O Brasil é o terceiro maior produtor de milho do mundo e a expectativa é de aumento de 12,5% na safra de 2022/23 – atingindo o recorde histórico de 127 milhões de toneladas segundo estudo da Conab. Para atingir esta marca, os produtores contaram com um aliado importante: a agricultura digital. Segundo o estudo Guia do Milho, realizado pela Climate Fieldview, 75% usam o recurso na lavoura.
A pesquisa entrevistou agrônomos, donos de fazenda e profissionais de agricultura digital e apontou para duas ferramentas como as mais utilizadas: os softwares de monitoramento, adotados por metade dos produtores, e soluções de previsão climática, usadas por 25%.
Só 12,5% dos produtores de milho usam telemetria agrícola
Entre as tecnologias utilizadas, a telemetria agrícola é a menos usada: só 12,5% dos produtores de milho optam por ela. Com o uso de sensores nos equipamentos da fazenda, esta tecnologia permite a coleta de dados sobre o desempenho do maquinário – e evitar prejuízos decorrentes do mal funcionamento.
Segundo o Guia do Milho, dois recursos dividem a preferência dos produtores: a tecnologia de clima e a tecnologia agronômica. Cada uma é usada em 43,8% das lavouras brasileiras que produzem o grão.
Enquanto a primeira oferece previsões climáticas com antecedência de maneira precisa e traçar estratégias mais assertivas cuidar da lavoura, a segunda ajuda a monitorar, gerir e identificar riscos à qualidade do milho.
Investimento em agricultura digital atingirá US$ 8,33 bilhões até 2026
Para os produtores de milho, a agricultura 4.0 oferece maior eficiência à produção. Segundo a Climate Fieldview, os principais benefícios entre os pesquisados são a aceleração do plantio e da colheita, acesso a dados e informações precisas e monitoramento da lavoura em tempo real.
O controle de doenças e precisão de plantio, aliado à homogeneização do perfil do solo são outros impactos positivos da tecnologia apontados pelo estudo. Não à toa, o uso das soluções tecnológicas para a agricultura são crescerão 183% até 2026. Segundo estudo da 360 Research & Reports, este mercado atingirá o valor de US$ 8,33 bilhões.
“A gestão de informações com plataformas inteligentes e uso de satélites é um caminho sem volta”, explica o pesquisador Fernando Miguel Scaramuzza, do Instituto Nacional de Tecnologia Agrícola.
Já o professor Antônio Luís Santi, da Universidade Federal de Santa Maria, trata-se de um momento promissor para o setor. No entanto, o foco na qualidade é central para o uso da tecnologia na produção de milho. “O importante não é a quantidade de dados, e sim, o que fazemos com as informações que realmente importam”, explica.
Profissionalização para o uso de tecnologia é o desafio de 62,6% dos produtores
Segundo 360 Research & Reports, a agricultura digital será responsável pela criação de 178,8 mil vagas de emprego. No entanto, os produtores de milho enfrentam desafios para usá-la.
A Climate Fieldview constatou que a profissionalização é o principal, citado por 62,6% dos entrevistados. Enquanto 43,8% enfrentam dificuldades na hora de encontrar profissionais qualificados, 18,8% apontam para a baixa oferta de cursos profissionalizantes.
Outros obstáculos constatados pelo estudo são a conectividade e a conexão entre plataformas – lembrados, respectivamente, por 25% e 12,5% dos produtores de milho.
Custos de produção preocupam 56,3% dos produtores de milho
No que tange às preocupações dos produtores de milho, os custos de produção estão no topo da lista: foram apontados por 56,3%. Já a oscilação do dólar vem em seguida, mencionada por 31,3% devido à margem de lucro e ao preço dos insumos utilizados.
O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária aponta para um aumento de 40% nos custos da produção de milho na atual safra. Entre o principal motivo está o custo de fertilizantes, responsáveis por 60% dessa alta. Isso se deve ao fato do Brasil importar 85% do insumo.
Neste contexto, a projeção da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) é de que o ano ainda sim seja favorável ao produtor. “Será um ano de margens menores, custos de produção ainda elevados, mas boa produção”, explica o diretor técnico Bruno Lucchi.
Para ele, a desaceleração da economia global fará com que importadores não aumentem a demanda. “Acreditamos que a quantidade exportada pelo Brasil aumentará porque teremos uma supersafra de grãos. Esperamos que o volume exportado anule a queda de preços”, conclui.