uso do produto fitossanitário selecionado.
Portanto, é pouco provável que o mesmo adjuvante possa ser a melhor opção para todas as aplicações fitossanitárias. O uso de adjuvante não implica em incremento de produção agrícola, mas pode ser uma ferramenta importante para minimizar perdas e reduzir custos de produção com menor frequência de aplicações na área de cultivo.
O uso de adjuvantes junto à calda de pulverização dos produtos fitossanitários pode contribuir para a redução de problemas físicos como evaporação, fotodegradação, deriva (arrastamento de partículas e gotas para fora da área tratada durante e após a aplicação), escorrimento, formação de espumas em demasia e incompatibilidade entre produtos em mistura, bem como na redução de problemas químicos, como perda da molécula por hidrólise, ou ainda perda da eficácia no controle dos agentes nocivos às plantas por reação com outros produtos em mistura (antagonismo).
Figura 1: MADUREIRA, R.P.; RAETANO, C.G.; CAVALIERI, J.D. Interação pontas-adjuvantes na estimativa do risco potencial de deriva de pulverizações. Agriambi, v.19, n.2, p.180-185, 2015.
Adjuvantes à base de lecitina de soja associados ao ácido propiônico, óleos de origem vegetal ou mineral em aplicações com volumes baixos e polímeros à base de poliacrilamida podem auxiliar no controle da deriva, possibilitando que maior quantidade do produto atinja o alvo, com menos desperdÃcio da calda aplicada.
Outro ponto que merece destaque é a interação adjuvante e pontas de pulverização na deriva dos produtos fitossanitários. O potencial risco de deriva pode variar quando diferentes adjuvantes na calda de pulverização são aspergidos por pontas de pulverização distintas.
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