Claudinei Kappes, pesquisador da Fundação MT, desenvolveu um experimento para avaliar a necessidade ou não de dobrar a adubação da soja quando o plantio é adensado. “O ensaio é conduzido pela Fundação MT há quatro anos consecutivos, e nesse tempo fazemos o dobro da adubação recomendada para essa condição de solo. A pesquisa visa estudar a viabilidade do aumento da população de soja visando o incremento de rendimento. Após quatro anos de pesquisa constatamos que nessa condição de solo, cuja fertilidade é muito boa, não há necessidade de aumentar a adubação, mesmo aumentando a população de plantas para incrementar seu rendimento“, avalia.
“AAgronomia não é uma ciência exata, como muitos pensam. Trabalhamos com algo biológico – a vida.Quando se tem uma população duas vezes a recomendada, existe o que chamamos de acamamento, um fenômeno que acontece na lavoura de soja quanto se tem muitas plantas competindo entre si por água, luz e nutrientes. Nestas condições, as plantas desenvolvemdemasiadamente a parte vegetativa, e quando chega à formação de vagem a planta de soja ‘deita’, diferentemente do milho, que é uma planta rÃgida e,portanto, tolera mais o acamamento. Uma lavoura de soja com plantas acamadas traz uma série de implicações“, explica Claudinei Kappes. A qualidade das aplicações de produtos químicos, principalmente de inseticida e de fungicidas, fica comprometida, porque é difícil chegar à parte mais inferior da planta em função de um maior fechamento das entrelinhas.
Portanto, aumentar a adubação duas vezes o recomendado acreditando no dobro de produtividade não é verdadeiro. Raramente, em alguns casos pontuais, o pesquisador diz que há ganho de duas sacas a mais por hectare, com a dose dobrada do fertilizante, o que não justifica o investimento. Pelo contrário, pode haver efeito negativo e até reduzir a produtividade e o rendimento devido à maior dificuldade de manejar pragas e doenças.
Mudando para um cenário de solo pobre, Claudinei Kappes afirma que o fato de dobrar a adubação pode sim trazer uma boa resposta, e é o que se espera. Mas, com o aumento de população, acreditamos que o efeito seja similar ao de um solo com alta fertilidade.
Cada caso é um caso
Existem cultivares que dependem muito do hábito de crescimento. Aquelas que não emitem ramificações laterais têm possibilidade demaior adensamento.Num espaçamento de 45 cm entre linhas, por exemplo, essa cultivar permite 20 plantas por metro linear.
Já um material que emite muitas ramificações, no mesmo espaçamento, é possível o produtor colocar de oito a 13 plantas por metro, por se tratar de um material que consegue engalhar mais. Então, há um posicionamento para cada cultivar, levando em consideração o hábito de crescimento; como a planta se comporta em relação à emissão de ramos laterais, se o crescimento é rápido, etc. A obtentora da tecnologia se baseia em todos esses critérios para a recomendação de mercado.
“Quando se tem uma cultivar que emite poucas ramificações, o produtor obrigatoriamente tem que colocar mais plantas por metro para ter um teto produtivo bom. Assim, se houver falhas, o espaço ao lado não será compensado, porque a planta não engalha, diferente de uma cultivar que engalha. A ocupação eficaz desse espaço circunvizinho pelo engalhamento é chamada de plasticidade“, define o pesquisador.
Em ummetro linear, comparando ambas as cultivares, a que engalha bem com menor número de plantas e a que não engalha, com mais plantas por metro, Claudinei Kappes confirma que as produtividades tendem a ser muito próximas.